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segunda-feira, 31 de outubro de 2016

ARTIGO DEFINIDO FEMININO PLURAL...

★★★★★★☆☆☆☆
Título: Caça-Fantasmas (Ghostbusters)
Ano: 2016
Gênero: Comédia, Ação
Classificação: 10 anos
Direção: Paul Feig
Elenco: Kristen Wiig, Melissa McCarthy, Kate McKinnon, Leslie Jones
País: Estados Unidos
Duração: 123 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Após uma ameaça sobrenatural, duas pesquisadoras do tema se unem a mais duas mulheres para tentar evitar uma grande gatastrofe.

O QUE TENHO A DIZER...
Desde o segundo filme da série, de 1989, o que mais se falou foi da concepção de um terceiro. Os fãs sempre cobraram Dan Aykroyd (ator/criador/roteirista) e os demais para retomarem a franquia, e a "culpa" de quase 15 anos de atraso foi de Bill Murray, que sempre foi bastante crítico a respeito dos roteiros que recebia e achava que nunca eram bons o suficiente para superarem o segundo filme. Embora não pareça, é algo bastante comum. Foi o que aconteceu com Indiana Jones, que demorou 19 anos para ter o tão esperado quarto filme que hoje é considerado um dos piores da franquia. Portanto, às vezes, o que é bom não deve ser mexido, mesmo que a nostalgia fale mais alto. São para isso que filmes são feitos, para marcarem uma época e serem revisitados quando essa saudade bater. Pensando nisso, talvez Murray não estivesse errado, e nem Aykroyd, que não queria que a franquia fosse simplesmente explorada, por isso que nunca aceitou substituir o papel de Murray, e por isso que o projeto com o elenco original nunca saiu do papel.

Por conta disso, depois de vários problemas de produção, recusa de roteiro e diretores que entravam e saiam, o projeto finalmente foi parar nas mãos de Paul Feig, em 2014. Feig é um diretor/produtor/roteirista de comédias em Hollywood, conhecido por sempre escalar mulheres como protagonistas de seus filmes/seriados. Foi depois do estrondoso sucesso de Missão Madrinha de Casamento (Bridesmaids, 2013) que ele foi alçado para o primeiro escalão de diretores de Hollywood, e obviamente que a noticia que ele deu quando abocanhou Ghostbusters foi em dizer que o filme não seria uma continuação, e muito menos um remake, mas um projeto totalmente novo e cujo grupo de heróis seria agora feminino.

A princípio todos ficaram interessados, alguns fãs reclamaram aqui e alí, mas no geral a comoção havia sido positiva. Esperava-se um grande sucesso, tanto de público quanto de crítica. Mas não foi bem isso que aconteceu.

O filme foi lançado logo após alguns movimentos de reinvidicação de direitos em Hollywood ganharem força, dentre os quais incluem os movimentos feministas e igualitários, que reinvidicam melhores papéis e equidade nos salários com os homens. Devido à proporção que essas manifestações tomaram, a produção foi apedreijada em seu lançamento pois foi vista como uma "provocação" tanto pelo público conservador, quanto pela crítica conservadora, e o filme foi taxado de produção feminista, que incita o ódio aos homens, e coisas do tipo. Os fãs disseram que o novo filme "estragou" a franquia, e as opiniões foram de mal a pior, principalmente daqueles que não conseguem enxergar que Hollywood sempre foi machista, sexista e preconceituosa, e essas opiniões apenas refletem essa cultura absorvida de que mulheres não podem ser protagonistas, não podem ser heroínas de um filme, não podem ter uma franquia própria, devem ser submissas aos homens a todo o tempo e não podem substituí-los em um remake ou algo do tipo.

O papo chauvinista tomou proporções gigantescas, e o filme gerou uma polêmica desnecessária e negativa, que apenas aumentou o ódio contra as mulheres, ao invés de neutralizar o assunto, ou simplesmente trazer um sopro de novidade, que é o que o filme faz.

O interessante é que ele realmente é uma produção nova e que tem apenas o enredo reaproveitado. Não é uma refilmagem cena-a-cena, como Gus Van Sant fez em Psicose (1998). Não é um remake desnecessário de algum cult do passado, como Footloose (2011). O material aqui é completamente novo, para início de uma nova franquia.

Sim, participações especiais de alguns dos atores originais acontece, bem como referências diretas aos filmes originais também, mas tudo faz parte do processo, homenagens que são necessárias como políticas de boa vizinhança.

