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quarta-feira, 9 de novembro de 2016

FRUTOS...

★★★★★★★☆☆☆
Título: Verão Em L.A. (August)
Ano: 2011
Gênero: Drama
Classificação: 14 anos
Direção: Eldar Rapaport
Elenco: Murray Bartlett, Daniel Dugan, Adrian Gonzalez
País: Estados Unidos
Duração: 99 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Quando retorna a Los Angeles depois de cinco anos em Barcelona, ao procurar seu ex para tentar consertar um passado de erradas decisões, descobre que o resultado de tudo foi consequência dele mesmo.

O QUE TENHO A DIZER...
Ontem, pesquisando no Netflix, resolvi assistir um filme com temática homossexual. Já expressei em outras resenhas que não é um estilo que particularmente me agrada justamente pelo excesso de clichés e estereótipos que costumam ter. Com algumas excessões ou outras, como Longe do Paraíso (Far From Heaven, 2002), Delicada Relação (Yossi & Jagger, 2011), Direito de Amar (A Single Man, 2009), Tomboy (2011), Queda Livre (Freier Fall, 2013), dentre poucos outros, percebe-se a seriedade sobre o tema mais do que o reforço da idéia comum do comportamento gay ou trangênero. Tanto que, correndo entre as opções disponíveis no serviço, as sinopses costumam ser as mesmas: do amigo que não se aceita ao do namorado traído, com pequenas variações de um a outro.

Verão em LA foi o que pareceu ser o menos forçado deles, algo que ainda remetesse um comportamento comum, mas que ao mesmo tempo pudesse ser mais realista, menos romântico, debochado ou caricato.

O filme começa sem créditos, com o protagonista sendo entrevistado para um emprego. Quando vi o ator, imaginei conhecê-lo de algum lugar. Sim, estava lhe faltando o bigode. Ele é Murray Bartlett, o Dom, do verdadeiro e delicioso falecido seriado Looking (2014-2015), da HBO, que durou apenas duas temporadas porque a audiência não era satisfatória, mas mesmo assim ganhou um filme este ano, produzido pela própria HBO, justamente para concluir tudo e satisfazer os fãs.

Aqui já é possível compreender porque Bartlett posteriormente foi parar no seriado. Seu personagem não de todo estereotipado, e o ator, além de ser obviamente atraente, também é competente. Ele interpreta Troy, o galã de Los Angeles que deixou uma fila de corações partidos quando se mudou para Barcelona. Um tipo que diz não se apaixonar, um solteirão convicto. Tanto que os demais personagens sempre afirmam que, bem... ele é Troy! A figura conhecida, temida e ao mesmo tempo cobiçada de toda Los Angeles, o troféu inalcançável, o macho alfa entre os gays da cidade dos anjos.

Depois de cinco anos, Troy retorna a sua cidade natal para passar o verão, rever familiares e amigos, mas acima de tudo, se curar de uma provável crise existencial. Troy não é muito diferente de Dom, o do seriado. Eles possuem as mesmas características: a mesma determinação, o mesmo sex appeal. Mas Troy aparenta estar em uma crise mais sentimental, ao invés da crise profissional e dos 40 de Dom. Ele entra em contato com seu ex-namorado, justamente aquele o qual deixou sentimentalmente perturbado depois de um repentino fim às vésperas de se mudar para Barcelona.

Jonathan (Daniel Dugan) agora vive com o argentino Raul (Adrian Gonzalez), o qual, nas dificuldades de ser um imigrante, se casou com a melhor amiga de seu namorado. Raul conhece toda a história entre Jonathan e Troy, e a princípio é bastante compreensível com tudo, acreditando que a volta do ex seja importante para a cura de feridas ainda abertas e que possa tornar sua relação mais sólida e menos traumática.

E por aí a história se desenvolve, e o filme realmente é aquilo que eu esperava quando li sua sinopse. Não é abusivo, não é deliberadamente melodramático, não abusa de estereótipos e carrega toda a história com bastante honestidade sobre o ponto de vista dos três personagens, mesmo que o foco principal seja Troy.

O roteiro consegue explorar os erros e arrependimentos do protagonista, sobre sua falta de comprometimento e irresponsabilidades com sentimentos alheios de um passado imaturo. Mudar-se para Barcelona pode ter sido sua fuga da realidade em ter magoado tantas pessoas sem qualquer pretexto, sendo lá que seu egocentrismo e egoísmo se dissolveram quando ele se apaixonou por alguém que deve tê-lo feito sofrer no mesmo peso e medida. O filme não mostra nada disso, mas deixa implícito que as coisas foram assim, e ter seu sentimento ferido por alguém o fez relembrar das pessoas que ele feriu, especialmente Jonathan.

A situação que Troy se encontra não é uma praga rogada, como ele afirma algumas vezes, mas uma situação na qual todos estamos vulneráveis. É a reciprocidade que a própria vida fornece, na qual devemos aceitar e aprender a lidar.

Esses dias atrás escrevi um longo post sobre relações abusivas por conta de uma ironia, e por outra ironia assisti esse filme, no qual enxergo como um filme sobre o ponto de vista não de quem sofre, mas de quem fez sofrer. O resultado daquilo que é plantado e colhido, o inevitável futuro daquele que um dia abusou ou assediou, independente da forma.

O arrependimento, mesmo que tardio, é válido, mas isso não significa que ele conserte o passado, ele só o torna menos doloroso. Constantemente infligir dor a outras pessoas, mesmo que inconscientemente, uma hora se torna um fardo, e é esse fardo que Troy carrega. Como dito, a busca de Troy é, apesar dos pesares, compreensível e louvável, a possibilidade de curar feridas ainda abertas para que cada um possa seguir seu caminho sem tropeços ou mancadas.

A forma como Troy representa tudo isso é bem desenvolvida, um arquétipo que constantemente encontramos, ou que até já fomos algum dia.

CONCLUSÃO...
A recorrência do tema que o filme aborda é comum, e não é necessário ser gay para se identificar com tudo. Às vezes acontecimentos como esses só acontecem para nos testar, e nos mostrar que, apesar de dores e sofrimentos, certas escolhas realmente acabam sendo libertadoras.

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