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quarta-feira, 8 de outubro de 2014

O MUNDO NÃO ACABA, MAS FELIZMENTE O FILME SIM...

★★
Título: Lucy
Ano: 2014
Gênero: Ação, Ficção, Fantasia
Classificação: 14 anos
Direção: Luc Besson
Elenco: Scarlett Johanson, Morgan Freeman
País: França
Duração: 89min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Uma norteamericana que transportava em seu abdomem 1kg de uma droga sintética que aumenta as capacidades cerebrais do ser humano sofre uma overdose quando a bolsa se rompe e mais da metade da droga é absorvida pelo seu organismo, dando a ela 100% da capacidade cerebral e poderes para controlar o espaço, tempo e matéria.

O QUE TENHO A DIZER...
O filme é dirigido, escrito, produzido e editado por Luc Besson, diretor responsável por criar o exemplo máximo da femme fatale em Nikita (1990). Depois foi o responsável por dar o primeiro papel a Natalie Portman em O Profissional (Léon, 1994), conseguiu também transformar a modelo Milla Jovovich naquilo chamado de "atriz" no que também virou uma referência da ficça-ação científica em O Quinto Elemento (The 5th Element, 1997), e repaginou a carreira de Liam Neeson como um senhor de ação em Busca Implacável (Taken, 2008/2012), franquia que terá sua terceira parte em 2015 (embora Besson não tenha dirigido nenhum deles, apenas criou os personagens e escreveu o roteiro).

O seu sucesso como diretor o transformou mais em um grande produtor do que um grande cineasta (são 16 longas como diretor, contra mais de 100 como produtor). A fama não faz tanto jus ao talento. A maior força de Besson sempre esteve nos poucos e memoráveis personagens que ele criou, mais do que na sua capacidade como diretor ou roteirista. Isso fez dele um importante nome no cinema comercial francês e até reconhecido no mundo, mas depois de O Quinto Elemento não houve nada mais relevante ou digno de nota em sua carreira, e Lucy é a mais nova prova disso.

Colocando Scarlett Johanson de lado, pois nem sua tentativa em levar o filme a sério eleva essa ficção científica absurda, sem sentido, boba e muitas vezes pastelona, Besson nem sequer evita referências a filmes como The Matrix (1999), Sem Limite (Limitless, 2011) e 2001 (1968). Além de serem óbvias, as referências são feitas de maneira tão inferior que chega a ser ultrajante.

O diretor afirmou que o filme demorou 10 anos para ser produzido e que a idéia surgiu quando ele ficou intrigado com os 400g do cérebro da ancestral australopiteca Lucy em comparação com os 1.5kg do cérebro humano. A partir daí ele se engajou a estudar as capacidades celulares e a evolução humana e ao invés de fazer um documentário ele resolveu utilizar todo esse conhecimento para algo que ele classifica como "um filme de ação com propósito". Sabendo disso e comparando com o resultado final, não dá pra deixar o espanto de lado e acreditar que o que Besson fez é o mesmo que uma criança faz quando tenta justificar na base da fantasia algo que ela desconhece completamente, ou seja... inventa! O problema é que ele brincou com isso por 10 anos e nunca maturou a idéia.

Nada contra a fantasia e muito menos contra a ficção científica, mas Besson novamente desperdiça um material que não é de todo ruim, só que se perde por falta de um conceito mais claro e plausível como foi em Sem Limite, filme que também questionou a capacidade cerebral humana e a possibilidade de aumentá-la dentro de uma abordagem similar a de Besson, mas muito mais aceitável, e nem por isso deixou de ser uma ficção com ação e fantasia.

Para aqueles que acham que confusão é explicação, ou que a falta de explicação também já seja uma explicação, o filme tem material de sobra pra qualquer tipo de masturbação mental para perguntas com respostas sem sentido, muito diferente do que aconteceu com Matrix, em que toda a fantasia desenvolvida dá margens para perguntas lógicas que levam a algum lugar, independente de serem verdade ou não, mas coerentes. Não há nem sequer cenas de ação interessantes além de uma gangue em tiroteio, e Lucy só não para as balas no ar porque senão a cópia seria bem descarada, muito embora a impressão que temos é que isso vai acontecer a qualquer momento. O que na verdade acontece é que o próprio roteiro anula a história de construir alguma cena que valha a pena já que a personagem principal tem tanto poder, mas tanto poder que a presença de coadjuvantes é desnecessária, tanto que um deles até diz isso em um momento. Se ela quiser desintegrar o universo e criá-lo novamente ela consegue. É literalmente deus no céu e Lucy na Terra, só que ao invés de recriar o mundo em 7 minutos, ela resolve atirar pra todo lado numa violência armada tão desnecessária quanto em A Origem (Inception, 2010), aparecer em toda tela de LCD possível, salvar o mundo do mal, contribuir para a ciência (o que lhe renderia um Nobel) e transformar o mundo em um tablet gigante. E o melhor de tudo: fazer esse monte de coisa sem causar um suspiro de espanto em Morgan Freeman. Sem falar do final que é simplesmente tão ridículo quanto aquele pendrive cuspido (para não dizer outra coisa).

Arrecadou mais de US$400 milhões no mundo e isso com certeza se deve ao marketing que o vendeu como um monstruoso filme de ação, que poderia até ter todas as qualidades negativas que já tem, mas ao menos o espectador sairia feliz do cinema com cenas de tirar o fôlego. O que, claro, não acontece. A crítica em geral o favoreceu dizendo que o filme funciona graças ao talento de Besson em lidar com tanta bobagem. Eu não consigo visualizar tanta bobagem reunida como algo bom e muito menos considerar esse feito um talento. Mas concordo que é algo em que ele é bastante especialista.

CONCLUSÃO...
Acreditar que Lucy é um filme que poderá genuinamente inspirar a pensar profundamente sobre a evolução, a natureza humana e a vida é concordar que, segundo o filme, realmente mais de 90% do cérebro é inútil.

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