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sábado, 18 de outubro de 2014

INUSITADO...

★★★★★★★
Título: Terra Para Echo (Earth To Echo)
Ano: 2014
Gênero: Aventura, Ficção, Fantasia
Classificação: Livre
Direção: Dave Green
Elenco: Astro, Teo Halm, Reese Hartwig, Ella Wahlestedt
País: Estados Unidos
Duração: 90 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Depois que os celulares dos moradores de uma pequena cidade no interior de Nevada entram em pane, três amigos resolvem pesquisar o que pode ter ocorrido e descobrem que a pane na verdade mostra um mapa que leva ao meio do deserto. Como um deles está para se mudar para Nova York, o trio resolve se aventurar na última noite que passarão juntos.

O QUE TENHO A DIZER...
É o filme de estréia dos amigos Dave Green na direção e Henry Gayden no roteiro. Foi originalmente desenvolvido e produzido pela Disney enquanto Rich Ross era o presidente da companhia, mas ele acabou se demitindo devido ao mau estar gerado entre ele e os executivos da Pixar por conta do homérico fracasso de John Carter (2012). Ross deixou a Disney em Abril de 2012 e Alan Horn foi nomeado para o cargo. Assim que Horn assistiu a versão final do filme ele resolveu colocá-lo em turnaround, um termo utilizado na indústria cinematográfica que significa um acordo de transferência de direitos de uma obra já finalizada por uma produtora para outra. Em outras palavras, é vender o filme pronto no valor dos custos da produção somados a outros interesses variáveis. Dentre os motivos mais comuns, este tipo de acordo visa cobrir os gastos e ao mesmo tempo oferecer um lucro simbólico de um filme que uma companhia tenha desistido de comercializá-lo. Os direitos de distribuição, então, acabaram sendo vendidos para a Relativity Media, que mesmo sendo uma das maiores empresas do mundo neste segmento, não conseguiu promovê-lo da forma efetiva como a Disney conseguiria com a força de sua marca.

A narrativa do filme é novamente no já velho estilo de filmagens em primeira pessoa, como no acontecimento extraterrestre de Cloverfield (2008), mas dentro uma construção mais pessoal e fantasiosa similar a de Poder Sem Limites (Chronicle, 2012). Tudo começa quando os três curiosos amigos, Tuck (Astro), Alex (Teo Halm) e Munch (Reese Hartwig) resolvem investigar o que significa a pane gerada nos celulares das pessoas de onde moram. Ao descobrirem que a imagem que aparece nos aparelhos é um mapa, assim como os Goonies, os três decidem se aventurar a segui-lo. Tuck, por ser dono de um canal pouco assistido no YouTube, resolve filmar toda a jornada na esperança de que algo muito interessante aconteça e que dê a ele e seus amigos notoriedade. De bicicleta, a localização os leva até o meio do deserto de Nevada, onde encontram um artefato de metal que posteriormente se revelará uma fonte de energia essencial para a sobrevivência de um alienígena bioeletromecânico que possui forças magnéticas para controlar qualquer objeto desta natureza. A pequena criatura precisa encontrar partes para reconstruir seu equipamento danificado pelos terráqueos que atacaram sua nave quando viajava sozinho pelo espaço, e agora pessoas do governo estão atrás da criatura que quer apenas voltar para seu planeta. Os jovens, comovidos pela descoberta e por também se sentirem isolados do mundo tanto quanto o novo amigo extraterrestre, resolvem ajudá-lo.

Não dá pra negar que os clássicos infanto-juvenis, como E.T. (1982) e Goonies (1985), sejam referências primordiais nesta aventura. A história também se assemelha bastante com a ficção extraterrestre e juvenil Super 8 (2011), de J.J. Abrams, já que o filme de Abrams não apenas bebeu das mesmas fontes como também seguiu a mesma estrutura técnica de direção de Spielberg. A diferença é que, neste pequeno filme, as catástrofes, os exagerados absurdos e os grandiosos efeitos especiais dão lugar para um desenvolvimento mais humano, lúdico e carregado de sentimentos simples e sinceros.

As comparações com o filme de Abrams foram inevitáveis e pipocaram nos fóruns de cinema, o que acabou diminuindo a expectativa de muitos. Mas a verdade é que Terra Para Echo custou menos da metade de Super 8 e consegue contar a jornada aventuresca similar de forma muito mais empolgante, nostálgica e convincente dentro de sua fantasia e sem transformar o alienígena em uma ameaça assustadora, naquela impressão que raramente temos de que não é necessário orçamentos milhonários para bons filmes serem feitos, o que também é bastante notado com Poder Sem Limites quando comparado com grandes blockbusters de super heróis.

