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sábado, 19 de dezembro de 2015

O PIOR DO ANO...

Título: Sem Retorno (Self/Less)
Ano: 2015
Gênero: Drama, Ação, Ficção
Classificação: 14 anos
Direção: Tarsem Singh
Elenco: Ben Kingsley, Ryan Reynolds, Natalie Martinez, Victor Garber
País: Estados Unidos
Duração: 117 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Um poderoso empresário resolve participar de uma experiência biotecnológica em que sua mente será realocada em um outro corpo.

O QUE TENHO A DIZER...
Tarsem é um daqueles diretores que começou a carreira dirigindo vídeos publicitários para marcas como Nike, Motorola, Pepsi, Levi's, dentre outros. Depois foi para vídeos musicais, como o clássico do R.E.M, Losing My Religion. Com essa bagagem ele então estreou no cinema com o filme A Cela (The Cell, 2000), que pode não ser lá grande coisa, mas chamou atenção pela sua luxúria visual, tanto que concorreu ao Oscar de Melhor Maquiagem.

Nascido na Índia, seus trabalhos sempre tiveram influências diversas, principalmente mitológicas, criando mundos à parte em meio a uma surrealidade original que saia de sua cabeça e se materializava magnificamente através dos trabalhos da designer Eiko Ishioka, que faleceu em 2012, pouco tempo depois de finalizar seu último trabalho com o diretor no filme Espelho, Espelho Meu (Mirror, Mirror, 2012), que lógico, concorreu ao Oscar de Melhor Figurino.

Ele também faz parte de uma pequena lista de diretores em atividade que utilizam o surrealismo para fazer disso um elemento narrativo. É fato que Tarsem nunca foi um bom contador de histórias como é Tim Burton ou Wes Anderson, diretores que visualmente se aproximam bastante do mesmo estilo, mas em contraponto sempre teve competência na hora de compor imagens e cenários ricos em cores e formas para complementar os roteiros rasos, como acontece em Imortais (Immortals, 2011), que mesmo fraco não deixa de ser visualmente orgásmico. Mas vale lembrar de Dublê de Anjo (The Fall, 2006), seu filme menos conhecido, mas de longe o melhor por conseguir unir o visual deslumbrante com uma história extremamente lúdica e cheia de sutilezas.

Que a perda de Ishioka impactou diretamente o trabalho de Tarsem, isso é inegável. E infelizmente esse impacto é visto de forma até brutal em Sem Retorno, o produto mais fraco e desprezível que o diretor algum dia ousou fazer porque, em toda sua carreira, seu estilo sempre foi criticado por ser visualmente rico, mas pobre em história e desenvolvimento. E sem ela ele não consegue entregar nem uma coisa e nem outra.

Aqui o diretor se esforça para fugir desse estigma e provar que consegue evoluir sem ostentações visuais. O problema é que tentar isso é fugir de seu estilo, não no sentido de zona de conforto, mas no de identidade. É como se ele estivesse em uma crise de personalidade, tal qual os personagens do filme, e tal qual o filme como um todo.

Tudo começa muito bem enquanto somos apresentados a Damien (Ben Kingsley), um megalomaníaco empresário que tem apenas mais alguns meses de vida em sua mansão onde tudo é banhado a ouro. Isso é só pra deixar claro ao espectador que ele tem dinheiro de sobra para investir em uma secreta biotecnologia capaz de transferir a sua mente para um novo corpo. Mesmo sem muita profundidade, o clima frio e psicológico consegue até fazer uma boa apresentação dos personagens e da situação, e fuciona bem até o momento em que o roteiro resolve, sem qualquer motivo, inserir ação à monotonia coerente de antes. E em uma situação um tanto Jason Bourne, o novo Damien (Ryan Raynolds) começa a ser assombrado por memórias estranhas que o transformam espontaneamente em uma máquina de guerra porque, em questão de segundos, ele consegue eliminar uma gangue ao ser encurralado, sem ter idéia de onde surgiram todas essas habilidades táticas e de autodefesa.

Então as coisas se perdem brutalmente com um vilão sem causa e que caça suas vítimas sem motivo, uma família que cai de paraquedas para tentar dar densidade nos fatos e uma conclusão que definitivamente não vale a pena ser assistida. Até mesmo o protagonista não é muito bem desenvolvido, e nunca sabemos exatamente qual o verdadeiro motivo dele querer manter sua mente viva, já que ele não vai poder ter qualquer ligação com sua vida passada depois do procedimento. Não sabe se é uma ficção científica, um suspense psicológico, um filme de ação, uma aventura, ou um drama. A história nem oferece background para que Tarsem pudesse ousar de alguma forma. É tudo tão comum, cliché e banal que o interesse se perde. Tudo parece muito barato, mal organizado, feito de qualquer jeito, e uma trilha sonora chata, irritante e amadora. O trailer é enganoso e o público detestou o resultado com muita razão, principalmente sua base de fãs, que esperavam, no mínimo, uma viagem ao mundo dos sonhos e da fantasia como seus filmes costumam ser.

Chega um ponto que dá até tristeza ver os atores se darem ao trabalho de algo tão pobre e ruim. Mais impressionante ainda é o diretor ter aceito rodar um filme que definitivamente não faz parte de sua personalidade artística. E é então que percebemos que o Tarsem sem um bom roteiro é perdoável, mas sem conceito visual é intragável.

CONCLUSÃO...
É um filme que se perde na pretensão do diretor em querer provar que consegue ser competente sem um conceito visual. O problema é que Tarsem fazer isso é o mesmo que um cantor querer fazer um show sem voz.

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