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quinta-feira, 13 de novembro de 2014

MARVEL NO ESPAÇO...

★★★★★★
Título: Guardiões da Galáxia (Guardians Of The Galaxy)
Ano: 2014
Gênero: Ação
Classificação: 12 anos
Direção: James Gunn
Elenco: Chris Pratt, Zoe Saldana, Dave Bautista, Lee Pace, Michael Rooker, Djimon Hounsou, Glenn Close, John C. Reilly, Benicio Del Toro, Bradley Cooper, Vin Diesel
País: Estados Unidos
Duração: 120 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Um grupo de criminosos espaciais devem trabalhar juntos para impedir um fanático vilão de destruir o universo.

O QUE TENHO A DIZER...
Se teve uma coisa que a Marvel aprendeu com alguns erros foi descobrir a fórmula correta para adaptar seus heróis e agradar todos os tipos de público, desde os fãs mais exigentes até aqueles que entram no cinema apenas pra comer pipoca e matar o tempo vago, seja criança ou não. A empresa, que já era uma gigante dos quadrinhos, transformou seu estúdio e produtora em um dos bens mais valiosos da indústria atualmente. Não é por menos. Seus filmes mais importantes, em um período de 15 anos, já arrecadaram uma soma que beira os 10 bilhões de dólares, uma marca que outros grandes estúdios não conseguiram alcançar nos últimos 20 anos, além de também deterem o terceiro lugar entre os mais rentáveis da história com Os Vingadores (The Avengers, 2012), um recorde que poderá ser superado com a(s) continuação(ões) seguinte(s).

O que aconteceu com Guardiões da Galáxia foi um fato curioso. Embora o buzz criado desde seu anúncio até o lançamento tenha sido muito grande e a estréia satisfatória por conta do massivo marketing típico com o recorde de mais de 4 mil salas de exibição, na segunda e terceira semanas ele caiu de posição, o que fez parecer que sua arrecadação não iria muito longe além de pagar seu orçamento de US$170 milhões. Porém as críticas favoráveis e o boca-a-boca foram mais fortes, e essa reunião inusitada de heróis disconexos atraiu a simpatia do público que injetou a nitroglicerina que faltava para o título retomar o primeiro lugar nas bilheterias que se manteve por quatro semanas. Um acontecimento raro. O filme surpreendentemente cresceu por si só e agora não apenas é considerado uma das melhores produções da Marvel como também uma das melhores adaptações já feitas, arrecadando quase US$800 milhões pelo mundo, um sucesso merecido que fez o diretor e roteirista James Gunn agradecer publicamente nas redes sociais o apoio e as críticas positivas recebidas, diretor muito pouco conhecido, que possuia nenhum título muito relevante até então.

Esse fato curioso já é seu mérito, e vale ser assistido por isso e também para entender como heróis não muito difundidos na cultura pop mundial conseguiram se engrandecer de tal forma a conquistar uma média de mais de 60 milhões de pessoas (fora aquelas que os conhecerão por home video). Conhecidos para quem devora quadrinhos, mas para os demais era como se fosse uma grande novidade.

A Marvel resolveu investir neste grupo para trazer ao seu universo uma saga espacial, talvez para reacender uma chama apagada desde os anos 90 e que foi reacesa com muito custo com a retomada da fraca primeira trilogia de Star Wars e o reboot de Star Trek, que era até o momento o dominante no gênero. Por conta disso não é à toa que há muitas similaridades entre Peter Quill e Hans Solo, Rocket e Groot com a dupla R2D2 e C3PO (ou até mesmo do próprio Groot com o peludo Chewbacca), e toda a ambientação ser muito característica da filosofia pluralista do universo Star Trek

Claro que a história vai ir e vir entre esses dois grandes clássicos e beber de suas fontes de maneira inesgotável, mas por incrível que pareça consegue soltar entre alguns momentos e outros uma certa originalidade por agregar a estas referências a atmosfera mais fantástica do mundo dos quadrinhos com vilões superpoderosos, artefatos ameaçadores e pessoas comuns que, para se redimirem de seus erros passados, se transformam em heróis.

