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terça-feira, 16 de outubro de 2018

VARIAÇÃO DAS VARIAÇÕES...

★★★★★☆
Título: Jurassic World: Reino Ameaçado (Jurassic World: Fallen Kingdom)
Ano: 2018
Gênero: Ação, Aventura, Fantasia
Classificação: 12 anos
Direção: J. A. Bayona
Elenco: Chris Pratt, Bryce Dallas Howard, Rafe Spall, Justice Smith
País: Estados Unidos
Duração: 128 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Ameaçada por um vulcão adormecido, uma cientista é incumbida a voltar para a Ilha Nublar e resgatar o maior número de espécies que conseguir para que uma nova extinção seja evitada.

O QUE TENHO A DIZER...
De volta em 1993, era um tanto óbvio que Jurassic Park se tornaria uma franquia. Mas a primeira trilogia mostrou que, embora o universo seja cativante, não havia história suficiente para tanto. O terceiro filme sofreu enormes críticas negativas, e a promessa de uma quarta aventura foi enterrada junto com o falecimento do autor Michael Crichton, em 2008.

Somente em 2010 as coisas voltaram a ser discutidas, e o sinal verde foi dado depois do 20º aniversário do primeiro filme. Foi então que Jurassic World surgiu, trazendo uma mudança emblemática no nome, pois era tanto uma continuação direta da série, como também um reboot.

O sucesso foi além do imaginado, e o filme arrecadou mais de US$ 1,6 bilhões no mundo todo, superando as expectativas e fazendo tanto estúdio, quanto produtores, confirmarem uma continuação em menos de um mês de exibição.

A tão aguardada continuação se deu principalmente pelo sucesso e química dos protagonistas, interpretados por Chris Pratt e Bryce Dallas Howard. A história em si, que sofreu transformações interessantes, agora partia do princípio que o tão sonhado parque finalmente havia se tornado realidade, e dava um ar de frescor a tudo que já havia sido abordado até então.

O melhor de Jurassic World foi em conseguirem fazer tudo parecer novo mesmo tendo muitas idéias requentadas. As referências constantes, principalmente aos dois primeiros filmes, conseguiram fazê-lo parecer inédito aos olhos dessa geração, mas uma grande homenagem aos olhos da geração que assistiu ao primeiro filme nos cinemas e saiu de queixos caídos com o festival de efeitos especiais e práticos que mudaram para sempre a História do Cinema e de quem presenciou uma experiência que foi única.

A empolgação que cresceu nas pessoas assim que os créditos finais de Jurassic World rolaram, foi a mesma empolgação com a qual Reino Ameaçado foi aguardado ao longo dos três anos que separa um do outro. Mas quando ele foi lançado, muita gente pareceu não ter tido tanta expectativa correspondida como se esperava.

Só que vamos ser verdadeiros e aceitar que já era esperado que, com tanta reciclagem de situações ao longo da série, era inevitável cair nas mesmas fórmulas e nos mesmos clichés que a própria série criou ao longo dos filmes. Aquela impressão de novidade que se teve no filme anterior, agora deu lugar a uma recorrência de deja vus que mais transformaram este segundo filme em uma refilmagem do que qualquer outra coisa.

A repetição de situações, cenas e idéias é tão grande quanto criar uma nova ilha quando a idéia acaba (como eles propõem aqui), ou destruir uma ilha com algum desastre natural para ter um novo ponto de partida na história (como fazem com o vulcão na Ilha Nublar agora, ou como já fizeram com o furacão na Ilha Sorna).

Aquela química interessante que existia entre os protagonistas se foi no momento que Bryce Dallas abandonou os saltos por um par de coturnos. O que acontece entre eles agora é uma tensão sexual infantil e absolutamente sem graça porque o número de personagens é tão grande quanto o número de situações paralelas para, assim, a impressão de dinamismo e ritmo acelerado da história seja mantido mesmo que não se tenha conteúdo suficiente para isso.

Sem falar dos diálogos óbvios na maior parte do tempo, como se o espectador fosse uma pessoa completamente demente e incapaz de assistir um filme sozinho, sem que seja carregado pela mão o tempo todo. Momentos onde muitas vezes só falta um saco de risadas no fundo para sinalizar a hora do espectador achar a situação engraçada, de tão sem graça que era.

