Translate

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

NÃO COMO UM TODO...

★★★★★
Título: Mapa Para As Estrelas (Maps To The Stars)
Ano: 2014
Gênero: Drama
Classificação: 16 anos
Direção: David Chronemberg
Elenco: Julianne Moore, Mia Wasikowska, John Cusack, Olivia Williams, Evan Bird, Robert Pattinson
País: Canadá, Estados Unidos, Alemanha, França
Duração: 111 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Sobre indivíduos que buscam a fama, o sucesso e o perdão, ligados um ao outro através dos fantasmas de seus passados.

O QUE TENHO A DIZER...
David Cronemberg não se cansa de realizar filmes confusos e controversos, sempre chegando no limite do bizarro e colocar seus personagens como cobaias de experimentos frente a diferentes níveis de perversão no mais profundo sentido sexual e patológico. E Mapa Para As Estrelas não seria diferente.

É a segunda colaboração do diretor com o ator Robert Pattinson, mas desta vez em um papel bem coadjuvante, para o alívio de muitos. Ao contrário do que ocorreu em Cosmopolis (2012), onde propositalmente ou não Cronemberg abusou da superficialidade, das limitações e da arrogância do ator tal qual o produto Hollywoodiano que ele representa, nesse filme, por incrível que pareça, Pattinson pela primeira vez consegue deixar sua figura de estrela-por-acaso de lado e conseguir atuar sem ser inconveniente. As comedidas vezes em que aparece não são desconfortáveis como foi no filme anterior, e isso já é bastante surpreendente.

Também é a primeira vez que Cronemberg filma nos Estados Unidos, algo que ele nunca havia feito em sua carreira, nem mesmo com Cosmopolis, filme em que a história é ambientada totalmente em Nova York.

Dissecar este filme não é uma tarefa fácil, mas como um todo é uma sátira moderna e dramática sobre o show business e do entretenimento ocidental em sua amplitude.

O filme começa com uma breve apresentação dos personagens e nada muito esclarecido. A impressão que se tem é que será um filme sobre histórias paralelas e as diferentes impressões que cada um deles tem sobre a fama, o sucesso e dinheiro. Mas conforme a relação dramática entre eles aflora - e não demora muito pra isso acontecer - fica cada vez mais claro o lado psicológico mais obscuro que estava escondido em cada um, desde a relação incestuosa de um casal de irmãos até a relação incestuosa entre mãe e filha. E pode se preparar porque o filme todo vai girar em cima disso e sobre a teoria dos filhos perpetuarem os erros e defeitos dos pais como uma herança genética.

Ao contrário de seus filmes anteriores, Cronemberg deixa um pouco a palidez de lado em cenografias ainda geometricamente bem estruturadas, mas agora mais contemporâneas e condizentes com a realidade mostrada, abolindo a figura da tecnologia como uma extensão humana, algo muito presente em seus filmes e parte de seu estilo único. Os atores também deixaram de ser marionetes automáticas do diretor para serem mais humanos. Talvez essa mudança venha a calhar muito bem para amenizar temas tão delicados e perturbadores, deixando o choque mais evidente para momentos específicos e inesperados nos confrontos físicos e psicológicos que gradualmente desenvolve e desconstrói os personagens. Não é sempre que vemos filmes abordarem o incesto na naturalidade que somente Cronemberg seria capaz de fazer, e o roteiro de Bruce Wagner consegue até fazer isso de forma bastante sutil e nada abusiva, diferente do que se espera.

O grande problema do filme é que as histórias particulares são muito mais expressivas do que o filme como uma unidade, e a repetitividade dos problemas abordados acabam enfraquecendo o filme como um todo. O drama da atriz Havana (Julianne Moore) e a tentativa de manter a fama e seu status na indústria cinematográfica por si só já é tão chocante quanto a precoce fama de Benjie (Evan Bird), que com apenas 13 anos já caminha para sua autodestruição. O arco dramático dessas duas histórias já possuiam forças para manter toda a estrutura do filme, mas ao contrário de se fortalecerem na concatenação dos fatos, infelizmente se ofuscam no meio de toda a elucubração do roteirista e da obsessão do diretor em querer aprofundar cada vez mais no bizarro. Isso deixa as tramas paralelas de Agatha (Mia Wasikowska) e do casal Stafford e Christina (John Cusack e Olivia Williams) ficarem um tanto obsoletos, como um drama familiar à parte inserido para dar uma consistência que nunca atinge o ponto que conseguiria sozinho.

As atuações também são os pontos fortes tanto quanto as histórias individuais, e Julianne Moore oferece uma performance muito interessante e diferenciada entre a razão e a insanidade que, ao invés de cair no drama fácil, segue para um humor negro e propositalmente piegas que contextualiza muito bem o tom satírico da fama e do sucesso abordados na trama.

CONCLUSÃO...
Um filme que, como bem dito pelo próprio Cronemberg, é difícil de ser digerido, que é muito mais interessante e melhor compreendido em suas histórias individuais do que como uma unidade. A complexidade e excentricidade características do diretor sempre fazem seus filmes fugirem da compreensão convencional, mas ainda sim não deixa de ser interessante, justamente por ser Chronemberg.

Nenhum comentário:

Add to Flipboard Magazine.