O fato é que o filme realmente é uma versão bastante feminina, mas nem por isso seja um filme apenas para elas. No geral, é um filme atual, mas com uma incrível sensação que se tinha nos filmes 80tistas de que aquela absurdez era aceitável, além de poder ser vista por qualquer faixa etária, divertindo todos à sua própria forma. O que Feig faz com o material é bastante interessante. Os diálogos não são ofensivos; as personagens são caricatas sem serem ridículas (bem... boa parte delas); os diálogos parecem improvisados, bem no estilo dos filmes anteriores do diretor; e os efeitos especiais, embora se destaquem (no sentido de artificialidade), são propositalmente lúdicos e engraçados. Não há violência banal, não há uma truculência masculina dominante. Tudo é muito neutro e divertido até mesmo quando o roteiro pisa em alguns buracos, como nunca mais dar atenção ao apresentador do museu.

Há algumas piadinhas feministas diretas e indiretas, mas que estão anos luz de serem tão ofensivas como as piadas machistas que habitualmente somos obrigados a engolir de outros filmes. Talvez a mais importante delas seja o papel de Chris Hemsworth, como o secretário Kevin. Loiro, alto, bonito, sensual, forte e burro, aquilo que seria uma mulher caso seu papel fosse feminino. É uma resposta inteligente ao sexismo existente, sutil e bem usado, bem como todas as protagonistas o tratarem simplesmente como um objeto de desejo, tal qual os homens fariam caso seus papéis fossem masculinos.

Seria incômodo se fosse verdade. E é exatamente por isso que, nesses momentos pontuais, o filme realmente incomoda àqueles que tem problemas com gêneros.

A história segue exatamente o mesmo caminho da história original, de cientistas que acreditam em entidades sobrenaturais e que tem dificuldade para provarem isso publicamente até que um cataclisma ameace todos.

Particularmente esperava um filme fraco, com piadas infames. Elas existem, bem como as piadas clichés, ou como diz a personagem em uma das cenas finais: piadas clássicas que sempre funcionam. Mas funcionam por causa das atrizes. Kristen Wiig e Melissa McCarthy tem uma química surpreendente, e mesmo que ambas repitam aqui quase os mesmos tipos que fizeram em Missão Madrinha de Casamento, elas juntas sempre funcionam. O bom é que McCarthy conseguiu deixar sua personagem durona sem masculinizá-la, como costuma fazer, e Leslie Jones complementa o grupo muito bem quando sua personagem finalmente engata na história, um tipo mandona e matrona, mas que surge entre elas no susto, sem um motivo muito bem definido, consequências do roteiro um pouco esburacado. Infelizmente o mesmo não pode ser dito de Kate McKinnon, que parece deslocada na personagem Holtzmann, sem graça e à parte, que a todo momento tenta conquistar no exagero, forçando caretas e expressões que não apenas colocam-na como uma aloprada inútil, como também as demais parecem não dar a mínima para o que ela faz. E o mesmo faz os espectadores. Poderiam ter escalado outra atriz, alguém que fosse mais naturalmente cômica.

No geral, o que se pode dizer é que Feig é um diretor feminino, no sentido de que ele realmente sabe lidar com as mulheres, abstrair o ambiente que as oprimem, dar uma leveza imponente e situações cômicas sem ser apelativo. Ele realmente consegue empoderá-las. Ainda é um homem por trás das mulheres, mas o que o diferencia dos outros é a maneira feminina como ele pensa e as dirige, e a grande discussão de gênero em Hollywood no momento, em sua essência, é sobre isso.

Por algumas vezes a impressão que se tem é que o filme se arrasta. Poderiam ter utilizado técnicas de passagem de tempo para acelerar a introdução, seja para encurtar a longa duração, ou para ter dado mais espaço aos momentos de ação ao invés de jogá-los todos para o final. Diverte mesmo assim, e a baxíssima pontuação do filme nos websites especializados são dos odiadores que irão sempre odiar. Como disse Melissa, este filme não estraga os filmes anteriores, como muita gente ofensivamente manifestou nas redes sociais. Os filmes originais estão lá, e são apenas os machistas e sexistas que querem opinar sobre isso.

E infelizmente é assim que o filme foi promovido, tanto que o título em português sequer traz o artigo definido feminino no plural para definir que AS caça-fantasmas são mulheres.

Sim, a resposta ao filme é conclusivamente mais machista do que qualquer intenção feminista que o filme pudesse ter.

CONCLUSÃO...
Embora massacrado pela crítica e por machistas de plantão, não apenas é muito melhor do que a mídia promoveu como também poderia ser uma excelente nova oportunidade para o início de uma nova franquia. Também é uma grande homenagem aos filmes originais, principalmente na parte estética e participações, que inclui a do Boneco de Marshmellow. Engraçado e nostálgico, mas que tropeçou no meio do caminho por uma inútil discussão de gênero, mas que ganhou relevância, nos mostrando que há muito caminho a ser percorrido para que essa dominância masculina seja enfraquecida.

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