Translate

domingo, 12 de fevereiro de 2017

POR FORA, BELA VIOLA...

★★★★☆
Título: Passageiros (Passengers)
Ano: 2016
Gênero: Comédia, Romance, Ação, Ficção Científica
Classificação: 12 anos
Direção: Morten Tyldum
Elenco: Chris Pratt, Jennifer Lawrence, Michael Sheen, Lawrence Fishburne
País: Estados Unidos
Duração: 116 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Em uma nave espacial que viaja para uma colônia há 120 anos de distância, um dos passageiros acorda 90 anos antes devido ao mal funcionamento de sua capsula de hibernação.

O QUE TENHO A DIZER...
Assim que Passageiros começa, é fácil associá-lo a idéias de outras fições espaciais recentes como Lunar (Moon, 2009), Gravidade (Gravity, 2013) e Perdido em Marte (The Martian, 2015). Três filmes em que protagonistas solitários devem sobreviver a diversas dificuldades, seja à deriva no espaço ou em um planeta inóspito.

Mas imagine pegar a idéia desses filmes e, ao invés de um protagonista solitário, colocar um par romântico no espaço, interpretados pelos dois mais belos, mais populares, mais caros e mais bajulados atores da atualidade numa historieta de amor inusitada, uma novela espacial que aparente ser diferente, mas no fundo é apenas mais do mesmo com um visual futurista, e cheio de efeitos especiais para tirar o filme do rótulo de "comédia romântica comum".

É isso que é o novo filme do diretor Morten Tyldum (de O Jogo da Imitação), apenas um produto reciclado de outros produtos, mas cheio de "isso" e "aquilo outro" para deixar a história mais atraente, dinâmica e exageradamente vendável. E até que consegue em certo ponto, já que o nível de absurdos é tão grande que, com excessão de filmes eróticos espaciais, não me lembro de existir algo parecido assim.

O enredo é uma nave espacial com 5 mil passageiros em hibernação com destino a um novo planeta habitável, em uma viagem que durará mais de 100 anos. Por um erro do sistema, uma das cápsulas de hibernação acorda o engenheiro Jim (Chris Pratt) "apenas" 90 anos antes. A situação é desesperadora por si só, mas com o passar dos dias o protagonista se acostuma com a idéia e se ocupa com tudo aquilo que a nave pode oferecer para o tipo de passagem que ele pagou, e que, no caso, é obviamente uma passagem econômica. Jim não tem acesso a tudo, sua cabine não é uma das melhores e ele nem pode comer uma refeição decente, mas ele se vira como pode e se diverte na medida do possível para passar o tempo oscioso que durará uma vida.

Enquanto os outros filmes exploram o lado mais dramático disso tudo, Passageiros tenta fazer o contrário, pelo menos a princípio, e Chris Pratt tem charme o suficiente para dar conta desse recado mais cômico enquanto esta situação dura.

Só que um ano se passa, e a situação fica diferente e agustiante. A solidão e o confinamento de Jim começam a afetá-lo psiquica e emocionalmente. Sofrendo de depressão e ansiedade, o desespero o faz ter uma idéia um tanto criminosa e egoísta: sabotar a cápsula de Aurora (Jennifer Lawrence) para que ela possa lhe fazer companhia, passageira pela qual se apaixonou ao vê-la em sua cápsula bela como a Bela Adormecida, e cuja tentação foi maior ainda quando investigou arquivos pessoais dela e leu livros que ela havia escrito enquanto morava na Terra. É... tipo um stalker.

Até então o roteiro se apresentava razoável na sua proposta, mesmo que um tanto arrastado e cobrindo um tempo longo demais nas peripécias de Jim enquanto sozinho na gigantesca nave. Depois que Aurora acorda, a segunda parte do filme tem início, e por mais que fosse uma variável de um mesmo tema, ainda sim a situação de ambos causava uma boa impressão de "novidade".

A situação romântica já é prescrita no filme, bem como é previsto que Aurora irá descobrir em algum momento que Jim sabotou sua capsula. Esse conflito é a grande expectativa que o filme deveria ter construído, pois seria o grande e interessante revés na trama caso as coisas não perdessem o foco em eventos aleatórios que começam a acontecer, colocando em risco não apenas a vida do casal, mas também a dos tripulantes e passageiros em hibernação.

É nessa terceira parte que o que havia de cativante no roteiro se torna desperdiçado, dando lugar a sequências de ação, explosões e cenas espaciais externas desnecessárias para servir de argumento fajuto de reaproximação dos dois, e também para acelerar o ritmo, compensando a inabilidade do roteiro de desenvolver a história do casal de maneira mais natural e convincente, ou sustentar seus conflitos de maneira consistente. E claro, para também ser motivo de se tornarem os heróis espaciais dessa jornada romântica. Uma bobagem dispensável.

A história se perde em gêneros e intenções, pois fica mais preocupada em ser um grande sucesso do que algo simples e apreciável. Claro, a intenção não é ser complexo como 2001, e também não há nada de errado em ser algo mais acessível, superficial e estereotipado como costumam ser as comédias românticas ou dramas conjugais. Mas os exageros não se encaixam, como, por exemplo, o filme ter tido cópias em 3D para visualmente encarecer a proposta sem qualquer necessidade. Outra coisa é que, até agora, não consegui entender a participação de Lawrence Fishburne, uma aparição repentina apenas para dar a pobre desculpa de que um homem desesperado tenta arrastar outros no seu desespero, pobremente endossando a atitude de Jim. A aparição de Fishburne dura muito pouco para nada acrescentar, quando seu personagem poderia ter sido a solução para todos os problemas, e assim a produção poderia ter economizado nos efeitos especiais e a história teria tido um final muito mais feliz e satisfatório do que pássaros e galinhas no cenário.

Sim, o design de produção e a fotografia do filme chamam atenção, conseguindo até uma indicação ao Oscar, mas são grandiosos demais para um filme com apenas dois personagens efetivos e subaproveitados, mais uma prova de compensação de um roteiro fraco e indefinido. Sem contar os grandes absurdos que fogem de qualquer lógica física ou biológica, mas que nem vale a pena comentar porque não caberiam nessa postagem, e faria o filme extrapolar qualquer senso do que seja uma ficção.

CONCLUSÃO...
É o exemplo do erro clássico dos filmes de grande orçamento: pegar uma boa história e destruí-la sem qualquer fundamento para a pretensão do sucesso. Pena que nem para isso serviu, já que o filme foi um total fracasso, tanto de público, quanto de crítica. E mesmo assim Hollywood não aprende.

Nenhum comentário:

Add to Flipboard Magazine.