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terça-feira, 8 de novembro de 2016

BURTON POUCO INSPIRADO...

★★★★★★☆
Título: O Lar das Crianças Peculiares (Miss Peregrine's Home For Peculiar Children)
Ano: 2016
Gênero: Aventura, Fantasia
Classificação: 12 anos
Direção: Tim Burton
Elenco: Asa Butterfield, Eva Green, Chris O'Dowd, Judi Dench, Samuel L. Jackson, Terence Stamp, Ella Purnell
País: Reino Unido, Bélgica, Estados Unidos
Duração: 127 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Um garoto descobre pistas que o levam para um orfanado de crianças peculiares que vivem sempre em um mesmo dia, em uma outra época, sob os cuidados de Sra. Peregrine. Mas aquilo que a princípio era mágico e fantástico, de repente começa a mostrar seus perigos conforme ele descobre e conhece mais sobre cada uma deles.

O QUE TENHO A DIZER...
Numa mistura entre X-Men, Mary Poppins e Peter Pan, existe algo em Miss Peregrine que deixa uma certa frustração no ar. O novo filme de Tim Burton, baseado no primeiro livro de uma trilogia do autor Ransom Riggs, por vezes entrega aquilo que essencialmente faz parte do seu estilo, mas por outras não. Algo que geralmente ocorre nos filmes em que ele é contratado para realizar, e não porque foi um projeto pessoal, como Frankenweenie (2012), Alice (2010), A Noiva Cadáver (2005), ou Batman: O Retorno (1992), para citar apenas alguns.

Existe uma grande diferença entre os projetos pessoais do diretor com os projetos em que ele é encaixado. É o que acontece aqui, uma produção que, mesmo possuindo características de Burton e para ele, por muitas vezes a impressão tida é contrária. Claro que há momentos em que seu estilo se destaca e traz um certo sorriso de satisfação e nostalgia ao ponto de dizermos "ah, isso é Burton!", como os personagens em si, que podem ser bizarros, mas são cativantes; os arbustos em forma de animais no jardim do orfanato, em uma referência a seu clássico Edward Mãos-de-Tesoura (1990); na batalha de bonecos em stop-motion, uma técnica na qual é apaixonado; ou na mesa de jantar, quando ele não tem receio algum de mostrar ao público infantil como Claire (Raffiella Chapman) consegue ser bastante estranha por traz de tanta doçura. Há outros momentos como esse, mas é bem nítido que Burton está pisando em um um terreno que não vemos a paixão pelo projeto sangrar pelos seus olhos.

Há uma certa apatia no ar, uma desconexão entre ele e o resto da equipe, já que a Fox começou a produção em 2011 e Burton só foi contratado em 2014. Boa parte da equipe não é a mesma com quem costuma trabalhar, nem mesmo a trilha sonora ajuda muito, talvez pela falta de Danny Elfman, seu colaborador de décadas. Até a fotografia, mesmo sendo de Bruno Delbonnel, que já trabalhou com ele em Grandes Olhos (Big Eyes, 2014) e Sombras da Noite (Dark Shadows, 2012), é possível sentir que tudo está um pouco mais aguado e/ou distante, tanto quanto esses mesmos filmes também foram, já que não são os seus melhores.

Talvez o que mais "maltrate" o diretor como um todo seja o roteiro de Jane Goldman (ironicamente, a mesma de X-Men: Primeira Classe), que não é ágil, e só vai se tornar um pouco empolgante depois de mais da metade da história, quando quase uma hora e meia se passou e todo mundo já estiver um pouco entediado com tanto vai e vem, principalmente as crianças. O que é outro grande e óbvio problema é que, embora o livro seja direcionado para um publico juvenil e jovem-adulto, o filme poderia ter um tom menos sombrio justamente para agradar os mais pequenos, pois mesmo tendo uma classificação indicativa de 12 anos, foram os mais novos que preencheram boa parte das salas de exibição.

A história a princípio parece simples, mas vai ficando complexa para coisas pequenas e pouco fluida, tendendo a piorar com o desenvolvimento dela mesma. Tudo fica meio confuso quando a intenção era simplesmente entreter, chegando num momento em que o espectador simplesmente se desliga dela e só quer saber como vai terminar. E ainda termina apressada e sem clímax, apenas com tentativas frustradas de um vilão (Samuel L. Jackson) fraco e de motivações vagas querer impressionar a todo custo com entonações vocais, gargalhadas do mal e piadinhas bem chochas. O que salva é que Samuel tem um sarcasmo muito forte e sua presença é sempre grandiosa, salvando uma cena e outra de algum bocejo.

Para as crianças ou adolescentes que pouco prestarão atenção na história mais do que no visual, definitivamente o filme poderia ter tido uma atmosfera mais receptiva, já que a intenção da história é justamente fazer aquilo que Burton sempre faz em seus filmes, mostrar que ser diferente não é um defeito, mas uma qualidade única de cada um, algo que, por incrível que pareça, dessa vez não teve muito sucesso nessa moral que no livro parece ser tão forte, segundo aqueles que leram.

Mesmo sendo mais um filme no currículo de Burton que não impressione tanto quanto outros, de qualquer forma, ainda é uma aventura fantasiosa a ser apreciada por algumas particularidades e por um elenco que, dentro do possível, é carismático em sua maioria, principalmente Eva Green (a mesma do seriado Penny Dreadful), com seus grandes e expressivos peculiares olhos.

É mais uma daquelas produções em que muita gente pode amar e outras odiarem, além de muitos fãs dos livros ficarem desapontados pelo filme não representar as coisas da forma como imaginavam, ou deixar de colocar na história elementos que particularmente gostaram ou se identificaram. Algo compreensível, principalmente no cinema comercial.

CONCLUSÃO...
A história em si é cativante, mas parece não ter o mesmo apelo na tela, e o visual se destaca muito mais do que ela própria, mesmo que menos inspirado do que Burton costuma ser.

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