Translate

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

A VOLTA DO BRUCUTU...

★★★★★★
Título: Hercules
Ano: 2014
Gênero: Ação, Guerra
Classificação: 14 anos
Direção: Bratt Ratner
Elenco: Dwayne Johnson, John Hurt, Rufus Sewell, Ingrid Bolso Berdal, Aksel Hennie, Ian McShane, Reece Ritchie, Joseph Fiennes.
País: Estados Unidos
Duração: 98 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Depois de seus 12 trabalhos virarem lenda e se dissipado por toda a Grécia, Hércules agora é procurado pelo rei de Tracia e sua filha para ajudá-los a sair das garras de um grande tirano.

O QUE TENHO A DIZER...
Me lembro que nos anos 90 houve uma publicação sobre um filme de Schwarzenegger (ou Stallone?) depois de um tempo sumido e o nome da matéria era exatamente "A VOLTA DO BRUCUTU", e não pude encontrar melhor título do que esse para falar de Dwayne "ex-The Rock" Johnson no primeiro filme a levar apenas seu nome no cartaz definitivamente como um astro de um filme épico e não mais como um ex-lutador que virou ator por consequência.

Ainda está para ser feito um filme que utilize a Mitologia Grega como se deve. É inacreditável a capacidade que Hollywood tem de destruir grandiosas lendas e mitos a favor de seu próprio enaltecimento, como se tudo fosse um produto deles mesmos. Talvez os únicos que até hoje tenham captado bem essa fantasia, mesmo com todas as limitações técnicas da época, foram os clássicos Jasão e o Velo de Ouro (Jason and The Argonauts, 1963) e Fúria de Titãs (Clash Of The Titans, 1981), sendo este último vencedor de um remake sofrível em 2010 e de uma continuação mais sofrível ainda em 2012.

Não se pode negar que muito do dinheiro que os estúdios tem investido de maneira muito banal na Mitologia nos últimos anos tem a ver com os rumores que surgiram em 2007 de que a série de jogos God Of War, produzida pela Sony, seria adaptada ao cinema. Isso deu oportunidade para outros grandes estúdios criarem uma onda precipitada de interesses no tema que resultou em filmes fracos que cansaram o público ao ponto desta adaptação agora ser uma grande interrogação.

Hércules é mais um filme que surgiu nessa pós-safra, além de ter sido lançado seis meses depois de outro filme também sobre o semi-deus, mas estrelado pelo loiro Kellan Lutz. O primeiro filme foi tão mal recebido pela crítica e pelo público que o filme com Dwayne Johnson virou uma preocupação. De fato, muito do modesto desempenho nas bilheterias foi por conta tanto dos sucessivos fracassos de Hollywood, como também por ter sido precedido tão recentemente por outra péssima adaptação sobre o mesmo personagem.

Que o personagem é o mais popularmente conhecido e o mais adaptado no cinema e na televisão, isso não há dúvidas, o que dá sempre aquela sensação de que não iremos ver nada muito diferente. É baseado nesse senso comum que os roteiristas brincam logo no princípio, quando o contador de histórias, sobrinho do herói, narra de forma resumida e grandiosa algumas de suas principais vitórias para impressionar os inimigos. Tudo é feito da maneira como seria qualquer grande épico, fazendo jus principalmente à imagem truculenta do ator principal no meio de efeitos especiais caprichados, como o público sempre espera. Mas em seguida a narrativa engata um tom debochado que será o grande responsável por alguns interessantes diferenciais, como a tentativa de desmistificar figuras mitológicas como os centauros e o Cerbero e até mesmo humanizar a própria figura de Hercules, criando a dúvida se ele era apenas um homem muito forte ou realmente um semi-deus.

