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sexta-feira, 11 de março de 2016

DEMOROU...

★★★★★★★☆☆☆
Título: A Visita (The Visit)
Ano: 2015
Gênero: Suspense, Terror, Comédia
Classificação: 14 anos
Direção: M. Night Shyamalan
Elenco: Olivia DeJonge, Ed Oxenbold, Deanna Dunagan, Peter McRobbie, Kathryn Hann
País: Estados Unidos
Duração: 94 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Um casal de irmãos decide documentar a visita de uma semana que fazem aos avós que nunca conheceram.

O QUE TENHO A DIZER...
O indiano M. Night Shyamalan teve uma ascensão muito rápida e brusca com O Sexto Sentido (The Sixth Sense, 1999), talvez o filme que tenha realmente resgatado o terror do ostracismo que viveu nos anos 90. O sucesso do filme o catapultou, da noite para o dia, para a lista dos 10 principais diretores da época, posição que conseguiu manter, entre tropeços, até seu terceiro longa, Sinais (Signs, 2002). A partir de então, seus sete filmes seguintes desceram uma ladeira sem freio no desgosto. A única coisa que o manteve ativo na indústria foi o fato de suas produções ainda serem lucrativas por conta da curiosidade do público. Com os anos, Shyamalan se tornou um nome esquecido no tempo, ficando na memória aqueles poucos filmes de início de carreira, e na fila, aqueles poucos gatos pingados de fãs xiitas esperançosos de que, algum dia, ele voltasse à sua forma.

Desde o princípio, ele nunca escondeu sua vontade de ser um grande nome no cinema, aquele onde as pessoas conseguissem identificá-lo simplesmente assistindo seus filmes. Chegou até a citar como exemplo de objetivo, seu grande ídolo, Spielberg. É por isso que também cultiva a imagem de "diretor autoral", por também escrever histórias originais para todos os filmes que dirige, com excessão de O Último Mestre do Ar (The Last Airbender, 2010) e Depois da Terra (After Earth, 2013), adaptações dizimadas pela crítica sem dó nem piedade.

De certa forma ele conseguiu ser esse grande nome, mais pela má fama do que o contrário, porque aquilo que era pra ser um grande diferencial de sucesso, na verdade pouco significou em sua carreira. Shyamalan nunca conseguiu oferecer o mesmo impacto do seu primeiro grande sucesso, o qual sempre buscou e viveu sob a sombra, muito menos conseguiu se provar um grande roteirista. Suas produções passaram a virar piadas de críticos pelo mundo afora, que consideraram seus "finais inesperados" um padrão desconfortável porque apostavam na falta de lógica para causar surpresa fácil, se tornando experiências mais frustrantes do que surpreendentes apenas para manterem sua assinatura autoral enquanto subestimava a inteligência das pessoas.

Ele reconheceu a brusca queda de qualidade de seus filmes, e atribuiu a culpa aos estúdios, alegando que trabalhar para eles exigia abrir mão da liberdade artística.

Por isso que, na tentativa de conseguir novamente esse controle, A Visita é um filme independente e o mais barato de sua carreira.

Funcionou?

Em partes.

É claro que ele segue o mesmo estilo narrativo de todos seus filmes anteriores, a diferença é o formato documentado, desgastado ao longo da última década, mas que funciona mesmo assim por ser imediatista, já que na maior parte do tempo somos os "olhos" dos protagonistas, e é isso que facilita os sustos e justifica certa previsibilidade. Claro que há aqueles momentos que deixar a câmera ligada ou até mesmo carregá-la em todo e qualquer lugar não faz sentido, ou nos já manjados momentos de "confessionário" como acontece em todo filme com esse formato. Então, mesmo usando um estilo que ofereça mais liberdade, é impossível ignorar essas artificialidades.

Não é uma história confusa, tudo é até bastante simples e que funciona em grande parte por isso e pelo bom uso dos elementos surpresa até mesmo quando clichés. Mas o mais interessante é que, embora o roteiro de Shyamalan ainda pereça dos mesmos defeitos de sempre, como a falta de coerência de alguns fatos, ou o excesso de informações disconexas que pouco fazem sentido na história, há um humor ambíguo que intensifica a atmosfera inquieta e perturbadora que ele constrói.

Da mesma forma como fez interessante uso do ícone do herói e do vilão em Corpo Fechado (Unbreakable, 2000), aqui ele faz uso de simbologias sociais, como a de que crianças são meigas e idosos inofensivos, ou vice-versa. E quando as coisas se mostram não ser bem assim, e a bizarrice do casal de idosos junto à curiosidade ainda infantil do casal de irmãos entram em conflito, é esse contraste interessante que faz aflorar o humor negro junto ao horror clássico e mais técnico.

O diretor afirmou ter feito três versões do filme: uma cômica, uma assustadora, e outra que ficasse no meio termo. A versão final optou pela terceira opção. Óbvio que nada seria tão efetivo se não fossem os atores, principalmente a avó (Deanna Dunagan), uma figura que é esquisita logo de cara, e Tyler (Ed Oxenbould), a personificação da Formiga Atômica e do humor cartoonizado, pois os dois são os extremos dos dois estilos que se fundem muito bem e que igualmente funcionam muito bem sozinhos.

Há momentos em que muita coisa não faz sentido, que o espectador mais atento irá perceber e que não dá pra citar sem estragar as surpresas, mas são defeitos que, ao contrário de seus últimos filmes, conseguem ser perdoáveis e irrelevantes.

Mais uma vez ele aposta na reviravolta final da trama, só que deixa o absurdo de lado e opta pela simplicidade funcional como há muito, muito tempo não fazia, talvez desde Corpo Fechado. A conclusão um tanto repentina pode acabar frustrando, como geralmente seus filmes fazem, mas não dá pra negar que o fim entre num terreno de brutalidade psicológica que ele nunca havia pisado antes.

O interessante de Shyamalan é que realmente ele é melhor diretor que roteirista, conseguindo construir atmosferas apreensivas e conduzir o espectador para os temores do desconhecido que poucos outros conseguem, e ainda por cima dar um tom espiritual em tudo. O problema é que esse desenvolvimento vai tão longe e atinge um ápice com tanta força que a conclusão não consegue superar ou manter o mesmo nível, se tornando simplória demais, fadada a um final banal. Não que isso aconteça aqui, mas é o que vemos em seus filmes no geral.

Felizmente o resultado não é tão frustrante, e A Visita é um misto bem interessante de humor e terror, enquanto o primeiro é mais sutil e o segundo se fortalece mais a cada nova sequência. Independente da previsibilidade, ele cumpre os sustos que promete e vai deixar muita gente que andava desgostada, satisfeita.

CONCLUSÃO...
Se é o retorno de Shyamalan à sua forma, ou a retomada do controle criativo daquilo que ele produz, ainda é cedo dizer, mas não há dúvidas de que é o primeiro filme que realmente pode ser chamado de interessante depois de longos anos. Um pedido de desculpas àqueles que esperaram por tanto tempo algo, no mínimo, divertido.

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