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quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

DESASTRE...

★★★
Título: Descompensada (Trainwreck)
Ano: 2015
Gênero: Comédia
Classificação: 14 anos
Direção: Judd Apatow
Elenco: Amy Schumer, Bill Hader, Tilda Swinton, Brie Larson, Colin Quinn
País: Estados Unidos
Duração: 120 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Uma garota com fobias de relacionamento terá de enfrentar seus medos quando se apaixona por um cara.

O QUE TENHO A DIZER...
Muito se falou desse filme por ter sido escrito e atuado por uma das revelações do humor norteamericano dos últimos anos chamada Amy Schumer. Ela é um daqueles produtos que vez ou outra surgem espontaneamente na cultura estadunidense, catapultados pela geração-reality-show, no caso dela, ao ficar em quarto lugar em um programa de stand up comedy, um estilo de comédia que é algo realmente muito popular por lá e que o povo realmente adora, principalmente quando se fala de assuntos politicamente incorretos, sexualizados e constrangedores, algo que o povo brasileiro passou a "adorar" muito na última década, mas nem chega perto do nível de idolatria que esses atores tem nos Estados Unidos.

A partir daí, entre umas participações e outras em seriados de canais como NBC e HBO, foi com o programa Inside Amy Schumer, do canal Comedy Central, que ela se destacou em 2013. O programa é uma coletânea de esquetes em que ela basicamente interpreta as piores ou exageradas versões dela mesma e que já irá para sua quarta temporada.

A história de Schumer é até interessante porque ela não foi um produto Saturday Night Live, que é basicamente a escola que costuma catapultar os melhores comediantes (ou aqueles que tem a tendência de ser) ao status de estrela de Hollywood. E praticamente sozinha conseguiu se estabelecer no mercado através de mídias alternativas, trabalhos menores e canais não muito populares. Ela mesma diz que o seu humor é construído em cima de coisas que as pessoas pouco falam ou não gostam de falar, e por isso que alguns críticos consideram o seu humor crítico-feminista, o que é bem notado nesse filme.

Na história, Amy é Amy, uma jornalista solteira e independente, que tem um bom emprego como redatora de uma revista e mora sozinha em um apartamento legal. Ela cresceu aprendendo com seu pai que monogamia não existe. Com fobia de relações sérias, ela não consegue sossegar com um homem só, embora tenha uma relação mais frequente com um halterofilista de intelecto bastante reduzido e de sexualidade duvidosa porque, bem... é fácil de enganar gente assim. Isso até conhecer um médico desportista no qual ela ficou responsável por entrevistar. Por entender nada de esportes, a entrevista é um desastre, mas o médico entende que Amy está lá apenas como uma obrigação profissional e resolve ajuda-la da melhor forma possível para que o trabalho dela não vá por água abaixo. Obviamente os dois se apaixonam, e entre crises de ansiedade, insegurança e problemas familiares, ela tenta se manter na relação.

Amy nem sequer é uma figura muito bonita ou atraente. Ela bebe, fuma maconha, é desagradável, mau humorada e sua regra número um é nunca dormir na casa de um homem. Claro que tudo isso, no filme, viram características engraçadas pela forma caricata e espontânea como ela interpreta tudo isso. Mas se você tirar Amy Schumer e colocar qualquer ator homem no lugar e trocar todos os homens por personagens femininas, o que se tem é a típica comédia romântica que costumamos assistir, onde os homens são dominantes, independentes, machistas e "pegadores", e é ao fazer isso que se percebe o tom crítico-feminista do qual se referem ao humor dela.

Neste filme o sexo frágil são os homens, não ela. Quem dorme no meio do sexo é ela, não o cara. E quem pede para o parceiro falar sacanagem durante o sexo é ela, não o homem. Na verdade os homens são até ridicularizados algumas vezes, como a personificação do latinlover que aparece logo no início do filme, como o também já mencionado halterofilista que se sente atraído por músculos, e tudo que é sacanagem que ele diz é referente a isso. E no meio desses estereótipos torcidos, sobra o homem de bom coração, trabalhador, honesto e romântico que espera por uma princesa em um cavalo branco.

Quando se analisa o filme por todo esse escopo para poder se compreender de onde vem todo o humor característico da comediante, é interessante. Mas quando lembramos que se trata de um filme de Judd Apatow, tudo se torna, como diz o seu título original, um acidente de trem. Apatow é um dos maiores produtores de comédias românticas atualmente porque muitos dos maiores sucessos desse gênero nos últimos anos é dele, começando com O Virgem de 40 Anos (The 40 Year Old Virgin, 2005), que ele também dirigiu, ou Missão Madrinha de Casamento (Bridesmaids, 2011). O problema é que ele sempre acaba abordando o politicamente incorreto de forma um tanto adolescente para amenizar o peso do humor, só que isso nem sempre funciona.

No caso de Descompensada, um filme sem qualquer história porque é basicamente uma comédia de situações que desenvolve um par romântico pra ter linearidade, tudo se arrasta por quase duas horas nesse muro entre o constrangedor e o insosso juvenil. Por ser classificado para maiores de 17 anos, faltam muitos diálogos mais aberto e escrachado. O que usaram de segundos de uma quase nudez masculina, desperdiçaram um roteiro que pudesse entreter mais e fugir do comum.

Não dá pra compreender muito bem porque o pai de Amy ocupa tanto espaço na história. Fica óbvio que a personalidade dela é muito mais parecida com a dele do que sua irmã, que é totalmente o oposto, justamente porque Amy sempre foi mais próxima. Mas sua permanência na história não desenvolve muita coisa, nem ao menos consegue ser aquele pontinho dramático necessário até mesmo dentro de uma comédia para escorrer a lágrima do olho esquerdo antes de uma piada hilária porque tudo na vida de Amy já tem motivo de sobra pra também ser um desastre.

Não tem nada de novo. Cheio das mesmas piadas fálicas e sexuais que nunca são engraçadas e das mesmas situações de casal se conhece, casal briga, casal separa e casal volta de novo e vivem felizes para sempre. Tudo clichés que tiram a história do ritmo e de propostas maiores. Libertador e diferente seria se Amy finalmente aceitasse que ela é uma viciada em sexo, que realmente detesta relacionamentos e quer viver solteira e curtindo a vida adoidada até que a idade aguente.

CONCLUSÃO...
Certamente há potencial em Amy Schumer por conta da maneira como ela constrói esse humor crítico e até mesmo na sua atuação, mas para um filme que por um lado tenta sair do comum no roteiro, e por outro tenta sempre puxá-lo para o convencional na direção, o resultado é um desastre que rende apenas algumas risadinhas entre um ou outro momento, como nas breves participações de Tilda Swinton, que está irreconhecível, longe de qualquer papel denso, dramático e pálido que ela costuma fazer. E o resto é algo comum, que não justifica tanto comentário que seu lançamento causou e é perceptível que quem gostou do filme é justamente quem já acompanha a carreira dela.

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