Neste filme Hércules agora é um mercenário oportunista que se beneficia da sua fama para disseminar o medo e vencer seus inimigos antes de combate-los, o que deixa suas recompensas cada vez mais altas no mercado. Ao contrário do que imaginam, ele não faz isso sozinho, tendo o auxílio de seus fiéis companheiros: um vidente, um atirador de facas, uma arqueira, um guerreiro suicida e o próprio contador de histórias. Este é o mais próximo de uma péssima conduta do herói que já ousaram chegar, uma abordagem diferenciada que foge um pouco da visão mais ocidental criada por Hollywood e se aproxima mais daquilo que a mitologia o descreve. 

O roteiro tenta recriar fórmulas de alguns títulos épicos do passado, mas que pereceram com o passar das décadas. Embora atores como Jason Stathan e Vin Diesel já ocupem o espaço deixado por Stallone, Mel Gibson, Kurt Russel ou Steven Seagal, Dwayne agora ocupa aquela vaga de ator bruta-montes que outrora foi de Schwarzenegger, que bate sem rodeios e esmaga ossos sem fazer qualquer esforço. Tentaram fazer isso com Jason Momoa, até deram a ele o papel de Conan no remake, mas mesmo sisudo tal qual o ator austríaco, é o ex campeão de luta-livre que agora traz embutido o mesmo carisma carrancudo que Hollywood finalmente pode ressucitar. Claro que o filme não consegue explorar muito bem essa imagem truculenta de bom coração do ator como já conseguiram em seus outros filmes, ou tal qual conseguiam fazer com os filmes de Schwarzie, mas a presença de Dwayne em si já deixa claro que, mesmo no meio de toda a violência explícita, sangue e cenas de batalha até muito bem coreografadas, tudo é um grande entretenimento e não deve ser levado a sério principalmente quando ele faz os inimigos voarem com um simples murro, virar um cavalo de guerra ao chão com as próprias mãos ou sair voando com duas rochas penduradas em seus braços.

Para quem conhece a série God Of War encontrará muitas semelhanças em vários aspectos, seja nas cenas de ação, seja em algumas tragédias que se revelam no decorrer da história e na forma como são mostradas. Mais uma produção que pega carona no boato de uma adpatação que nunca saiu do papel, como uma adaptação não autorizada. Até a animação dos créditos finais só não é idêntica a dos jogos por pequenas diferenças. Vale lembrar que quando os rumores da adaptação dos jogos surgiu, houve boatos de que Brett Ratner era cogitado para a direção e Dwayne Johnson para personificar o implacável personagem Kratos, entitulado o Chuck Norris da nova geração. Talvez tantas semelhanças dessa produção com os jogos tenham algo a ver com isso.

A direção de Brett Ratner é correta e segura, mas ele está longe de ser um grande diretor, derrapando quando tenta aliviar toda a sopa de sangue entre alguns momentos bobos e outros, como é de costume nos seus filmes. A história felizmente não cai em muitos clichês sentimentais, nem tenta criar interesses românticos ou outras situações que vitimizem demais o personagem, mas Hollywood ainda tem medo de ser mais ousada e insiste em criar atitudes altruístas e hiper-heróicas para deixar bem situado que ele é um herói por excelência, como que a dar contra-peso à imagem mais selvagem que deram a Hercules nesta adaptação, que foi muito bem vinda, mas não atinge o impacto que poderia. É a visão exagerada e norte-americana sobre um personagem mitológico que, assim como todos da cultura grega, também é dotado de grandes defeitos.

CONCLUSÃO...
Infelizmente alguns diferenciais o salvou de desastres, mas não o salva de não saber em que terreno pisa. Não sabe se quer ser engraçado, chocante ou realista. Não sabe se quer levar Hercules a sério ou se querem debocha-lo. Não sabem se querem atingir o público adulto ou o adolescente. Não sabe se é um filme de guerra ou de ação. De qualquer forma, dentre todas as produções com abordagens mitológicas nos últimos anos, este talvez seja o mais aproveitável. Grande destaque para o desenho de produção, as locações e cenários deslumbrantes.

Nenhum comentário:

Add to Flipboard Magazine.