Translate

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

TAMPEM OS OUVIDOS...

★★★★★★★☆
Título: Florence: Quem É Esta Mulher?
Ano: 2016
Gênero: Comédia, Drama
Classificação: 12 anos
Direção: Stephen Frears
Elenco: Meryl Streep, Hugh Grant, Simon Helberg, Rebecca Ferguson, Nina Arianda
País: Reino Unido
Duração: 111 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Florence é uma mulher que a vida toda perseguiu a carreira de cantora, mesmo tendo uma péssima voz.

O QUE TENHO A DIZER...
Depois de Julie e Julia (2009) e seu terceiro Oscar por A Dama de Ferro (The Iron Lady, 2011), parece que Meryl Streep tomou gosto por personagens reais e excêntricos, pois Florence é tão única quanto as dos dois filmes anteriores.

Embora sua caracterização como Julia Child tenha sido um tanto quanto exagerada e, por que não dizer, muitas vezes fora do tom, ela conseguiu sua 14ª indicação. Mas isso não era nenhuma surpresa, assim como não será surpresa ela ser indicada novamente por representar Florence, caracterização que chega a impressionar, mas ainda vemos a sombra de Meryl-atriz em algum maneirismo ou outro, algo que não aconteceu quando impersonou Margareth Tatcher. Independente disso, com certeza arrancará algumas gargalhadas e também alguns olhos marejados em momentos dramáticos pontuais para isso, como toda e qualquer boa dramédia, principalmente porque Meryl também é uma grande atriz de comédia.

O filme começa dizendo que a história é baseada em fatos reais, e realmente é. Existe um documentário sobre a cantora chamado Florence Foster Jenkins: A World Of Her Own (2007) que pode ser assistido no YouTube (em inglês, sem legendas). Sua história nele é bem detalhada desde antes de se tornar uma socialite respeitada e de fundar o Clube Verdi, em 1917. O interessante do filme é que ele não é detalhista na biografia de Florence, mas é possível compreender boa parte pela forma como o roteiro dispõe alguns dos principais fatos, seja diretamente, ou indiretamente através dos diálogos. A cronologia dos fatos se altera um pouco para o bem do arco dramático, mas mesmo assim é respeitoso, algo que poderia se esperar do diretor Stephen Frears, já que ele segue o mesmo tom misto que deu a Philomena (2013).

Florence aprendeu a tocar piano cedo e era muito talentosa no instrumento. Tentou estudar música na Europa, mas seu pai não apoiava a escolha. Foi então que casou com Frank Thorton Jenkins, em 1885, e um ano depois descobriu ter contraído sífilis dele. Ela o deixou e, mesmo nunca falado dele, manteve o sobrenome por razões sociais da época. Como pianista, teve que encerrar a profissão abruptamente após uma lesão em seu braço, passando a dar aulas em Filadélfia até se mudar para Nova York, em 1900, onde conheceu e morou junto com o britânico St. Clair Bayfield. Pouco tempo depois seu pai morreu, e ela ficou beneficiária de boa parte da fortuna (que praticamente duplicou após a morte da mãe, em 1930).

Com essa renda, Florence voltou a perseguir suas aspirações musicais, fazendo aulas de canto e participando ativamente de grupos e clubes de música na alta sociedade, promovendo ensaios, recitais e concertos, muitos deles beneficentes ou que fossem revertidos para cobrir eventos, atraindo a atenção das pessoas e se tornando bastante influente. Foi então que fundou o Clube Verdi, um dos maiores e mais famosos de Nova York na época.

Além de tudo, Florence doava grandes quantias de dinheiro a clubes de música, eventos sociais, culturais, e a qualquer indivíduo que batesse em sua porta pedindo "patrocínio", como acontece brevemente em uma das cenas do filme. E ela o fazia sem sequer questionar. Além de tudo, Florence era uma grande entertainer. Era inteligente, extrovertida e os eventos que promovia eram sempre os mais disputados pois ela não fazia economia. As pessoas eram sempre bem servidas das melhores músicas, comidas e bebidas, com excessão de suas apresentações que eram sempre mais cômicas do que qualquer outra coisa. E foi assim ela fez seu nome.

