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quarta-feira, 18 de outubro de 2017

TOSQUICE BEM FEITA...

★★★★★★☆
Título: A Babá (The Babysitter)
Ano: 2017
Gênero: Comédia, Terror, Suspense
Classificação: 14 anos
Direção: McG
Elenco: Samara Weaving, Judah Lewis, Bella Thorne, Hana Mae Lee, Robie Amell
País: Estados Unidos
Duração: 85 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Um garoto descobre que a babá por quem é perdidamente apaixonado não é exatamente tudo aquilo que imaginava.

O QUE TENHO A DIZER...
Não, este não é um remake do pseudo-clássico fetichista de 95, com Alicia Silverstone. E, ainda bem, está longe disso.

Mas, pra quem ver o título, provavelmente não vai se interessar. Quem ler a sinopse, talvez menos ainda. E se mesmo assim a pessoa insistir, a vontade será parar logo nos primeiros minutos. 

Mas persista. Persista porque haverá um determinado momento que algum diálogo ou alguma situação irá puxar sua atenção como a querer dizer que toda a tosquice presente é atraente.

Entupido de clichés e estereótipos, o propósito é exatamente esse, brincando com um tema sério e transformando o assédio moral (bullying) em argumento para um terror escrachado com final feliz. 

Por incrível que pareça, esse filme um tanto inusitado fez parte da blacklist de 2014, lista sobre os melhores roteiros que não foram produzidos, publicada anualmente. E como já é de tradição produzir aquilo que ninguém quer, coube à Netflix pegá-lo da prateleira empoeirada e colar seu selinho. 

Classificado como uma comédia gore, também tem diversos elementos do terror slasher, gênero de carreira duvidosa, cheia de altos e baixos, muito produzido nos anos 80 até saturar e desaparecer, voltar a virar moda nos anos 90 e decair novamente com sua nova saturação no começo de 2000. 

Hoje em dia este tipo de filme gera mais risadas do que qualquer outra coisa, causando zero espanto ou surpresa, o contrário do que a própria sequência de abertura de Pânico (Scream, 1996) um dia fez, revolucionando a maneira de se introduzir filmes no cinema mais atual. E embora A Babá se inspire em todos os títulos que incansavelmente reproduziram as mesmas fórmulas ao longo das décadas, ao mesmo tempo ele se destaca por não ser apenas uma repetição do mesmo tema. 

Que depois de Pânico nenhum filme do gênero foi levado mais a sério, isso é sabido de frente pra trás, já que o saudoso diretor Wes Craven, junto com o roteirista Kevin Williamson, transformaram a franquia em uma grande bíblia dos clichés com as tais "regras" que doutrinavam o comportamento dos filmes de terror adolescente e sua incrível previsibilidade. Sabiamente eles utilizaram a metainformação a favor do entretenimento e inovaram um estilo que estava estagnado enquanto o desconstruíam sem medo, causando a indignação e o ódio de muitos produtores. Era como Mister M revelar segredos mágicos, revoltando aqueles que viviam do negócio. Logo, quem conhece essa franquia, nunca mais conseguiu assistir um slasher movie da mesma forma, e nem o próprio cinema conseguiu fazê-lo da mesma forma.

Mas aqui a intenção não é fazer algo diferente, mas fazer o mesmo do mesmo. E mesmo SEM qualquer referência direta ao clássico de Wes Craven ou de qualquer outro diretor, o roteiro não tem vergonha alguma de explorar tudo aquilo que Pânico algum dia já satirizou, como o protagonista sempre buscar alternativas muito mais complicadas para se safar de um grupo de adolescentes integrantes de uma seita que sacrifica nerds para superarem suas fraquezas e conquistarem objetivos pessoais através das forças ocultas. 

Aqui a regra não tem metainformação, não tem a vontade de desconstruir gêneros, não tem vontade de inovar ou sequer fazer lago diferente, e esse excessivo uso do óbvio, em uma linguagem fácil e acessível, mas sem ser totalmente estúpida, tem um volume tão alto que se torna engraçado.

Poderia ser um filme péssimo em todos os sentidos porque o aglomerado de coisas que poderiam dar errado é muito grande. Mas ao contrário, ele diverte sem pretensão alguma. Talvez, a grande fórmula aqui seja não ter fórmulas e nem menos pretensão, mas qualidade no pouco necessário, como o do elenco, formado basicamente por novatos aspirantes a novas estrelas de Hollywood, atores que não carregam apenas rostinhos bonitos, mas também possuem talento e conseguem acertar em cheio nas interpretações debochadas, como acontece com Bella Thorne ou Samara Weaving, que hipnotiza com aqueles enormes olhos, maiores até mesmo que os de Emma Stone.

A linguagem dinâmica e às vezes um tanto cartoonizada, cheia de grafismos, efeitos e situações às vezes surreais, são características do diretor McG (lê-se "mékgee"), assim como é na maioria daqueles que começaram a carreira por trás das câmeras fazendo vídeo clipes, como ele. McG foi bastante criticado quando estreou nos cinemas com As Panteras (Charlie's Angels, 2000), sendo taxado de vazio, valorizando excesso visual para esconder falta de talento. A verdade é que não é bem assim. Ele é um diretor competente e diferente, carregado de linguagem pop e atual, o problema é que seu estilo não se encaixa em qualquer tipo de produção, e assim como As Panteras (principalmente sua sequência) se torna um material divertidíssimo para quem quiser apenas se divertir com aquilo que vê sem a necessidade de pensar, aqui ele consegue fazer até melhor porque mesmo sendo um filme cheio de cenas violentas e explícitas, é essa facilidade que o diretor tem de trabalhar com imagens e linguagens populares que faz tudo soar como uma verdadeira zombaria: escrachado, mas sem cair no pastelão. Seu grande acerto é nunca exagerar no tempo de uma cena, ou tentar fazer uma situação chegar ao ponto de ser um extensão de piada. Extensão de piada é aquilo que vem depois do gatilho da risada, geralmente acompanhada de uma moralzinha irritante ou uma explicação para garantir quem não tenha entendido de entender. Aqui isso não acontece, e é por isso que as cenas, por muitas vezes, são hilárias, principalmente durante as cenas de sofrência e agonia da cheerleader Allison (Bella Thorne), das sequencias de mortes bizarras, ou até mesmo da constante insistência do protagonista correr e fugir, mas sempre parar nos mesmos lugares, exatamente como Pânico um dia disse que é assim como acontece em todo filme de terror. E nessa edição bem precisa, o filme crava perfeitos 85 minutos, sem ser curto demais ou longo o bastante.

A Babá não é um filme brilhante e seu final poderia ter sido muito mais interessante se tudo parecesse fruto da imaginação do protagonista, como em vários momentos a evolução da história dá a entender, mas infelizmente acaba em uma mesmice que, mesmo em um filme cheio de mesmices que funcionam, este é um dos poucos que se tivesse saído do trivial, teria dado um melhor sentido para tudo. O que até parece que originalmente poderia ter sido, mas que de última hora resolveram mudar de idéia na velha intenção de vitimizar vilões em momentos de redenção, e assim a bela protagonista não parecer tão feia dentro dos valores morais hollywoodianos.

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