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sexta-feira, 10 de julho de 2015

CARACTERIZAÇÃO SEM CARICATURA...

★★★★★★
Título: Transamerica
Ano: 2005
Gênero: Drama, Comédia
Classificação: 14 anos
Direção: Duncan Tucker
Elenco: Felicity Huffman, Kevin Zegers, Elizabeth Peña, Fionnula Flanagan, Graham Greene
País: Estados Unidos
Duração: 103 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Às vésperas de sua cirurgia de redesignação sexual, Bree descobre ter um filho que está do outro lado do estado, embarcando em uma viagem que a confrontará com seu próprio passado.

O QUE TENHO A DIZER...
Uma coisa interessante do cinema norteamericano é que eles realmente exploram as capacidades de seus atores, transformando-os realmente em uma ferramenta de expressão independente do sexo. Seja comercial ou não, é interessante. Isso já aconteceu anteriormente em divesos filmes, como Linda Hunt em O Ano Que Vivemos em Perigo (The Year Of LIving Dangerously, 1982), ou John Travolta como Edna Turnblad na refilmagem de Hairspray (2007). Teve também Cate Blanchett vivendo Jude Quinn em Eu Não Estou Lá (I'm Not There, 2007), e vira e mexe, de tempos em tempos, isso volta a acontecer.

Neste filme de 2005, a personagem Sabrina "Bree" Osbourne é vivida pela atriz Felicity Huffman, conhecida mundialmente pela sua personagem Lynette Scavo em Desperate Housewives. Ela interpreta uma transexual feminina (um homem que percebe sua personalidade e seu corpo como uma mulher). O filme leva este título por conta da longa viagem que cortará todo o país de leste a oeste e, logicamente, por conta de sua transgeneridade.

O dilema de Bree é o mesmo de diversas pessoas que sofrem do Transtorno de Identidade e Gênero pelo mundo e que buscam fazer a cirurgia de redesignação sexual, no caso da personagem, uma vaginoplastia. Ela está há anos na fila de espera, sendo acompanhada periodicamente por sua terapeuta e por um psiquiatra. Quando ela finalmente recebe a liberação médica, ela descobre que tem um filho de 17 anos de uma relação heterossexual que ela nem se lembrava mais. O problema é que seu filho está detido em um reformatório, e ela não sabe se viaja de Los Angeles até Nova York para ajudá-lo antes ou depois da cirurgia. Sua terapeuta acredita que ela deve ir atrás de seu filho como um último passo para saber se ela realmente está preparada para a cirurgia, já que Bree negligencia seu passado como Stanley Schupak, se referindo a "ele" em terceira pessoa, como se ambos não fossem parte dela mesma. Para obriga-la a cumprir esta inesperada última fase do tratamento, sua terapeuta ameaça não entregar a prescrição cirúrgica caso ela não se empenhe em confrontar seu passado. Desesperada, ela voa para Nova York e paga a fiança de seu filho. Com medo de dizer a verdade, ela se apresenta a ele como uma missionária cristã disposta a ajudá-lo a encontrar o caminho, já que ele havia sido preso por porte de drogas e prostituição.

A partir daí o filme se torna um road movie, já que Bree resolve voltar para o oeste norteamericano de carro, o que vem a ser uma oportunidade para que os dois passem por dificuldades típicas de filmes assim, além de se conflitarem emocionalmente e se conhecerem com mais profundidade. Claro que toda a confusa situação tenta levar a história para lados mais cômicos para aliviar o peso do controverso assunto, mas é inevitável que momentos dramáticos bastante comuns aconteçam, como a negação de Toby (Kevin Zegers) ao descobrir que Bree é, de fato, seu pai.

A história tem um desenvolvimento um tanto tropeçado. É linear, comum e fácil, daquelas que poderiam ter sido resolvidas com alguma antecedência, como no momento que Bree busca ajuda de um grupo transgênero e Toby se sente confortável no meio de todos. Era um momento bastante propício para isso, mas que não acontece justamente para esticar a história e incrementá-la com outras camadas dramáticas, como a confusa relação da protagonista com sua família desfuncional de uma mãe conservadora e religiosa, de um pai conformista e de uma irmã invejosa e problemática. Esses dois grandes focos na vida da personagem se conflitam e, no fim, nenhum dos dois é satisfatório porque se perdem no processo.

Chama a atenção unica e exclusivamente pela protagonista, que é carismática sem fazer grandes esforços. Inteligente, educada, culta e articulada, conseguimos perceber que mesmo com tanto conhecimento se dedica em subempregos por puro preconceito do mercado. A situação se torna mais triste quando descobrimos que sua família é de classe média alta, e que todas as dificuldades que passa foram por escolhas próprias para buscar a sua felicidade e realização pessoal. A caracterização de Felicity Huffman impressiona logo nos primeiros minutos sem ser caricata. A fisionomia da atriz já ajuda bastante, mas a maquiagem pesada, o exagero no uso das cores das roupas e dos acessórios e a maneira com que ela se esforça para interpretar uma mulher feminina em um corpo masculino chega a ser impressionante, até o tom de voz é mais grave. Do que aparentemente soaria como uma estereotipação dos trangêneros, essa caracterização na verdade mostra muito em como a moda se torna algo extremamente importante e particular para essas pessoas como uma extensão da própria personalidade, e como refletem seus esforços para exteriorizarem o máximo que podem a verdadeira sexualidade. Por isso essa impressão de exagero, pois é uma batalha contra a própria genética. Um corpo em construção, como diz a própria personagem bem depois de citar todos os procedimentos estéticos pelos quais passou.

Chega a ser melodramático, mas o desempenho da atriz é tão técnico e bem estudado que conseguimos ver toda a evolução da personagem como uma verdadeira transexual feminina, tanto que a atriz concorreu ao Oscar em 2006 por sua performance memorável em um filme fraco, mas que consegue ser sincero mesmo assim.

CONCLUSÃO...
A estréia do diretor e roteirista Duncan Tucker pode não chamar muita atenção pela sua história, mas o drama da protagonista, por mais simplório e cliché que aparente, se aproxima bastante das dificuldades e preconceitos sofridos pelos trangêneros frente a uma sociedade que não busca compreendê-los além do que a sexualidade física mostra. Vale ser assistido por Felicity Huffman, que desempenha um papel impressionante e bastante importante dentro de tudo isso.

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