Portanto, a história de Florence mostra que o fato de continuar cantando mesmo sendo uma péssima cantora era porque as pessoas tinham muito mais medo de perder o apoio financeiro e o status social que ela fornecia do que magoá-la de fato. Sem saber, ela havia comprado a opinião de toda a classe intelectual e artística de Nova York, e não porque St. Clair corria pra lá e pra cá encobrindo o desgosto das pessoas, como o filme mostra de maneira bastante romântica. Até porque há uma grande dúvida se a relação entre ela e St. Clair era apenas conveniência ou se realmente havia um sentimento, algum respeito de fato.

De qualquer forma, parecia ser uma mulher um tanto ingênua e altruísta, algo que Meryl consegue passar em sua atuação. E por incrível que pareça, o timbre da atriz é bastante parecido com a de Florence. Meryl canta todas as vezes do início ao fim do filme, sem dublagens, e a similaridade com os originais de Florence são bastante impressionantes, além de hilários.

Claro que em alguns momentos o roteiro nos dirige para o drama, mas é algo previsto em um filme biográfico, afinal, qual seria a razão dele sem qualquer lágrima? O interessante é que, como dito, é respeitoso e não apelativo, momentos que se tornam um pouco mais densos nem pelo seu conteúdo, mas pela situação e atuação que são envolventes. Apelativo é o título em português e sua incrível capacidade de fazer o público perder o interesse, já que apenas pelo título transforma a produção em uma comédia pastiche e ridícula, além de dar a impressão de que ela seja "louca" porque é mulher.

Uma pena Frears levar a direção de forma muito segura e até bastante simples. Ele podia ter optado por planos mais abertos do que os fechados, principalmente nas sequências em que Florence se apresenta. Podia ter aproveitado mais o palco e a liberdade da atriz nele, e não em querer reafirmar a performance de Meryl, como que a querer nos convencer que ela é uma grande atriz e sempre merece um Oscar e destaque. Nós já estamos carecas de saber disso, mas os diretores adoram explorar a imagem dela, mais do que o trabalho que ela faz de fato, e quando fazem isso, o filme deixa de ter uma história para ter simplesmente Meryl Streep.

E falando em performance uma vez li que antes de Madonna existiu Florence, já que era muito performatica para a época, com figurinos e cenários que ela mesma mandava desenhar. Um exemplo disso foi sua fissura em se apresentar no Carnegie Hall, uma das mais importantes casas de espetáculos de Nova York, fato que não aconteceu exatamente como o filme mostra, primeiro porque as negociações demoraram um pouco, além de ser dito que Florence estava tão extasiada com a experiência que não notou a platéia rir e zombar de sua horrenda apresentação, saindo de lá até bastante satisfeita. O que a deprimiu foram as críticas publicadas nos jornais no dia seguinte, sua saúde se definhou no decorrer dos dias, posteriormente levando-a à morte.

Por fim, é uma história cômica e ao mesmo tempo trágica, pois percebemos que a música para Florence foi, de fato, um combustível de vida e uma paixão que a ajudou a superar frustrações e a não enxergar a maldade ou os interesses alheios, mas que rendeu um filme leve e bem dosado, talvez muito perfeitinho e correto no seu desenvolvimento propositalmente para render algumas indicações na temporada de premiação que começa em Novembro.

CONCLUSÃO...
A história do filme é bem próxima com a biografia de Florence, com algumas mudanças aqui e alí no desenvolvimento e na cronologia para o bem do drama, mas nada que incomode de fato, ou que diminua a curiosidade das pessoas em saber mais sobre essa figura. É um filme comum, correto e decente. Acima de tudo, respeitoso, fazendo valer a intenção em assistí-lo.

Nenhum comentário:

Add to Flipboard Magazine.