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sábado, 25 de fevereiro de 2017

LONGO SOFRIMENTO. MUITO LONGO...

★★★★★★☆☆
Título: Manchester À Beira-Mar (Manchester By The Sea)
Ano: 2016
Gênero: Drama
Classificação: 14 anos
Direção: Kenneth Lonergan
Elenco: Casey Affleck, Michelle Williams, Kyle Chandler
País: Estados Unidos
Duração: 137 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Após a morte do irmão, um testamento é deixado incumbindo que o filho de 17 anos fique aos cuidados de um tio que há muito tempo deixou de se preocupar com responsabilidades.

O QUE TENHO A DIZER...
Manchester À Beira-Mar é uma história trágica por excelência, e que tenta mostrar a beleza embutida nas mudanças através disso. Quando você acha que a vida de Lee Chandler (Casey Affleck) não poderia ficar pior, eis q vem o roteiro e lhe dá uma rasteira. Talvez por isso a narrativa seja desconstruída, para amenizar o impacto e não causar aquela sensação progressiva e constante de eventos tortuosos que aconteceria se fosse linear. Não que isso diminua de fato alguma coisa, mas já começar o filme sabendo que o protagonista, apesar de tudo, conseguiu passar por cima das tragédias, já é um conforto ao espectador, mesmo quando evidente que as feridas não tenham fechado. E o resto, a maneira como Lee irá se reconectar com sua vida e com as pessoas a sua volta que também foram diretamente atingidas pelos acontecimentos, é o que o filme propõe.

Não há muito o que se dizer sobre este filme simples, que ao mesmo tempo que repele, conquista pela sua honestidade. O desenvolvimento a passos lentos que variam entre o presente e o passado por meio de flashbacks aleatórios, como uma memória fragmentada, revelam aos poucos, como camadas de cebola, a razão para o protagonista ter se tornado uma pessoa apática e um tanto inerte da realidade com o tempo, anestesiado pelos constantes e brutais golpes de uma vida cotidiana comum que, de uma hora para outra, vira de cabeça para baixo como um barco em meio a uma tempestade inesperada.

O processo de auto-indulgencia é vagaroso, igualmente penoso ao espectador em um processo de mais de 130 minutos. Um filme um tanto longo e arrastado demais para seu peso dramático, mas que na sua reta final acaba sendo compensador por ficar mais leve e concluir os conflitos de maneira bastante sóbria e sensata, sem lições de moral ou atitudes heróicas. Ao invés disso, o protagonista se mantém firme, fazendo todos compreenderem seu ponto de vista sem grandes justificativas, como realmente deveria ser.

Mesmo que demorado para deixar mais evidente sua proposta, o diretor/roteirista, Kenneth Lonergan, o desenvolve com cuidado, trazendo de suas experiências anteriores, como na comédia Máfia No Divã (Analyze This, 1999) e sua continuação, um sarcástico humor entre um momento e outro para aliviar algumas tensões. E funciona, até mesmo quando achamos que esteja um tanto fora de tom, quando no momento em que Lee está no hospital e recebe a notícia do falecimento do irmão pelo amigo George (C.J. Wilson), o personagem responsável pelos poucos momentos um tanto pastelões na história.

Casey Affleck repete aqui um tipo de personagem que combina com sua persona, mas aprofundado em dores e traumas, num sofrimento contido que não cessa, raramente exposto àqueles que o observam e dependem dele, martirizado na dúvida entre voltar a fugir da realidade ou encará-la de frente, como lhe é propositalmente imputado pelo testamento de seu falecido irmão.

Ao contrário do que se espera ou do que o cartaz pode demonstrar, não é um romance, e Michelle Williams, mesmo que em uma personagem relevante, faz uma participação extremamente pequena. É um drama regular que se passa na pequena cidade litorânea Manchester-by-the-sea (daí o título), e que apesar de seu peso, consegue evitar muitos dos clichês melodramáticos que facilmente poderiam ser usados e abusados, salvo um momento e outro, como na cena em que Lee tenta cometer suicídio. Como um todo, Lonergan faz do filme uma visão interessante sobre a vida e sua continuidade apesar do sofrimento, e a retomada de responsabilidades deixadas para trás, embora não consiga fazer desse tema - um tanto batido - algo realmente grandioso e impactante o suficiente para se diferenciar de todos os similares que existem por aí.

CONCLUSÃO...
Apenas um monte de drama para uma conclusão simples e sincera, que foge da conclusão idealizada que muita gente irá esperar. Assim como os demais filmes que estiveram presentes na temporada de premiações, Manchester não traz nada de inovador, grandioso ou emocionalmente impactante para justificar seu favoritismo. Nada para se lamentar caso seja perdido ou deixado de lado.

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