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sábado, 5 de novembro de 2016

AQUELE NOVELÃO DA GLOBO...

★★★★☆☆☆☆☆☆

Título: Amor Em Sampa
Ano: 2016
Gênero: Comédia, Romance, Musical
Classificação: 12 anos
Direção: Carlos Alberto Riccelli e Kim Riccelli
Elenco: Bruna Lombardi, Du Moscovis, Rodrigo Lombardi, Mariana Lima, Carlos Alberto Riccelli, Tiago Abravanel, Kim Riccelli
País: Brasil
Duração: 110 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
O amor a São Paulo e as possibilidades de se encontrar o amor no meio ao caos da metrópole.

O QUE TENHO A DIZER...
Amor em Sampa é o quarto filme produzido pelo casal Bruna Lombardi e Carlos Alberto Riccelli. Mais uma vez com o roteiro original de Bruna e direção de Riccelli, que agora divide a cadeira com seu filho, Kim. E todos eles também atuam. É um trabalho em família, e tanta função mostra a versatilidade de ambos nos diferentes trabalhos que exercem, assim como aconteceu nos filmes anteriores.

Para quem já assistiu os filmes anteriores do casal, a expectativa nesse novo longa foi grande, e não seria errado assisti-lo como uma versão mais leve e bem humorada de O Signo da Cidade (2007), já que a história parte basicamente do mesmo princípio de ser uma junção de várias pequenas histórias que se fundem no amor pela metrópole e os amores que surgem nela. Enquanto em O Signo os personagens se chocavam de forma até drástica e a cidade era mostrada de forma mais fria e distante, aqui eles se encontram, se cruzam e se conhecem, às vezes, sem qualquer afinidade, mostrando o lado mais caloroso e possível, difícil de alcançar no outro filme.

Misturando diferentes narrativas com sequências musicais, a idéia até parece interessante, mas Bruna se perde no trajeto ao tentar tanta abrangência, não conseguindo ser efetiva seja quando a narrativa está em primeira pessoa (com algumas quebras da quarta barreira), seja quando é objetiva. O roteiro tenta dar aquela espontaneidade inspirada de musicais como os de Fred Astaire, quando de repente alguém começa a cantar e desenvolver a história dentro da música, algo que Woody Allen tentou resgatar nos anos 90 com Todos Dizem Eu Te Amo (Everyone Says I Love You, 1996), usando atores que nem tinham talento vocal, mas funcionava na proposta romântica.

Neste filme as sequências musicais mais atrapalham do que ajudam. Pode ser, ora ou outra, um pouquinho atraente, diferente, como é na apresentação do longa, mas no geral atrasam o desenvolvimento das histórias e não conseguem evitar aquela sensação um tanto cafona, constrangedora, como na sequência de Rodrigo Lombardi cantarolando em um jardim por estar com o coração partido. As demais tramas amorosas, cheias de encontros, desencontros, e muita argumentação banal, também são bem fracas. Nada que realmente lhe dê um grande motivo para continuar assistindo com prazer, como foi em Onde Está A Felicidade? (2011), ou com grandes expectativas de algo realmente bom e impressionante acontecer.

Bruna também tenta engatar seu ativismo com sua preocupação real sobre o aquecimento global, é seu momento de exercer um serviço social de conscientização dentro do seu trabalho como roteirista e atriz, mas soa forçado e enfiado na história, virando algo esquecível frente a tantos personagens e tramas paralelas pouco consistentes.

O que mais me incomoda profundamente no cinema nacional é a falta de naturalidade dos diálogos, das interpretações e interação. É exatamente isso que estraga esse filme em sua totalidade, que faz desandar a maioria das sequências que poderiam ter algo interessante, seja nos momentos cômicos ou nos poucos conflitos dramáticos que surgem. A falta de um roteiro mais expressivo na linguagem coloquial ajuda nesse excesso de floreio e formalidade na atuação, e quando o texto pede do ator o uso de uma gíria ou um palavrão, nem existe coerência.

Comparado com os filmes anteriores do casal, Amor Em Sampa é como um retrocesso. Não oferece o mesmo nível de qualidade, intensidade ou relevância, seja na direção, seja no roteiro. E olha que Bruna Lombardi sabe escrever um bom roteiro. Já Riccelli continua o mesmo: bom na parte técnica, mas um péssimo diretor de elenco. Elenco "global" que está sempre mal preparado, cheio de participações especiais igualmente sacadas, como a de Tiago Abravanel, um estrupício que de nada acrescenta na história. Os atores, se não aparentam amadores e inexpressivos, como o próprio Riccelli (ou seu filho), são atores experientes que representam no padrão televisivo que estão condicionados, como Rodrigo Lombardi, que sempre mais parece um palestrante do que um ator. Deve-se lembrar que esse é um problema recorrente nos filmes de Bruna e Riccelli (com menor intensidade em Onde Esta A Felicidade?), e isso acontece justamente por ser uma produção da Globo Filmes.

Querendo ou não a produtora nada mais é do que uma extensão do monopólio da Rede Globo, expandindo seu capital e utilizando seus filmes como marketing de seus atores de casa e os produtos populares em que eles estão relacionados. Isso interfere negativamente na qualidade dos filmes porque o formato é mais televisivo que cinematográfico; a linguagem é repetitiva como de um folhetim ou de um seriado cômico de terça-feira; a edição é repicada, nunca fluida; os atores escalados nos papéis secundários parecem estar lá por exigência contratual; até coisas simples, como cenas de transição, diminuem a qualidade narrativa porque é tudo muito didático, fácil, trivial. Toda a cartilha de "como fazer um filme para a Globo" está lá. Elementos que o cinema de classe dispensa.

De tudo, nada é diferente do que é visto diariamente nas telenovelas da emissora, e nada parecido com os filmes nacionais independentes ou produzidos por empresas mais sérias que seguem padrões mais internacionais, no sentido de experiência e qualidade visual/narrativa.

O filme não é uma piada, mas com tantos padrões meramente copiados e colados do formato televisivo, parece. Passou da hora de Bruna e Riccelli buscarem outras parcerias para uma maior liberdade criativa, para ousarem mais com as experiências que adquiriram juntos nessa jornada de quatro longas metragens em um pouco mais de dez anos. Influentes no meio artístico como são, conseguem facilmente alcançar um patamar de qualidade superior ao que estão e ir atrás de um público mais sério, que não quer ir ao cinema para ver mais do mesmo que se vê na televisão.

É possível notar os esforços do casal em fazer o filme funcionar. É evidente a paixão que ambos possuem pelo cinema e pela arte, o que é admirável e o que sempre mais admiro em seus trabalhos, mas definitivamente Amor em Sampa pode ser agradável e bonitinho de se ver como um novelão de 110 minutos, mas nunca se entrega como deveria como um filme, e nunca cumpre a proposta de mostrar o amor pela cidade e como os amores se constroem nela.

CONCLUSÃO...
A impressão que se tem com Amor em Sampa é de assistir um novelão de quase duas horas. Ser uma produção da Globo Filmes impacta diretamente na qualidade e nos padrões, deixando de ter um formato cinematográfico para ser televisivo. É uma pena. Até que ponto há uma interferência da produtora, é difícil saber, mas é muito fácil perceber pelo visual e pela narrativa que está longe de ser um produto para cinema.

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