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quinta-feira, 27 de outubro de 2016

É SALLY QUEM MANDA...

★★★★★★☆☆☆☆

Título: Doris, Redescobrindo o Amor (Hello, My Name Is Doris)
Ano: 2015
Gênero: Comédia, Romance
Classificação: 12 anos
Direção: Michael Showalter
Elenco: Sally Field, Mas Greenfield, Tyne Dali
País: Estados Unidos
Duração: 95 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Uma mulher tem de redescobrir como lidar com uma inesperada paixão quando um homem 30 anos mais novo se apresenta como novo colega de trabalho.

O QUE TENHO A DIZER...
Não, o título original do filme não é sobre a amiga esquecida de Nemo. E, sim, o título em português, além de cafona, não traz o mesmo humor embutido do original.

Na verdade é uma das pequenas e agradáveis surpresas do ano. Não que seja um filme estupendo, mas também não é ruim. É algo diferente, que talvez já tenhamos visto antes em alguma época, mas que ainda sim consegue ter seu charme e até um certo alento excepcionalmente por causa de Sally Field.

Ela é Doris, uma acumuladora sexagenária que perdeu a mãe há pouco tempo, com a qual viveu e cuidou por mais de 40 anos e não viu sua vida passar, nem seus sonhos se realizar, tendo como hobbie, além de colecionar tranqueiras, ler literatura romântica barata ou assistir programas de autoajuda. Ela trabalha em um escritório que a mantém no mesmo cargo há décadas por ser uma funcionária antiga, que veio agregada à uma transição que a empresa sofreu. Doris é o tipo de mulher retraída, que ninguém conhece, ninguém faz questão de conhecer, mas respeitam mesmo assim pela sua idade, e não por aquilo que é ou faz.

Tudo muda quando ela conhece John (Max Greenfield) em um elevador, e é pega de surpresa quando este se apresenta como um novo colega de trabalho. E a partir daí ela passa a alimentar um amor platônico maior que ela.

Sim, um enredo um pouco cliché, que tenta novamente transformar uma idosa em vítima de sua própria condição social e dos valores que a sociedade prega. E para diminuir a dramaticidade, trasformaram Doris em uma mulher excêntrica, parada no tempo, que não entende gírias e usa as mesmas roupas e o mesmo cabelo da adolescência. Poderia ter sido algo que usasse e abusasse das pataquadas de uma senhora desajustada para cair no humor comum e barato. Isso até acontece algumas vezes, mas que funciona por conta de uma atriz que sempre transmite uma honestidade muito forte. Não é à toa que, mesmo nos momentos mais constrangedores e típicos de comédias românticas que colocam personagens mais velhos em situações que fogem da realidade que vivem - como no momento em que Doris começa a dançar música eletrônica em sua sala, ou quando vai conhecer o líder de uma banda - conseguimos nos simpatizar com ela, deixar o constrangedor de lado e enxergar tudo como um momento libertador e sincero, que seria pequeno e infame caso o semblante extremamente motivador de Sally não fosse presente.

Claro que a vida de Doris ora se torna doce, ora amarga justamente pelas diferenças culturais e etárias em que ela se mete e das desilusões que passa por entender as entrelinhas de forma errada, nos trazendo momentos um pouco entristecedores pelo esforço que pessoas na mesma condição dela acabam fazendo para se sentirem socialmente relevantes ou aceitos. Mas fora isso, seu amor platônico se torna bastante real, ingênuo e puro, e a dificuldade que a personagem tem de lidar com isso, as marés baixas e altas desse tão conflituoso sentimento, deixa de ser dela para se mostrar algo universal, que independe de idade. 

Independente de qualquer coisa, consegue ser um filme leve, que pode não causar gargalhadas pois é ameno nas palhaçadas que poderia ser comuns em filmes similares, deixando aquela sensação um tanto purificada, como um gás hilariante que espalha um leve sorriso de satisfação pelo ar. Não digo que consiga ser um filme que faça jus ao talento de Sally Field, mas esse talento em si é tão radiante que a sensação que se tem é que quem mandou em tudo foi ela, aquela atriz que não precisa mais ser dirigida, apenas filmada.

CONCLUSÃO...
Um filme pequeno e bastante honesto sobre um amor platônico tardio, com uma personagem igualmente pequena e sincera, mas que se engrandece pela intensa e radiante presença de Sally Field.

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