Por ser filmado em primeira pessoa, um estilo que hoje em dia se tornou batido mas que ainda rende boas idéias, tanto o diretor quanto o roteirista quiseram se aprofundar mais ainda no apelo pessoal e na cumplicidade dos personagens ao desenvolverem a idéia de fazer o espectador acreditar que o filme realmente foi feito por eles. Tanto que assim que o filme começa com a narração de Tuck, é notado que todo o processo de filmagem e edição foi feito por ele. O filme que assistimos, dentro da história, seria o grande material que Tuck acredita que será suficiente para ter sucesso assim que publicá-lo em seu canal no YouTube. Essa metalinguagem oferece um apelo muito mais convincente por ser atual, que muito simpatiza e se assemelha com a realidade de muitos, sejam adolescentes ou não.

Além disso, a relação de amizade exposta pelos personagens e os valores que cada um tem sobre isso são bastante verdadeiros e até emocionantes sem cairem nos exagerados abraços coletivos como é costumeiro nos filmes direcionados a essa faixa etária, há até um momento para uma briga bastante séria entre eles. Aliás, esse é outro ponto interessante:.mesmo um filme infanto-juvenil, em momento algum ele subestima este público, vagando muito bem entre a realidade e a fantasia de maneira bastante óbvia para que fique claro que tudo é uma ficção, mas ao mesmo tempo uma fantástica e empolgante jornada com uma merecida moral final.

Claro que, por ser um filme de baixo orçamento e feito por novatos, são muitos os erros técnicos existentes e por vezes explícitos, mas ironicamente os filmes em primeira pessoa dão liberdade para isso. Nem mesmo o amadorismo dos atores mirins atrapalha, o que na verdade dá até um certo charme porque, apesar de tudo, conseguem convencer que a relação existente entre eles é verdadeira. O diretor e roteirista quiseram chegar tão próximos desta experiência amadora e adolescente para que o filme fosse convicente que eles fizeram questão dos atores serem fundamentais durante o processo de desenvolvimento do filme. Até mesmo o design do alienígena foi feito por um rapaz chamado Ross Tran, um ilustrador que, na época de produção, tinha apenas 19 anos de idade. Dave e Henry tinham em mente a personalidade que o extraterrestre deveria ter. No primeiro esboço feito por Ross, a idéia foi aprovada de imediato, uma experiência que eles consideraram incrível dentro de todo o contexto e da idéia de trabalharem com o amadorismo e com pessoas novas. A ingenuidade da história e dos personagens, principalmente sobre a figura frágil e bastante expressiva do pequeno alienígena que por muitas vezes remete a uma personalidade solitária e incompreendida similar ao de Wall-E, e a abordagem de temas tão simples como amizade, respeito e confiança, faz qualquer defeito ser facilmente ignorado e o filme ser apreciado por qualquer tipo de público: às crianças e adolescentes por se identificarem com os personagens e os anseios da idade, e os mais velhos pela gratificante nostalgia e uma oportunidade de voltarem no tempo.

Pode ser algo simples demais para muitos, mas é difícil não sorrir com ele, ou se emocionar, justamente por ter um apelo intencionalmente honesto de conquistar públicos que estão carentes da despretenção de aventuras inusitadas e ingênuas como acontece nesse filme. E é evidente que a Disney desperdiçou uma grande oportunidade de se beneficiar com um outro personagem tão cativante quanto Wall-E, o que infelizmente faz do filme uma das grandes e mais injustiçadas surpresas do ano. Talvez tenha o reconhecimento merecido em home video. Ainda há tempo.

CONCLUSÃO...
Infelizmente não foi um grande sucesso, mas também não foi um fracasso. Teve um custo de aproximadamente US$15 milhões e arrecadou em torno de US$40 milhões em todo o mundo. Uma quantia razoável que conseguiu pagá-lo, mas o deixou longe do reconhecimento público que, acredito, ele merecia. Cheio de referências aos clássicos infanto-juvenis da década de 80, a produção consegue ser bastante fiel na proposta despretenciosa e fantástica de uma grande aventura inusitada, e até ousada por utilizar as referências que utiliza e mesmo assim conseguir dar uma identidade original a ela.

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