Os dinossauros agora também são muito mais simpáticos e não mais répteis de comportamento primitivo. Tem cenas cômicas com dinossauros, cenas fofas com dinossauros, cenas tristes com dinossauros, cenas dramáticas e até uma lágrima de dinossauro que escorre. Dinossauros agora fazem graça, se comunicam com a câmera como se estivessem em um stand up, fingem que estão dormindo e desdenham de suas prezas com um sorriso maroto. Um verdadeiro festival de propagandas clássicas de como enfofar esses animais e fazer as pessoas morrerem de vontade de correr no pet shop mais próximo de casa para comprar um assim que o filme acabar.

Uma ridícula gourmetização para espremer emoção do espectador, risos fáceis daqueles que gostam de humor tonto e assim termos a idéia de que os bichos não são tão ruins assim. Eleva-se o tom cômico e fantasioso e ameniza-se o lado aterrorizante dos dois primeiros filmes originais, e dessa forma cria-se uma fantasia familiar inerte e desinspirada.

Existem momentos intragáveis por conta deste excesso de açúcar. Tudo isso acontece porque, no decorrer da série, os animais passaram a ser tratados como vilões, e não como espécies que simplesmente reagem ao se sentirem ameaçados. E assim como vilões, eles agora precisam de momentos de redenção, como agora ser de praxe o T-Rex sempre salvar o protagonista do perigo (resultando na manjada cena do "rugido do rei"), ou quando o Velociraptor adestrado resolve ficar "do lado do bem" e combater o "dinossauro do mau".

Esse maniqueísmo foi o que definitivamente estragou a série, sua narrativa e várias propostas interessantes que pudessem surgir. Algo que não ofendeu diretamente o que o primeiro Jurassic World apresentou, mas que aqui ofende porque é usado como saída fácil, e não como uma alternativa, um elemento de dispersão raro.

Os verdadeiros vilões da história, que são os humanos, aqui são tratados como cientistas malucos, inescrupulosos, dominados pela ira da ambição capitalista. Exagerados na caricatura, quase memes deles mesmos para serem mais engraçados do que vilões de fato.

Para quem resolver assistir ao menos os dois primeiros filmes originais para relembrar de como foram bons, irão perceber as inúmeras cenas similares que existem entre eles. Na época que foi lançado, o segundo filme já havia sido taxado como uma variação do primeiro, pois tanto seu desenvolvimento quanto diversas cenas eram muito similares. Mas aqui não existe vergonha nisso, sequer na composição do elenco, sempre tendo crianças para darem trabalho, sempre tendo aqueles que ficam pra trás, sempre tendo aqueles que ferem a perna, e (quase) sempre tendo apenas um ator negro para dizer que existe diversidade.

Mas outras referências boas também são perceptíveis, como Indiana Jones e o Templo da Perdição, (o momento em que estão escondidos, assistindo o leilão do alto, assim como vários acontecimentos posteriores, são muito parecidos com a cena em que Indiana assiste ao sacrifício no Templo). Talvez esta seja a referência mais (propositalmente ou não) óbvia delas porque o próprio personagem de Chris Pratt é uma releitura do Professor Jones. Também não pude evitar encontrar similaridades até mesmo nos jogos Resident Evil/Dino Crisis, por levar a situação de sobrevivência para dentro de uma mansão com laboratórios e outras instalações subterrâneas, como acontece nesses jogos, o que deixou a situação interessante.

Como um todo, é o mais fraco filme da franquia. Ainda consegue ser um evento grandioso como sempre é, cheio de espetáculos visuais e assim divertir como pode. Mas tal qual os anos, conseguiu também se distanciar do misto sutil entre ação e fantasia que os primeiros conseguiram ser, ao mesmo tempo que nenhuma, ou qualquer sagacidade deles foi mantida. Tudo poderia ter sido melhor, ou mais palatável, se não tivesse uma linguagem verbal e visual tão infantilizada e didática, elementos que sempre empobrecem filmes que tem o objetivo de atingir o maior número de pessoas possível.

É complicado quando é nítido que algo foi feito em cima de idéias esgotadas e de uma forma que tenta forçar uma conexão com o público que em nenhum momento consegue desenvolver naturalmente, porque todo o encanto se quebra, e a expectativa se afoga. Isso só fortaleceu a idéia de que Michael Crichton deixou um legado importante na ficção científica, mas que não consegue ser longevo.

O terceiro filme desta nova trilogia já foi anunciado, e agora resta saber o que de novo eles podem apresentar, ou se será apenas mais um festival de variação das variações.

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