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segunda-feira, 30 de novembro de 2015

"BLACK... BLACK... BLACK..."

★★★★★★★★
Título: Amy
Ano: 2015
Gênero: Documentário
Classificação: 12 anos
Direção: Asif Kapadia
País: Reino Unido, Estados Unidos
Duração: 101min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Vida e obra da cantora britânica Amy Winehouse.

O QUE TENHO A DIZER...
Falar de Amy Winehouse é desnecessário. Todos nós fomos testemunhas de toda sua trajetória, assim como também fomos cúmplices do perverso sensacionalismo que cresceu a sua volta como um fungo. E também somos responsáveis porque consumíamos isso.

Chegou um tempo em que Amy não era mais a cantora, mas a viciada, a problemática, a louca e esquisita. A mídia fez disso uma moda, e ser assim se tornou cool, e Amy foi a tendência. Todos nós acordávamos já esperando encontrar na revista, no jornal ou nos trend topics do Twitter a próxima e última trágica notícia. Aliás, não esperávamos. A avidez com que fazíamos isso chegava ao nível de desejo mórbido, tamanha a lavagem cerebral atroz que a mídia criou em cima de sua persona ao ponto de sua voz ser subtituída apenas por vexames e constrangimentos quando ela queria apenas estar sozinha.

Até que um dia a notícia veio, e realmente não foi surpresa.

Portanto, falar de Amy é desnecessário.

O que é necessário falar, o documentário já o faz muito bem com acervo audiovisual que ilustra as principais fases da cantora britânica. É narrado por parentes, amigos e até seu ex-marido, além de algumas gravações de telefonemas.

Houve uma polêmica envolvendo o lançamento do documentário em que o pai de Amy, Mitchell Winehouse, acusou o diretor Asif Kapadia de ter distorcido a imagem familiar de Amy com informações inverídicas. Mitchell pediu publicamente que os fãs da cantora assistissem ao filme apenas pelo acervo nunca visto ou ouvido antes, e somente isso, porque a edição distorce principalmente a relação familiar de Amy, pontuando mais os pontos negativos do que os positivos de sua vida.

A campanha de Mitchell contra o filme não adiantou e o resultado foi totalmente o oposto, sendo de relativo sucesso pelo mundo e aclamado pela crítica por ser uma biografia sucinta baseada em materiais sólidos. Ao contrário do que o pai da cantora afirmou, o resultado final não é tendencioso, mas respeitoso e até superficial, pois boa parte do que é mostrado, chegamos a acompanhar na época. Os pontos são apenas ligados para uma melhor compreensão dos fatos e nada mais.

Entre um ou outro momento há declarações da própria cantora da relação distante que ela tinha com o pai quando criança, do divórcio dos pais, ou de "problemas familiares" que ela passava (o fato dos pais serem divorciados já é um problema evidente), mas novamente, sem entrarem em detalhes. Dessa forma ninguém é retratado como um grande vilão além da própria mídia que a sufocou, de seu ex-marido, Blake Fielder-Civil (que não é o responsável, mas foi o ponto de mudança na vida da cantora) e da grande pressão sofrida pela gravadora, resultando na desastrosa apresentação em Belgrado, na Sérvia, em 2011.

Então, na realidade, a polêmica que Mitchell criou em cima do filme é mais ilusória do que real.

Kapadia segue a cronologia como todo documentário faz, sem tentar criar uma imagem da cantora diferente daquela que já conhecemos, mas desmistificando alguns pontos, principalmente nos meses que Amy se afastou em Santa Lucia e permaneceu sóbria e suas incansáveis tentativas de se reabilitar, algo que muita gente não acredita que ela sequer tentou.

O filme deixa bem evidente logo no início quando, em um vídeo familiar, ela canta um trecho de "Happy Birthday" ou em registros de algumas audições, que ela não foi uma cantora "montada" por uma gravadora, pois até mesmo antes do album Frank (2003) ela já se inspirava nos seus ídolos clássicos até mesmo no seu visual retrô.

Chamar Amy de "artista incompreendida" soa como um resumo muito cliché e simplório porque ela era muito clara a respeito de seus sentimentos e vontades, principalmente nas músicas. A verdade é que ela era uma pessoa com fortes indícios de depressão congênita, cujos sentimentos depreciativos e autodestrutivos não precisavam de muito para serem engatilhados. Ela sabia disso, mas não conseguia lidar além do uso da música para extravasar o mundo confuso que vivia, e que se degradou aos poucos porque as drogas que passou a usar lhe traziam um alívio momentâneo de tudo aquilo. Fora a ilusão que alimentou de que elas eram a solução de seu problema.

Mais do que uma cantora genuína e expressiva, Amy também era compositora das letras e melodias. Como Tony Bennett diz, Amy deve ser colocada no mesmo patamar de Ella Fitzgerald e Billie Holliday. E ouvir isso de uma das poucas figuras ainda vivas da era de ouro do Jazz, é para ninguém discutir.

Que Amy foi um chacoalhão que o cenário musical precisava na época, é inegável. Tanto que cantoras que surgiram depois dela, como Duffy, Adele, Gin Wigmore ou Paloma Faith, reconhecem que, se não fosse por Amy, as portas de suas carreiras ainda estariam fechadas. A perda de Amy também é sentida, principalmente pelo fato de até hoje nos perguntarmos o que mais teríamos ouvido dela depois de Back To Black (2006), ao mesmo tempo que sua regravação de You're Wondering Now, uma de suas últimas, faz tanto sentido.

É um documentário simples, que ainda sim consegue ser emocionante principalmente quando a trilha sonora original e chorosa de Antonio Pinto surge para intensificar o tom nostálgico e saudoso que sempre desperta ao lembrarmos dela.

CONCLUSÃO...
Ao contrário da polêmica que Mitchell Winehouse criou sobre o documentário, o material não distorce a imagem familiar ou paterna da cantora, ele até poupa a família em não entrar em detalhes sobre isso. E sem apelar para o sensacionalismo, o filme mostra de forma sucinta através de acervo audiovisual sólido os importantes momentos de uma carreira curta, porém relevante e marcante para a história musical mundial.

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