Translate

terça-feira, 30 de junho de 2015

AGORA SÃO ELAS...

★★★★★★★★
Título: Mad Max: Estrada da Fúria (Mad Max: Fury Road)
Ano: 2015
Gênero: Ação, Ficção
Classificação: 16 anos
Direção: George Miller
Elenco: Tom Hardy, Charlize Theron, Nicholas Hoult, Hugh Keays-Byrne
País: Austrália, Estados Unidos
Duração: 120 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Max está de volta, e tão enraivecido como antes, mas agora para ajudar um grupo de mulheres que de frágil elas tem nada.

O QUE TENHO A DIZER...
Antes de existir Velozes e Furiosos, Jogos Vorazes, Divergente, Maze Runner e qualquer outra história que envolva vinganças ou um mundo distópico, consumidos como água nos cinemas pelos adolescentes, existiu Mad Max, que era consumido por adolescentes e adultos em uma época que o cinema de ação sujo e pesado não tinha medo de ousar e ir sempre um pouco mais além dos limites.

Tanto que 1979 o cinema comercial australiano se destacou no mundo com o primeiro filme da série contando a história de Max Rockatansky, um oficial que trabalhava pela paz e justiça, mas de repente se vê tomado pelo ódio e vingança após sua família ser assassinada pelas gangues que ele perseguia. Max se transformou no símbolo da frieza, da fúria e do sangue que escorria dos olhos, um errante solitário que, com nada a perder, jogou sua vida na roleta da sorte enquanto se embrama em situações suicidas na busca de sua paz interior e humanidade de volta.

É... até parece um monte de baboseira, mas o que realmente chamou a atenção foi como George Miller, autor e diretor de toda a série, construiu o universo baseado na força motriz da violência, que é o poder acima de qualquer coisa, e fazê-lo de maneira supreendente através de simbologias e linguagem própria. Mad Max é em plena Terra o que Guerra nas Estrelas é no espaço, ou seja, um épico de ficção que construiu um universo de vida própria.

O herói é um daqueles icônicos personagens que tem uma personalidade tão marcante que é como se ele realmente existisse. O fato de ter um passado traumático que o fez se jogar no mundo, sem rumo e sem destino, ajudando pessoas que acabam cruzando seu caminho, dá liberdade para que ele seja inserido em qualquer situação. Seja cinco anos depois da história original para ajudar os habitantes que sofrem com as guerras em meio à crise energética do segundo filme, ou quinze anos depois para ajudar a comunidade jovem do terceiro filme enquanto tenta, em meio a tudo, o respeito de Bartertown. Ou seja, Max é o Chuck Norris de Miller, e ele se dará bem seja fazendo uma torta, seja em uma briga de foice no escuro.

A quarta continuação da série esteve em um inferno de decisões por anos. Sinal verde era dado, projeto era engavetado. O projeto voltava em pauta, engavetavam de novo. E isso desde 1998. O atentado de 11 de Setembro, problemas com o orçamento, as polêmicas envolvendo Mel Gibson, a Guerra do Iraque, tudo isso foi razão para esse vai e vem da produção que, por fim, foi abandonada.

Em 2010 as coisas finalmente engatilharam, e a produção teve início em 2011. Mel Gibson foi trocado por Tom Hardy e Charlize Theron foi incluída no elenco para trazer força e renovar o interesse, mas tudo sempre mantido em segredo. As filmagens terminaram em 2012, mas algumas cenas precisaram ser refeitas em 2013, e só agora o filme foi lançado.

Embarcando na atual onda das franquias que pararam no tempo, esse novo filme é um reboot ao mesmo tempo que também é uma continuação direta ao primeiro filme, logo após Max perder sua família. Mas não é especificado a ordem cronológica dos fatos além disso justamente para dar liberdade para que esse universo pudesse ser ampliado sem limitações para futuras continuações, o que já foi confirmado pelo próprio Miller que afirmou ter outras duas histórias prontas e que manterão Hardy como protagonista.

Não é necessário ter assistido nenhum dos filmes anteriores para compreender ou se interessar por esse, muito embora (re)assistir o primeiro é interessante para compreender melhor de onde vem a personalidade bruta e solitária do protagonista, além das referências visuais pós apocalipticas que são bastante utilizadas aqui. Mas é sempre bom e interessante saber e ver de onde tudo veio, principalmente aqueles que acharem que é simplesmente mais um filme de ação violento qualquer.

