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segunda-feira, 15 de junho de 2015

DUAS DÉCADAS DE POUCA EVOLUÇÃO...

★★★★★★★
Título: O Mundo dos Dinossauros (Jurassic World)
Ano: 2015
Gênero: Ação, Comédia, Suspense
Classificação: 12 anos
Direção: Colin Trevorrow
Elenco: Chris Pratt, Bryce Dallas Howard, Vincent D'Onofrio, Ty Simpkins, Nick Robinson, Judy Greer
País: Estados Unidos, China
Duração: 124 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
O sonho de John Hammond se concretizou, e o parque agora está aberto ao público.

O QUE TENHO A DIZER...
Quando Jurassic Park foi lançado em 1993, eu tinha apenas 12 anos. Todo o mundo ficou boquiaberto. Não é à toa que Bryce Dallas, a atriz do novo filme, comparou a importância do primeiro filme com a chegada do homem à Lua, porque foi uma revolução naquilo que se conhecia sobre efeitos especiais. Spielberg, juntamente com a Industrial Light & Magic, fizeram um favor à humanidade em recriar os animais pré históricos de forma tão realista e convincente porque foi o mais próximo daquilo que poderíamos chegar dos extintos animais que, com excessão dos fósseis, o resto era muito mais parte do imaginário humano.

Embora haja muita informação incorreta sobre eles, Jurassic Park virou referência até na ciência. Óbvio que uma moldada aqui e alí foi necessária para ficarem mais bonitos na tela, o que é algo natural dentro do cinema, mas depois disso os paleontólogos parecem ter se empenhado muito mais em provar a imprecisão dos detalhes justamente para evitar aquilo que o personagem Alan Grant propõe logo no começo do filme, de que o trabalho dos paleontólogos estaria em extinção com o avanço da tecnologia.

A primeira verdade é que o público pouco se importa com isso, pois preciso ou não, tudo era coerente com a proposta do livro de Michael Crichton.

Foi um filme revolucionário, bonito, assustador e com aquelas pitadas absurdas típicas de Spielberg. Foi feito com esmero nos detalhes, e por isso é emocionante. Uma ode à fantasia e um épico de ação que firmou o diretor como um mestre do gênero (algo que ele infelizmente se distanciou com o tempo).

Lembro que quando me falaram do filme pela primeira vez, a única coisa que perguntei foi se os dinossauros faziam aqueles movimentos "tremidos", em referência à técnica de stop motion. Essa técnica era a única noção que tínhamos sobre dinossauros e efeitos especiais nessa escala naquela época, ainda a mesma utilizada em O Elo Perdido, clássica série dos anos 70.

Como éramos bobinhos.

O significado que a computação gráfica e a tecnologia visual teve no cinema com o filme de Spielberg foi tão importante quanto foi o stop motion no início do século XX com Viagem à Lua, (Le Voyage Dans La Lune, 1902), do francês George Meliès. E eu chorei de emoção quando vi algo tão fantástico. Era como se eu estivesse lá, dentro do parque. Não havia nada mais realista na época do que o ator deitado sobre a barriga do Tricerátopes em animatronic, ou do Tiranossauro em computação gráfica correndo atrás do jipe no meio da mata, arrebentando árvores caídas e dando cabeçadas em tudo que via pela frente numa fúria instintiva que não dava tempo de piscar os olhos. E eu choro até hoje quando assisto porque, embora mais de 20 anos se passaram, esse clássico da fantasia de ação ainda impressiona mais do que muitos filmes atuais, incluindo os demais da própria franquia.

O segundo filme, também dirigido por Spielberg, utilizou os mesmos elementos do primeiro, mas o diretor fez algo mais, e só a sequência inicial já indicava isso, em que uma garotinha é atacada por uma colônia de Compsognathus. E assim foi. O suspense e o horror na luta pela sobrevivência foram intensificados de tal forma que o corpo doía na poltrona do cinema de tanta tensão, como na sequência de mais de 15 minutos de desastres, um seguido do outro, sem tempo pra respirar. Como não ter suado frio com Juliane Moore estabacada inconsciente na janela do caminhão pendurado em um precipício, em que o vidro trincava aos poucos com seu peso?

E eu chorei de novo, porque era o cinema fazendo comigo aquilo que ele deve fazer por excelência: impressionar.

