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segunda-feira, 7 de novembro de 2016

TENHA MEDO DA ÁGUA...

★★★★★★★☆
Título: Águas Rasas (The Shallows)
Ano: 2016
Gênero: Suspense, Ação, Drama
Classificação: 14 anos
Direção: Jaume Collet-Serra
Elenco: Blake Lively, Óscar Jaenada
País: Estados Unidos
Duração: 86 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Após a perda da mãe, Nancy (Blake Lively) resolve viajar para uma praia isolada e desconhecida no México, na qual sua mãe costumava frequentar enquanto estava grávida dela. Tentando aproveitar o momento para surfar e superar as dores recentes, é atacada por um tubarão. Ilhada em um recife, agora tem de descobrir uma forma de sobreviver.

O QUE TENHO A DIZER...
Blake Lively, a protagonista, afirmou que queria muito fazer este filme porque se sentiu inspirada pelo seu marido, Ryan Reynolds, em Enterrado Vivo (Buried, 2010), pois as filmagens se passaram inteiramente com ele dentro de uma caixa. Reynolds sofre de claustrofobia, e mesmo assim aceitou o papel por conta do desafio que seria. Blake quis o papel pelo mesmo motivo, pois passar todo o tempo de filmagem dentro da água seria igualmente desafiador e transformador tanto quanto foi para ele.

E realmente, se analisarmos a situação como um todo, existem grandes similaridades entre o filme de Reynolds com este, já que é basicamente uma história de sobrevivência, ou tentativa dela. Por isso o enredo não é nada demais além de uma surfista que fica ilhada no mar depois de ser atacada por um tubarão branco fêmea.

Ok, para aqueles que afirmarem que este é mais um filme de tubarões e que novamente usa referências do clássico de Steven Spielberg, estará redondamente certo. A diferença aqui é que, mesmo sendo uma ficção exagerada tanto quanto o filme de Spielberg e sabermos cientificamente que na vida real a situação seria bastante diferente, o legado é honrado e talvez consiga ser o segundo melhor filme sobre o tema depois de Tubarão (Jaws, 1975). Claro que houveram outros, como Do Fundo do Mar (Deep Blue Sea, 1999), que na época também foi elogiado por referenciar Tubarão, mas que não conseguiu sobreviver ao tempo e hoje é visto como um filme trash, datado e cliché, com péssimas atuações.

Não adianta, de tempo em tempo alguma produção sobre o frio e calculista animal vai aparecer, e sempre algum será surpreendente de alguma forma. Mas o que faz esse aqui um tanto diferente e especial é que, em primeiro lugar, não tem pretensão de ser algo chamativo e impactante, a começar pelo seu orçamento relativamente baixo que impede isso (US$17 milhões). Ele também não trata a situação como um filme de horror, a transformar o animal em um assassino em série, ou colocar o elenco em uma sopa de sangue e vísceras.

De maneira irônica, existe um drama à deriva que nos afeta. O isolamento da personagem, a tragédia familiar que lhe perturba, a tentativa de revisitar suas origens, a redescoberta pessoal e outros detalhes sutis que dão um arco dramático na história bastante convincente, que nos faz torcer pela sobrevivência da personagem e ao mesmo tempo nos angustia porque não conseguimos ver saídas óbvias para ela. Sim, torcer pela sobrevivência mesmo. Enquanto nos outros filmes a gente torce para os personagens escaparem do perigo, aqui torcemos para ela sobreviver, para conseguir superar seus conflitos e seguir com sua vida. Por isso, também é um interessante filme sobre superações. Nada muito profundo, mas como dito, são coisas que ficam na superfície o tempo todo e que acaba nos atingindo emocionalmente.

É um filme que funciona desde o princípio, quando a câmera faz a clássica filmagem submarina de Spielberg como se fosse os olhos do animal focando sua presa. O bom aqui é que o diretor italiano, Jaume Collet-Serra, não faz disso algo cliché, como ocorre frequentemente. Pelo contrário, o sentimento perturbador e de medo são menores do que o sentimento de solidão e fragilidade, mas nem por isso deixamos de enrigecer os ossos em vários momentos.

A locação escolhida para filmagens definitivamente é um deslumbre à parte, mesmo que o diretor tenha afirmado que, a cada cena feita, 10% era real, enquanto 90% era digitalizado, mas é os 10% que engana o espectador devido à ênfase dada na imagem, e não nos efeitos. As cenas esportivas ou submarinas também são muito bem feitas, sejam reais ou digitais, como no momento em que a protagonista é atacada pela primeira vez, arrastada para o fundo por conta da turbulência e o empuxo da onda. É uma daquelas situações que voltamos a cena várias vezes para ver detalhes.

Tudo é muito objetivo e claro. Tudo é muito simples e bem feito, e é por isso que funciona e impressiona.

CONCLUSÃO...
As referências a Tubarão (1975) podem parecer muitas, mas ao contrário do clássico de Spielberg, aqui o diretor opta por transformar o animal não em um monstro, mas em uma ameaça natural, além de deixar muito mais exposto o lado dramático e elementos que nos conectem com a personagem, evitando elementos clichés do gênero, sustos baratos e banhos de sangue. Além de tudo, tem Blake Lively, que além de bonita também tem talento.

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