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sábado, 9 de janeiro de 2016

TIME QUE GANHA NÃO SE MEXE, MAS CANSA...

★★★★★
Título: Joy - O Nome do Sucesso (Joy)
Ano: 2015
Gênero: Drama, Comédia
Classificação: 12 anos
Direção: David O. Russell
Elenco: Jennifer Lawrence, Bradley Cooper, Robert De Niro, Diane Ladd, Isabella Rossellini
País: Estados Unidos
Duração: 124 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Levemente baseado na história real de Joy Mangano, uma mulher que saiu da total miséria para se tornar uma empresária de sucesso.

O QUE TENHO A DIZER...
Quando o diretor David O. Russel trabalhou com a atriz Jennifer Lawrence pela primeira vez, ela ainda não era uma estrela de primeira grandeza em Hollywood. Foi com seu filme, O Lado Bom Da Vida (Silver Linings Playbook, 2012), que ela foi catapultada para o sucesso, pois ele lhe rendeu uma segunda indicação ao Oscar que, consequentemente, veio a ser sua primeira estatueta com apenas 23 anos.

Claro que não foi unicamente isso. Lawrence já vinha caminhando em uma sucessão de boas escolhas, mas foi com Russell que ela se estabeleceu em definitivo, e o mesmo aconteceu com o ator Bradley Cooper.

Portanto, não é à toa que este é o terceiro filme em que Russell, Lawrence e Cooper trabalham juntos novamente (e o quarto em que Lawrence e Cooper atuam juntos). Tudo isso porque, da mesma forma como foi em Trapaça (American Hustle, 2013), o filme anterior do trio, aqui vale novamente a máxima que "time que ganha não se mexe".

Russel está tão seguro disso que a fórmula já está ficando óbvia e cansada, mas ele ainda não percebeu.

Dessa vez ele contará a história de Joy (Jennifer Lawrence), uma jovem que praticamente carrega toda a responsabilidade de sua família e de sua casa hipotecada nas próprias costas (Lawrence fez algo parecido em Inverno D'Alma). Endividada e sem dinheiro para sequer pagar a conta de telefone, um dia ela acorda com a brilhante idéia de inventar um esfregão de chão após ter cortado sua mão com um copo quebrado na hora de limpar a sujeira. Com a ajuda de seu pai (Robert De Niro), de sua nova madrasta empresária (Isabella Rossellini) e de sua irmã invejosa (Dascha Polanco), ela consegue um gordo financiamento para produzir o primeiro lote de sua invenção. Depois de tudo pronto, ela não consegue vender sequer um deles. E depois de uma cascata de desastres, infortúnios e humilhações, ela consegue convencer um diretor de uma empresa a colocar seu mais novo produto em um famoso programa de televendas. E é a partir daí que a história de superação e sucesso realmente começa.

A grosso modo a história parece simples demais ou sem grandes atrativos para um filme com um elenco que conta até mesmo com De Niro (a terceira parceria dos dois também). Só que Russell, tal qual os televendedores no próprio filme, sabe vender seu produto e agregar valor a ele com uma produção de época novamente classuda (mas não tão exuberante como seu filme anterior) e exageros fictícios na história para render cenas que apelam no sentimentalismo ou na motivação, fora o elenco já citado.

Então, no fim das contas, o que se tem é um filme (no mínimo) divertido e empolgante, e o resto é aceitável, porque é tudo muito correto como ele sabe que tem que ser, até nos erros.

Por conta disso, não deixa de ser apelativo, daqueles que pedem pelo amor de deus para receber indicações a prêmios, principalmente para Lawrence. Tanto é assim que ele é cheio de cenas solo da atriz, aquelas típicas cenas para se passar no telão do Oscar. Temos Lawrence chorando com convicção, Lawrence discutindo com ênfase, Lawrence se surpreendendo com emoção, Lawrence quebrando tudo no cenário em frente a filha, Lawrence virando o jogo e saindo de cena desfilando. Enfim, vários momentos que atiram para todo o lado para chamar a atenção de jurados pelo mundo. E essa obviedade na intenção incomoda muito porque tentam fazer disso algo mais interessante do que a própria história, a qual, por si só, é cheia de problemas de continuidade e personagens mal explorados ou desenvolvidos. Os eventos acontecem todos um em cima do outro, sem intervalos que representem transições temporais convincentes, além de conflitos entre personagens que são jogados aleatoriamente na história para acentuar curvas dramáticas.

Tudo isso é feito justamente para dar dinamismo e densidade em uma história que é fraca, mas que foi desenvolvida mesmo assim com o único intuito de manter Lawrence em evidência. Desnecessário, com certeza. Todos já sabemos que ela é talentosa porque é natural e espontânea. Há um momento no filme em que sua personagem se desmonta toda para aparecer no programa de televisão, e então ela justifica dizendo que é daquele jeito que ela é no dia comum: vestindo camisa, calça e cabelo amarrado de qualquer jeito. E na realidade, Lawrence é bem isso, sendo essa a razão de seus papéis terem sempre esse apelo mais despojado, de gente comum, e não algo estrategicamente montado, até mesmo quando tentam, como acontece aqui.

Não é ruim, mas também não consegue agregar alguma coisa porque só floreando muito para levar a história de uma mulher que inventou um esfregão de chão parecer algo interessante no cinema. O que paradoxalmente é até bastante engraçado porque, mesmo no desinteresse que o título ou tema possam despertar em um primeiro momento, ele consegue ser até melhor que o esperado. Só é inevitável notar tantos truques, exageros e situações marcadamente forçadas e previsíveis, um filme literalmente fabricado para atrair uma atenção fácil e garantir seu lugar nas premiações de alguma forma, principalmente em um ano bastante fraco como foi 2015.

CONCLUSÃO...
A empreitada de Russell para transformar o longa em mais um forçado show particular de Lawrence. O bom é que ela é tão espontânea que toda essa presunção acaba caindo por terra e fazendo o filme se transformar em algo bonitinho, motivador e aceitável. Com certeza a parceria de Lawrence com Cooper tem se tornado uma coisa meio Doris Day e Rock Hudson deste século, mas é necessário que Russell deixe de usar isso como uma fórmula fácil, caso contrário o resultado será sempre essa água com açúcar que virou.

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