O terceiro filme foi abandonado por Spielberg. Embora ele assinasse a produção, houve rumores de que ele nunca sequer pisou nos sets de filmagem, e o diretor Joe Johnston ficou um tanto perdido, bem como o roteiro. Por isso a existência do filme é quase esquecida. Esquecida, inclusive, neste novo filme.

O quarto filme é uma sequência, mas também pode ser considerado um reboot, não apenas pela mudança simbólica do nome como também pelo grande hiato de 22 anos da série.

O parque finalmente está aberto ao público, e realmente é emocionante ver logo nos primeiros minutos, ao som da clássica trilha sonora de John Williams (mas agora rearranjada por Michael Giacchino), o sonho de John Hammond concretizado com as belíssimas tomadas aéreas da nova Ilha Nublar e nas grandiosas escalas que firmam a idéia de como somos tão pequenos e frágeis que nem sequer os melhores engenheiros de estrutura do mundo são capazes de atestar nossa segurança.

Não é necessário ter assistido os filmes anteriores para entender esse, a não ser para identificar as referências jogadas aleatoriamente o tempo todo sobre eles, como preciosos souvenirs para agradar os fãs mais vorazes.

A história já começa com várias autocríticas (e também metacríticas) que se estendem por todo o filme. A principal delas é de que os dinossauros não impressionam mais. E essa é a segunda verdade.

Em 1993 as pessoas lotaram os cinemas para verem o que nunca haviam visto, e hoje elas lotam o cinema porque são fãs e esperam ver algo a mais. Na história a situação é a mesma, e por essa razão criaram um novo personagem projetado pela engenharia genética, chamado de Indominus Rex, um tipo maior, mais assustador, mais inteligente, mais tudo aquilo que alguém poderia imaginar. Seu nome parece até piada, e de fato vira dentro da metacrítica. Ele é a nova atração no intuito de manter o interesse dos visitantes (e também daqueles que estão no cinema). Justificam também que a tal falta de precisão histórica dos dinossauros é pelas modificações genéticas que eles sofreram em laboratório.

Mas espera... o primeiro filme também falava que as sequências genéticas haviam sido completadas com outra espécie, bem como os filmes seguintes também abordaram a evolução natural que eles tiveram, ou o ecossistema auto suficiente que se desenvolveu na Ilha Sorna. Então essas informações não são novas, são apenas reafirmadas para refrescar a memória de quem não lembra e informar aqueles que não sabem. Assim como também não é novo o fato do Indominus ser maior, mais rápido e até mais esperto que o Tiranossauro, porque no terceiro filme houve o Spinossauro, que nem sequer é citado no filme além de uma breve aparição de seu esqueleto.

Embora pareça, Indominus não é um dinossauro, essa é a terceira verdade. Da mesma forma como o espectador pode pensar isso, essa afirmação é feita diversas vezes durante o filme. É a metacrítica novamente, justificando os erros do filme dentro do próprio filme. Isso até ajuda a história, mas não exonera a produção de defeitos, até porque o estreante não pode ofuscar a estrela principal que é o Tiranossauro.

Se dizem as más linguas que Spielberg abandonou completamente o terceiro episódio da franquia, aqui é evidente sua presença. Basta notar as formas como as cenas tentam gerar impacto. São cenas clássicas de Spielberg. É como se ele tivesse pego a câmera das mãos do diretor Colin Trevorrow e falado: Deixa que eu faço isso!

Não há como negar que a história tenta se embrenhar na atualidade ao mesmo tempo que almeja conquistar um público que não é mais familiarizado com sutilezas. A linguagem do cinema hoje está mais dinâmica, mais bruta e pesada, sem tempo para diálogos de duplo sentido ou uma ironia mais refinada. Se em 1993 era assustador um Tiranossauro devorar um homem que esperava sentado em uma privada para ter um efetivo alívio cômico na brutalidade, hoje isso causa apenas risadas e nada mais. E voltando na idéia de que dinossauros não impressionam mais, é por isso que o tom cômico aqui é maior. E graças a Chris Pratt, encarnando um tipo Indiana Jones de ser, que o humor de todo o filme parece muito mais parte da personalidade descontraída e aventureira do herói que ele interpreta do que um simples pastelão insosso.

