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quinta-feira, 3 de março de 2016

SESSÃO DA TARDE OU DE DOMINGO...

★★★★★☆
Título: Já Estou Com Saudades (Miss You Already)
Ano: 2015
Gênero: Drama, Comédia
Classificação: 12 anos
Direção: Catherine Hardwicke
Elenco: Toni Collette, Drew Barrymore
País: Reino Unido
Duração: 112 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
A longa amizade de duas amigas é testada quando uma delas descobre estar com câncer.

O QUE TENHO A DIZER...
Quando se fala em duas amigas, na qual uma delas fica doente, é impossível não se lembrar da comédia dramática de Garry Marshal, Amigas Para Sempre (Beaches, 1988), talvez o exemplo máximo do dramalhão norteamericano feito para o público feminino.

Mas o que fez dele um clássico do lenço molhado foi a parceria perfeita de Bette Midler e Barbara Hershey, além de uma história que não apenas é comovente como também havia subtramas cômicas que davam consistência ao filme, como os altos e baixos da carreira artística da personagem CC Bloom (Midler) até sua ascensão à fama, que por consequência renderam números musicais memoráveis no filme e uma trilha sonora digna de nota, tudo feito maravilhosamente por Bette Midler.

Difícil achar um filme que seja tão cliché e, ao mesmo tempo, que tenha dado tão certo quanto o filme de Garry Marshal. Nem mesmo Chris Columbus, um dos mestres do cinema comercial dos anos 90, conseguiu fazer de Lado a Lado (Stepmom, 1998) algo tão interessante quanto, nem mesmo com Julia Roberts e Susan Sarandon encabeçando o elenco.

Portanto, é difícil esperar que um filme com basicamente o mesmo tema dê muito certo nas mãos de Catherine Hardwicke que, convenhamos, não é tão boa diretora assim para conseguir lidar com um tema tão batido de maneira que atraia o interesse do espectador como se fosse novidade.

Mesmo tendo excelentes intenções no cenário cinematográfico e de empoderamento das mulheres ao se dedicar a filmes que tenham temáticas, elenco e equipe mais femininas, além de todos os roteiros de seus longas terem sido escritos por mulheres (ou em parceria com elas), é impossível em casos como esse de evitar cair no cliché até leviano.

Foram poucas as vezes que Hardwicke realmente ousou e deu certo, como fez no filme Aos 13 (Thirteen, 2003), em Os Reis de Dogtown (Lords Of Dogtown, 2005) ou até mesmo no seu mais recente curta metragem, Till It Happens To You (2015). Tanto é assim que o esforço para levar a trama por caminhos alternativos é bastante evidente, mas a roteirista Morwenna Banks apenas roda e roda para acabar caindo no mesmo lugar.

O trabalho que Toni Collette e Drew Barrymore desenvolvem é bastante interessante e até convincente porque as duas oferecem situações dramáticas e cômicas da mesma forma e em diferentes ocasiões, equilibrando e até mantendo o filme dentro de um platô seguro que não caia nem na piada pronta, e nem no choro fácil, até mesmo quando Collette resolve fazer a clássica cena de raspar os cabelos em frente a câmera.

Mas elas carregam o filme nas costas, tanto que é possível até sentir um certo cansaço de ambas para que tudo dê certo e funcione. A direção deixa a desejar, e sua opção pela câmera constantemente na mão e excesso de planos fechados, sempre focalizando mais o rosto das atrizes do que toda a cena e sua composição, são muito enjoativos. É como se ela pressionasse o espectador para notarem como elas estão sendo hilárias ou como elas estão sendo dramáticas. Não é assim que se constrói emoções e sentimentos.

Banks desenvolve uma trama extremamente difícil para as mulheres, que é o câncer de mama e as transformações durante o processo que interferem brutalmente no psicológico e na feminilidade da mulher, como a perda dos cabelos, a mutilação cirúrgica, o medo da rejeição e preconceito. E apesar de tantos erros essas situações até são construídas de maneira respeitosa e delicada, o que é bom e até um alívio.

As tramas paralelas também se desenvolvem sem tantos exageros, mas como todos os problemas que surgem são em decorrência da doença de Milly (Toni Collette) e suas consequências, esse efeito dominó no filme não é muito bem organizado, ficando pouco convincente e aleatório, como quando Jess (Drew Barrymore) afirma que Milly tem agido como alguém que usa a doença como desculpa para seus erros e problemas, quando o que ela mais fez durante a maior parte do filme foi totalmente o contrário. E aí fica bastante óbvio que, para criar um conflito momentâneo necessário para uma reviravolta estrutural na história, o roteiro tenta nos convencer de algo que ele não havia desenvolvido com clareza até então.

A relação de ambas só vai ficar realmente complicada no fim, quando a possibilidade de Milly se recuperar diminui cada vez mais. Como todo bom drama, é nesse ponto em que as atrizes dão tudo de si e fica impossível segurar as lágrimas e se sensibilizar de fato com toda a situação.

Mas como um todo, apesar de ser um tema pesado, essa tentativa de Hardwicke e Banks em tentar optar por caminhos alternativos aliviaram bastante o peso do drama inútil, e o bom humor predomina nos principais momentos. A pena de tudo é ser uma zona complicada demais para se explorar, porque já foi explorada com exaustão por outros diretores, sendo pouquíssimos os que se bem sucederam.

CONCLUSÃO...
Em resumo é mais um filme sessão da tarde ou de domingo, e que mesmo sendo bastante feminino, não é apenas para mulheres. Catherine Hardwicke e a roteirista Morwenna Banks até tentam sair da receita comum de se fazer um drama, mas é inevitável uma hora ou outra.

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