O filme já começa de forma um tanto nostálgica nos créditos iniciais com as fontes em vermelho que destacam os nomes dos protagonistas, parecido como era antigamente. Logo em seguida notamos a reestilização da série com a fotografia saturada para detalhar a beleza das paisagens inóspitas e os contrastes entre tons mais frios e quentes, aumentando bastante a sensação quente, seca e desértica, ao ponto de dar muita sede em quem assiste. Se trata de um filme atual, com linguagem visual moderna, dinâmica e expressiva, mas a intenção de ser quase um "western sobre rodas", como o próprio Miller descreve, é bastante óbvia por conta da rustidez dos personagens, da poeira que chega a fazer o olhos lacremejarem, da hostilidade do ambiente que Max está, e da luta pela sobrevivência ser uma filosofia de vida.

O ambiente árido de sempre, de um futuro esgotado de água e reservas energéticas, a clássica jaqueta, o Pursuit Special (seu carro original), os vilões mascarados, armaduras e equipamentos biomecânicos que se misturam entre tecnologias arcaicas e modernas, veículos estilizados, com improvisadas adaptações em cima de equipamentos saqueados pelas gangues, explosões, sangue e areia... tudo isso é o Universo visual único de Mad Max que funciona e impressiona do começo ao fim. É incômodo, e foi feito para ser, tal qual os anteriores. É um tipo de ação hiper realista que o cinema esqueceu como se faz, e da mesma forma esqueceram as pessoas de como ele é.

Tudo já começa tão intenso que 60 minutos se passam e a impressão que se tem é que o filme ainda está em sua sequência inicial. Boa parte dela quem comanda é Furiosa, enquanto Max está acorrentado em um carro como um parachoque humano.

Mas vale dizer que, embora o título leve seu nome, Max na verdade é um coadjuvante, e a personagem de Charlize é tanto quem participa mais ativamente na história como também quem rouba as cenas, funcionando como mais uma inclusão feminina importante na série tanto quanto Tina Turner foi no terceiro episódio. Furiosa se engrandece tanto no filme que só sabemos que Max existe porque o título do filme tem seu nome, e isso não é ruim porque faz parte da expansão desse mundo pós apocaliptico, além de incluir no cinema mais uma heroína no hall das mulheres fodas que qualquer homem pode ter medo, justamente numa época em que elas questionam com muita razão suas participações em filmes de gênero (considerados) "masculinos", como são os de ação violentos como essa série.

Isso não vira mérito apenas de Furiosa, mas das outras personagens também, como o grupo que a protagonista defende, de belas mulheres que parecem tiradas da grécia antiga. Isso pareceria cliché sexista, já que existiriam para agradar o público masculino, mas a situação fica bastante engraçada quando eles (incluindo os espectadores) são facilmente manipulados pela imagem frágil que elas passam. Também é interessante quando aparece uma jovem indefesa gritando por socorro e aparecem seus capangas no momento em Furiosa se aproxima dela, cena memorável.

Esse jogo em cima de clichés sexistas é muito forte, feito de forma sutil e inteligente, que não queima sutiã algum, única e simplesmente mostra que fragilidade não existe quando não se quer ter.

Miller não poupa na violência e nem no "politicamente incorreto" pra deixar o filme mais "leve", pelo contrário... ele mantém forte o renascimento do ozploitation que ocorreu na Austrália nos anos 70, em que filmes sangrentos foram produzidos em massa após a adesão das classificações etárias no país. O diretor coloca grávidas e idosas apanhando em cena e até uma sequência com um feto que vai fazer muita mãe chocada desistir e achar o filme de mau gosto. Pois é... Assim como o universo de Frozen é lindo, fofo e mágico, o de Max é um verdadeiro inferno, e ele fala algo equivalente a isso logo no começo. Por isso sua classificação etária é 16 anos.

As cenas de ação se desenvolvem muito bem. São exageradas, bem feitas, dentro dos níveis aceitáveis do absurdo, só que o desenvolvimento da história deixa a desejar. Por vezes chega a ser superfical demais, e muitas das coisas que não são explicadas se transformam em uma certa "mitologia" dentro do mundo de Max que não dá pra entender bem porque está lá. Isso atrapalha? Não. Até porque se tivessem explicado detalhadamente qualquer pormenor, ele deixaria de ser esse filme de estrada sem estrada que só faz você respirar por um momento. Tempo necessário pra levantar e ir ao banheiro, se você não quiser pausar.

Mais do que um filme de ação, o novo filme da franquia inflama alguns orgulhos machistas masculinos que ironicamente dão aquilo que os americanos chamam de U Turn na situação, e agora o protagonista tem de entregar o rifle para a mulher da história porque, das três balas, conseguiu errar dois tiros.

Muito bem mandado Miller.

CONCLUSÃO...
Para os homems amantes de violenta ação, Max está de volta. Para as mulheres que acompanham os homens amantes de violenta ação, Max está muito bem acompanhado, e ela rouba o filme dele.

Nenhum comentário:

Add to Flipboard Magazine.