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terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

UM ANO DE GAFES, ERROS E TOTAL INÉRCIA...

E então o Oscar esse ano não foi lá de muitas surpresas, além de gafes. Infelizmente não acompanhei a premiação ao vivo, talvez a primeira vez que isso acontece em... sei lá quantos anos. Não posso comentar sobre como foi a apresentação, além da terrível confusão de Warren Baty na premiação de Melhor Filme, algo que ninguém entendeu bulhufas alguma do que aconteceu. Dentre tantos equívocos dessa edição, isso tudo só confirma o desleixo dos organizadores e da própria banca de jurados. Como todo ano acontece, os premiados tem gerado certa controversa.

Para contrariar dois anos de "Oscar branco", este foi o Oscar "mais negro" de todos (no ponto de vista histórico da premiação), terminando com 4 premiados nas categorias principais: Viola Davis como Atriz Coadjuvante; Mahershala Ali como Ator Coadjuvante; Berry Jenkins e Tarell McCraney em Roteiro Adaptado. A ovacionação em cima de Viola Davis tem sido exagerada, e sem querer ela se tornou uma representante da igualdade racial no cinema que definitivamente não condiz com a realidade. Premiar Viola e Mahershala soa mais como um prêmio de consolação a uma raça absurdamente excluída tanto no cinema quanto nas premiações, e uma maneira de maquiar esse separatismo evidente da Academia. Muitos comentários pipocaram nas redes sociais agradecendo Viola por representar tão bem a raça. Essa é a reação que tem imputado a ela, e sem direito de escolha, um posto de porta bandeira de um movimento inclusivo no qual a Academia tem se aproveitado. Muitas pessoas se esquecem que, no passado, outros atores negros também já estiveram no mesmo lugar que ela e revindicaram direitos igualitários tanto quanto ela tem feito, mas que sempre foram ignorados. Até que ponto isso é uma situação genuína, e até que ponto é uma situação forjada, é difícil pontuar, mas é fácil notar um pouco de cada em diversas situações. Viola ter ganho não me comove. Sua vitória era previsível principalmente depois da comoção em torno de sua terceira indicação, e como sempre frisei, soa como uma propaganda enganosa. A igualdade racial não irá começar e nem terminar com sua estatueta, mas com maior diversificação e destaque a atores de uma raça que não a tem. E para a Academia, premiar Viola hoje a redime de erros de décadas, e garante que nos próximos anos o Oscar possa voltar a ser branco.

O mesmo se aplica ao filme Moonlight. A começar que este ano a Academia se manteve em uma zona adequada de conforto com títulos pouco polêmicos, nenhum blockbuster, e nenhum filme realmente grandioso ou que tivesse aspectos bastante inovadores, como foi no ano passado com O Regresso, ou no ano retrasado com Birdman e Boyhood. Nenhum dos títulos a Melhor Filme tinha um grande motivo, ou uma grande razão para estar lá. Todos filmes medianos, poucos mais acima da média do que outros, e alguns superestimados pelo hype em volta deles, como foi o caso de La La Land e o próprio Moonlight. La La Land era o favorito até um backlash ocorrer. Em outras palavras: primeiro ocorreu sua superestimação pela sua popularidade, e depois sua subestimação por conta dessa superexposição. A impressão que se teve é que mudaram o envelope do vencedor de última hora, como se a Academia estivesse com um certo medo da repercussão negativa que teria caso o filme de Berry Jenkins não levasse alguma das estatuetas principais. Apesar de ser um belo e bem executado filme, não deixa de ser simples e comportado, algo fácil de ser compreendido, da maneira como o público norteamericano gosta e prefere, aprovando Jenkins como uma nova promessa no cenário cinematográfico. Nada que justificasse, sequer, uma indicação a Melhor Filme. Mas é aquilo... no meio de uma lista tão mediana como foi esse ano, Moonlight até se destaca, mas se ele não merecer o título de Melhor Filme, nenhum outro também deveria.

Como sempre costuma acontecer quando há dois títulos em grande concorrência, os prêmios são "divididos", diferente do que acontecia até meados de 90. Se tornou algo comum na Academia dividir os prêmios entre os melhores filmes sem ter um favorito que abocanhe tudo. Aqueles filmes de menor evidência ganham os prêmios menos comentados, enquanto os de maior evidência os prêmios principais. Por isso a estatueta de Melhor Direção foi para Damien Chazelle, de La La Land. E nesta categoria ocorre o mesmo problema na categoria Melhor Filme, já que os diretores aqui também são os mesmos dos títulos medianos. Chazelle fez um belo trabalho, cuidadoso na visão mais clássica que ele queria resgatar/homenagear, mas sem parecer antigo. Não foi um filme complexo, mas trabalhoso, e sua premiação é até válida e nenhum pouco surpreendente.

Agora, nas categorias de Melhor Ator/Atriz, a piada realmente foi forte. O erro já começou deixando de fora Amy Adams para dar lugar à 20ª indicação de Meryl Streep. Amy, a princípio, apareceu na lista de indicados em uma equivocada publicação da Academia, mas que algumas horas depois foi corrigida com uma nota de desculpas. Uma gafe já esquecida, que mostra que a atriz era a favorita em algum momento, mas por algum lobby ou conchavo, foi deixada de fora. Em um ano que foi excepcionalmente dela ao ser protagonista de dois excelentes títulos, como A Chegada e Animais Noturnos (este que foi um dos filmes mais esnobados do ano), o erro em deixa-la fora da lista foi tão grave ao ponto de ser imperdoável. Fora isso, a francesa Isabelle Hupert era a mais cotada para o prêmio, afinal, sua interpretação no filme Elle é arrebatadora. Mas a Academia segue sua tradição em ignorar atores/atrizes estrangeiros. Não importa a qualidade, a intenção nos últimos 20 anos tem sido em dar preferência a novos talentos do que a veteranos internacionalmente reconhecidos, como é o caso de Isabelle. Por isso Emma Stone levou o prêmio. Merecia? Não. Emma Stone é uma graça de atriz, e talentosa ainda por cima, mas seu papel em La La Land não justifica seu prêmio. Emma poderia ter levado quando concorreu em 2015 por seu papel em Birdman, mas, ao invés disso, deram preferência à insossa interpretação de Patricia Arquette em Boyhood. Como sempre, aquilo que a Academia bagunça com os pés em um ano, ela destrói com as mãos em outro.

Não foi um ano memorável além de seus erros, gafes e esnobações. Não foi um ano emocionante e nem surpreendente. Dizem que o Oscar reflete o momento político em que o Estados Unidos vive, e em uma época de tantas polêmicas, aumento de segregação, discriminação e xenofobia, o que o Oscar mais quis nesse ano foi evitar polêmicas e discussões densas. Optou por títulos nem lá, nem cá em suas listas. Se manteve em cima do muro, segura de si de que ninguém notaria sua inércia em meio a todo o caos em que ela está embolada no meio.

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