E vale ser dito: é nesse filme que descobrimos porque Pratt se tornou o novo astro de ação. Mas não daquela ação bate-e-arrebenta de Dwayne Johnson ou Jason Stathan, mas aquela mais caricata, embutida de humor físico e carismático. É o Harrison Ford da nova geração. Até Bryce Dallas tenta retomar um tipo de heroína atualmente esquecido no cinema, daquela que arregaça as mangas, mas não tira o salto alto por nada, uma Willie Scott atualizada. Aliás, os sapatos da personagem é o que mais se ouvia comentar na sala, e que até rende uma cena rápida e bem feita em câmera lenta enquanto bate os saltos em fuga do Tiranossauro, num estilo meio Brian De Palma em Femme Fatale (2002). É a piada pronta, a sátira e o cliché para que não nos esqueçamos em momento algum que o Mundo dos Dinossauros é unica e exclusivamente um entretenimento.

Por isso, o que vemos ao longo das duas horas são os mesmos clichés e personagens estereotipados de sempre, e que sempre fizeram parte não apenas dos filmes da série como também desse gênero de ação com certo tom satírico que Spielberg definiu tão bem com seus filmes nas décadas de 80 e 90. Há o herói charmoso e engraçado, a mocinha que grita mas é dura na queda, o bandido que quer ficar rico, os pamonhas que morrem fácil e as crianças que dão trabalho. O maniqueísmo é óbvio, e os estereótipos que facilmente geram conflitos no arco dramático para convergirem ao final feliz são clássicos. Sim, igual ao primeiro. Igual ao segundo. E esta é a quarta verdade.

A quinta verdade é que ele vai agradar qualquer tipo de pessoa porque ele foi construído para isso. Não há ousadias. É tudo parte de uma fórmula pronta, repetida diversas vezes, e executada corretamente, como um prato aprovado no MasterChef. Realmente há exageros desnecessários, como a dos animais passarem a se comunicar como se estivessem numa reunião na praça. Mas isso é o cinema blockbuster em sua forma mais óbvia, não há como ser diferente, por mais que pudessem ter sido, já que tiveram 22 anos anos para isso. 

O defeito maior de tudo fica a cargo de tanta informação ao mesmo tempo deixar tudo muito raso, principalmente na relação entre os personagens, ou a presença das crianças também nem causar o mesmo impacto de fragilidade que tinha nos dois primeiros filmes. Não há sequencias que realmente impressionam e tiram o fôlego como já tiveram no passado, com excessão do ataque das aves, algo introduzido no terceiro filme e usado em larga proporção agora. O espectador até se esforça para se sentir impressionado, e os efeitos especiais também, principalmente dos animatronics, que parecem reais.

Ainda acredito que o 3D tem muito a evoluir, e no caso desse filme essa tecnologia mais incomoda do que ajuda. Ela nos dá noção de profunidade, mas diminui muito a qualidade visual do filme. Perde-se muitos detalhes do próprio cenário e suas composições, principalmente quando (como sempre) o dia vira noite no ápice da ação para facilitar o uso da computação gráfica, e tudo com o óculos desconfortável mais parece um filtro mau usado do Instagram do que uma experiência imersiva. Logo, se puder evitar as cópias 3D, evite.

O resultado de tudo é apenas uma leve satisfação. A intenção da franquia sempre foi entreter e nos levar para um mundo até então desconhecido, mas que hoje, depois de ter sua fórmula repetida diversas vezes, virou algo familiar e previsível que ainda diverte, mas muito mais no sentimento nostálgico do que naquele sabor de novidade.

CONCLUSÃO...
22 anos podem ter reacendido o interesse pelas pessoas nos dinossauros de Spielberg, mas não fizeram tão bem assim à franquia, já que a produção ainda se utiliza das mesmas fórmulas de sempre para construir sua narrativa e os personagens rasos, muito embora Chris Pratt e Bryce Dallas conseguiram até fazer milagres com pouco e entregar momentos cômicos sem soarem pastelões ou fora de lugar. Cheio de piadas prontas e referências aos filmes anteriores, diverte muito mais como uma sátira de ação, até porque com tanta metacrítica embutida para justificar seus erros e defeitos, fica difícil não interpretá-lo assim.

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