O grupo não podia ser mais esquisito, e é formado pelo saqueador Peter Quill, um órfão roubado da Terra nos anos 80 e que levou consigo um walkman, a única memória de sua mãe, no qual ainda ouve insistentemente há 26 anos os mesmos clássicos pop gravados em um K7; a assassina Gamora, também órfã e adotada por Thanos, o soberano dos vilões; o criminoso Drax, que teve sua família assassinada e agora busca vingança; o guaxinim Rocket (muito bem dublado por Bradley Cooper), um caçador de recompensas que trabalha junto com seu amigo e parceiro Groot, um monstro planta e talvez único de sua espécie.

Pelo fato de todos terem em comum a perda de algo muito valioso de suas vidas e se identificarem com isso, na idéia da "união faz a força", eles se unem primeiramente para fugir de uma prisão de segurança máxima e acabam entrando de gaiato numa jornada espacial para evitar que um importante artefato capaz de destruir todo um universo caia nas mãos de Ronan, ou de Thanos.

Ao longo dos 120 minutos de filme os laços de amizade e a relação co-dependente que cada um cria sobre o outro vai parecer um pouco forçada e apressada demais, mas isso vai ser um mero detalhe frente ao grande épico espacial que é apresentado principalmente ao público infanto-juvenil. O planeta futurista, cheio de Lady Gagas, pessoas coloridas e tudo que se pode imaginar para se distanciarem o mais possível de qualquer referência terrestre infelizmente se perde no seu próprio exagero, principalmente pelo fato de grande parte do filme ser em computação gráfica, o que acaba enjoando com tanta imagem plástica e artificial, confusa em diversas sequências de ação ao ponto do espectador perder pontos de referência ou até mesmo o que de fato acontece.

A história é fraca e repetida, nada que qualquer outro filme de super heróis não tenha abordado antes, e o que ganha são mesmo os personagens e essa relação conflituosa como a de pessoas que falam diferentes línguas, mas se entendem de alguma forma. Nada muito ousado poderia ser esperado da Marvel, adquirida pela Disney em 2009 e que definitivamente limitou muito suas liberdades de criação para se adaptarem às filosofias infantis da marca do Mickey. Ao menos o que os diferencia de outros heróis é a natureza pouco correta de cada um e as piadas bem encaixadas que ainda não se sobrepõem aos clichés exagerados ou frases de impacto imediato, mas funcionam mesmo assim. Obviamente que o guaxinim e seu monstro amigo serão o núcleo cômico, como é a tendência de toda fábula que incrementa um filme que não é de animação. Previsível, mas que também não atrapalha por ser bem dosado. São outros detalhes que trazem graça a produção, como o hiper literal Dex, que grandalhão como é, tem pensamento profundos e frases bem elaboradas de vocabulário muito correto, ou até mesmo Peter Quill, o personagem central, cheio de piadas irônicas e metafóricas que levam os extraterrestres à loucura. Detalhes muito simples e funcionais para quebrar a seriedade de algumas sequências.

É a produtora dominando mais uma vez o cinema de ação fantástico, confortável numa fórmula que ainda funciona e tem seus atrativos, mas o susto tomado pela oscilação que o filme a princípio sofreu nas bilheterias antes de novamente alçar seu voo é um indício de que mais uma vez salvar o planeta ou o universo do mal não deve ser mais a única alternativa para se desenvolver uma história de heróis.

CONCLUSÃO...
É Marvel sendo Marvel e moldada pela Dis ney. Um filme basicamente de computação gráfica, que vale a pena pela relação disconexa de personagens com gritantes diferenças de personalidade e que desenvolvem uma relação interessante, mesmo que rápida demais e pouco convincente nas duas horas do novo épico espacial.

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