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quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

CHEGA DE DEBOCHE...

★★★★★★★☆
Título: O Contador (The Accountant)
Ano: 2016
Gênero: Ação
Classificação: 14 anos
Direção: Gavin O'Connor
Elenco: Ben Affleck, Anna Kendrick, J.K. Simons, John Bernthal, Cynthia Addai-Robinson
País: Estados Unidos
Duração: 128 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Um contador forense é contratado para averiguar irregularidades financeiras de uma empresa, mas de repente seus serviços são dispensados e pessoas começam a entrar na mira de assassinos.

O QUE TENHO A DIZER...
Quando imaginávamos que Ben Affleck não tinha mais qualquer capacidade para interpretar, ele casou com Jennifer Lopez e ambos atuaram em um filme juntos. Foi um desastre. E quando sua carreira estava a ponto de ser extinta, ele se tornou diretor.

Congratulações à parte, mesmo Argo sendo um dos melhores filmes de 2012, não dá pra levar Affleck a sério no papel principal, e menos ainda quando anunciaram que ele seria o novo Batman, devido ao desastre que foi quando investiu em Demolidor (2003). Ele pode até ter parecido bom em Garota Exemplar (Gone Girl, 2014), mas seu papel era ele sendo ele, o bonitão de jeito canastrão, a forma como o próprio livro descreve seu personagem.

A questão é que, quando Batman vs. Superman foi lançado, Affleck surpreendeu. E ao mesmo tempo que foi o personagem mais despretencioso da sua carreira, também foi o que ele levou mais a sério porque, fora do estúdio, havia uma leva de fãs prontos para esfolarem ele vivo se algo desse errado. O ator passou pelo crivo dos fãs e também da crítica, ao ponto de ganhar a direção do próximo filme do morcegão.

Por incrível que possa parecer, a impressão que se tem é que Affleck já curtiu tudo que Los Angeles poderia oferecer. Ficou mais velho, amadureceu, se centrou e finalmente resolveu levar a carreira de ator à sério. Ter dirigido quatro longas (com mais dois em andamento) lhe trouxe maturidade para perceber que atuação ruim só atrapalha. Talvez essa tenha sido essa sua epifania, seu momento eureka, o raio que lhe faltava na cabeça nos últimos anos.

Aproveitando a sisudez de seu Bruce Wayne, o porte e a resistência física que a preparação para Batman lhe renderam, O Contador caiu como uma luva em época e intenções, até porque ele também é uma adaptação de quadrinhos da DC.

A história pode parecer um pouco complexa a princípio, mas isso mais acontece por conta do desenvolvimento omissivo do roteiro. Ao contrário de outros filmes que costumam usar pistas falsas e enredo intrincado para enganar o espectador e causar falsa impressão de consistência, aqui tudo se desenvolve na base da omissão e na maneira de ser do personagem, que sofre de um tipo de autismo funcional e raro, no qual ele tem uma capacidade lógica extremamente rápida. Ele consegue uma excelente evolução durante a adolescência com os intensivos treinamentos físicos aos quais seu pai o submetia, mas ainda sim cresce solitário, com dificuldades de socialização, comunicação e humor.

Com sua capacidade lógica acima do normal e fisicamente treinado para poder se defender de situações de intenso perigo, ele agora trabalha como Contador Forense, uma profissão de alto risco, já que ele presta auditoria em grandiosas e dominantes corporações que nunca ficam felizes quando suas finanças são vasculhadas número a número. Só que o objetivo de Christian (Ben Affleck) não é exatamente esse, mas como dito, assim como seu comportamento lento e metódico, o mesmo acontece com o roteiro. Portanto, não tenha pressa, buracos serão tampados nos seus devidos momentos.

Não que seja uma história surpreendente, porque não é, mas consegue ter tudo o que um filme de ação precisa: consegue entreter, tem suspense e ritmo. Também tem seus momentos folhetinescos, como na sua reta final, algo que depois de Star Wars nem parece mais novidade, mas a agilidade omissiva do roteiro é tão boa que esquecemos de detalhes, os quais serão usados beneficamente contra nós depois, para o bem de momento cruciais da história.

A presença de Affleck como protagonista realmente não atrapalha, talvez porque o personagem seja de poucas palavras. O ator dessa vez consegue ser até sutil, quebrando um momento tenso ou dramático apenas com um jeito, um olhar ou uma pequena palavra de alívio cômico. Um humor sutil e clássico que nem em um milhão de anos imaginaríamos que Affleck seria capaz de fazer. É claro que, por conta da fisionomia do ator, aquele certo ar de deboche que ele naturalmente carrega pode aparecer aqui e alí, mas nada comprometedor como muitos de seus filmes anteriores. O único problema é que, no começo, ele parece levar o autismo do personagem muito a sério, mas depois deixa de convencer, e suas atitudes se mostram muito mais vícios de comportamento do que um comportamento metódico natural. Aliás, chega um ponto na história que duvidamos das razões de terem feito o personagem autista, já que se torna algo irrelevante para ele e para o espectador. Mas... em todo filme é necessário um drama para justificar algum trauma infantil, e todo herói precisa ter uma infância difícil que se tornará o agente motivador de toda sua história.

Apenas fórmulas.

CONCLUSÃO...
A realidade é que o filme não cansa de absurdos, mas também não cansa o espectador. E se tem uma coisa que ele garante é diversão, e provavelmente uma continuação.

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