Translate

domingo, 22 de janeiro de 2017

TER CIPÓ GRANDE NÃO GARANTE...

★★★★★☆
Título: A Lenda de Tarzan (The Legend Of Tarzan)
Ano: 2016
Gênero: Ação, Aventura, Fantasia
Classificação: 12 anos
Direção: David Yates
Elenco: Alexander Skarsgard, Margot Robbie, Christoph Waltz, Samuel L. Jackson, Djimon Hounsou
País: Reino Unido, Canadá, Estados Unidos
Duração: 110 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Tarzan, agora civilizado, volta à selva do Congo com Jane para cumprirem um convite do Rei, mas o convite era uma emboscada.

O QUE TENHO A DIZER...
O diretor David Yates se destacou com os quatro últimos filmes de Harry Potter, e depois do sucesso de Animais Fantásticos e Onde Habitam (Fantastic Beasts And Where To Find Them, 2016), ele foi anunciado como responsável pelo exagerado número de quatro continuações que este título terá. Um exagero hollywoodiano como também é este novo filme de Tarzan.

O filme não é um reboot e nem uma continuação, mas uma mescla dos dois. A história começa com Tarzan já civilizado e influente na sociedade, morando em Londres sob sua identidade verdadeira, John Clayton. Interpretado pelo ex-True Blood, Alexander Skarsgard, o passado de Sir Clayton se tornou uma lenda, e ele é como uma celebridade por onde passa, principalmente entre as crianças. Há até livros ilustrados com histórias fantásticas sobre Tarzan, mas Sir Clayton quer se distanciar desse passado, até que um convite do Rei Leopold para voltar ao Congo tenta arrastá-lo de volta.

Convencido por George Williams (Samuel L. Jackson), que quer aproveitar a ocasião para confirmar boatos de que o desbravador do Rei, Leon Rom (Christoph Waltz), tem usado trabalho escravo, Sir Clayton aceita voltar à sua antiga terra natal, e junto, entre birrinhas, bateção de pé e bico derrubado, Jane (Margot Robbie) consegue convencer Sir Clayton de ir junto.

Ao chegarem na tribo onde Jane viveu com seu pai, quando este dava aulas de inglês aos nativos, não demora muito para serem atacados pela equipe de Leon, e muito menos para descobrir que eles cairam em uma cilada. Leon quer capturar Tarzan para entrega-lo a Mbonga (Djimon Hounsou), chefe de uma tribo, em troca de diamantes que essa tribo protege.

Basicamente a história é essa e, entre um momento e outro, flashbacks acontecerão para justificar o passado de Tarzan. Desde como ele ficou órfão, até como conheceu Jane.

Realmente não há como não se emocionar em vários momentos, sejam nos flashbacks sobre a vida nativa do herói ou no presente da história em meio a paisagens e cenários deslumbrantes, num excesso de verde tão vívido que chega a nos engolir para dentro da tela. Há um excesso de capricho tão grande nesta produção que visualmente se torna impecável. Dos efeitos especiais, até nas dezenas de figurantes que aparecem, belíssimos em sua maioria. O resultado de tudo são fotografias de tirar o fôlego.

Mas no resto a situação é manjada, e conforme a história progride, mais cliché ela fica. Tarzan é um herói da selva, mas ele é tratado no filme como um super herói invencível. E na proposta que o filme a princípio parecia ter, de levar as situações de maneira um tanto mais realista, de repente tudo começa a ser encenado no meio de uma sequência de absurdos. Como no momento em que ele e sua turma mergulham em um mar de árvores, e atrás vai o quase idoso George, que mal aguentava correr. Logo em seguida eles se jogam em cipós para alcançar um trem. Só que o bizarro dessa situação um tanto Homem-Aranha de ser é que os cipós parecem não ter fim. Tudo bem que se está no Congo, mas nem lá os cipós são tão grandes assim, né?

E a partir daí aquele festival de absurdos que Hollywood adora vira o centro das atenções, chegando no ápice da ridícula batalha entre Tarzan e seu irmão gorila. Mesmo Skarsgard ter se preparado para o filme em dieta e uma rotina de treino que ele afirmou terem sido torturantes para chegar no nível atlético do personagem, é inaceitável acreditar que Tarzan não teria sido arrebentado ao meio na primeira porrada nas costas de um gorila três vezes maior que ele. Ao menos Tarzan sai como perdedor, mesmo que sem um osso quebrado, só com um arranhãozinho aqui e alí. E no dia seguinte ele tá ótimo para enfrentar Leon.

O austríaco Christoph Waltz se revelou ao mundo quando interpretou o vilão Hans Landa em Bastardos Inglórios (Inglorious Basterds, 2009), de Tarantino. De lá pra cá a lista de vilões só cresceu, e Leon Rom é mais um para sua coleção. Embora Waltz seja um ator impecável, parece que estamos um pouco cansados de seus vilões e artefatos únicos que ele adere em cada um para dar características únicas que facilmente os diferencie um dos outros. Aqui ele usa um cordão mortal feito com seda de aranha, numa habilidade tão grande que parece Shun com suas correntes, em Cavaleiros do Zodíaco. O nível de perversidade do vilão também não é novidade, embora, como dito, Waltz consiga caracterizá-los numa habilidade tão única que eles não conseguem ser iguais, mesmo que com personalidades similares.

Mas é aquilo... colocá-lo no papel de vilão está na mesma zona de conforto na qual o filme fica o tempo inteiro, assim como ter Samuel L. Jackson para dar os alívios cômicos um tanto pastelões, Jane ser a mulher destemida e determinada e Tarzan um incrível galã romântico.

É um filme tipicamente familiar e dentro de fórmulas manjadas para agradar desde os fãs de Transformers até a vovozinha que um dia já ficou louca com o Tarzan de Christopher Lambert na década de 80. Mas nada satisfatório para aqueles que esperavam um avanço melhor na abordagem da história, uma versão que nem precisava ser mais adulta, mas que se mantesse fiel a um nível de realidade mais próximo.

Como tudo hoje em dia tem sido "super-heroizado", algo mais humano e menos fantástico, principalmente de um herói que originalmente é mais humano e menos fantástico, teria sido bem vindo.

CONCLUSÃO...
No resultado, Tarzan consegue ser um filme até divertido, com poucos momentos empolgantes e sensível em pequenas doses, mas em nenhum momento evita aquela sensação previsível que todas as adaptações do herói igualmente tiveram antes. É muito mais visualmente deslumbrante do que um entretenimento eletrizante.

Nenhum comentário:

Add to Flipboard Magazine.