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sábado, 23 de agosto de 2014

O ESPELHO DA RELAÇÃO...

★★★★★★★
Título: Complicações do Amor (The One I Love)
Ano: 2014
Gênero: Comédia, Fantasia, Drama, Romance
Classificação: 14 anos
Direção: Charlie McDowell
Elenco: Mark Duplass, Elisabeth Moss, Ted Danson
País: Estados Unidos
Duração: 90 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Na tentativa de recuperar um casamento que está nos seus últimos suspiros, um casal resolve passar um final de semana em uma casa de campo para tentar recuperar o que resta, chocando frente a frente com os sucessos e fracassos de cada um.

O QUE TENHO A DIZER...
O que aconteceria se um casal tivesse a oportunidade de poder voltar a encontrar em cada um deles a essência daquilo que os deixaram apaixonados um pelo o outro? E como reagiriam se pudessem trocar o que são pelo que já foram? É essa a questão levantada na estréia tanto do diretor Charlie McDowell, quanto do roteirista Justin Lader. Mas ao contrário do que se espera, apesar de alguns tropeços aqui e alí, o filme é muito bem dirigido e o roteiro foi basicamente técnico, com apenas 50 páginas, já que a dupla de atores foi incentivada pelo diretor e pelo roteirista a improvisarem boa parte dos diálogos para manter um nível de cumplicidade maior e que com certeza são sentidas pelo espectador.

A história começa com relatos do casal a um terapeuta sobre a forma como se conheceram, como se apaixonaram e o esforço que ambos agora encontram para reinventar coisas que deem satisfação aos dois e a continuidade da relação. Esse início é bem parecido com A História de Nós Dois (The Story Of Us, 1999). Mas essa semelhança é interrompida logo depois de 4 minutos de filme, quando recebem uma proposta do terapeuta de passarem alguns dias em uma casa de campo, lugar onde muitos casais voltaram renovados, segundo ele mesmo diz. Até então imagina-se que esta será mais uma comédia romântica qualquer. Ledo engano para quem acreditar nisso.

Embora seja uma comédia romântica, também é um drama muito pontual com pitadas de uma ficção fantástica incorporada pelo roteirista apenas para os personagens, ao mesmo tempo que expressam seus sentimentos, também conseguem vê-los do lado de fora da relação quando se confrontam com aquilo que eles já foram, a essência de suas relações e como tudo seria se fosse diferente.

Embora o fenômeno principal que ocorre no filme já é revelado ao espectador logo nos primeiros 15 minutos, dizer logo de cara o que acontece pode tirar a breve e interessante expectativa que a história constrói.

Claro que dentro da proposta de Lader, os personagens irão lidar com sentimentos universais e assuntos corriqueiros de uma relação quando esta já se estagnou pela sua rotina ou pela confiança perdida por conta de alguma decisão errada tomada por uma das partes. Isso não é nada diferente do que outros filmes do gênero já fizeram, mas o diferencial aqui é a forma como Lader dispõe essas discussões e conflitos, e como ele articula tudo de maneira bastante incomum, original e envolvente, fugindo completamente dos clichés. E de situações que para o espectador normalmente seriam bastante familiares em outros filmes, se tranformam em uma experiência completamente distorcida do comum, e dentro dessa esquisitice existe um grande e curioso atrativo.

Com excessão de Ted Danson no papel do terapeuta, desconheço completamente demais trabalhos do casal de atores Mark Duplass e Elisabeth Moss. Duplass é também o produtor do filme juntamente com seu irmão Jay Duplass, e Elisabeth é a estrela do seriado Mad Man. O desempenho dos atores é fundamental para o desenvolvimento da história. Eles não apenas são bastante convincentes como um casal disposto a reconstruir a relação por respeito aos sentimentos verdadeiros que um sente pelo outro como também convencem mais ainda quando representam versões melhores deles mesmos. A edição do filme também foi fundamental para que os diálogos e as diferentes personalidades sejam mostradas sem confusão.

Sem dúvida o grande ponto positivo de todo o filme é a forma como o fantástico é embutido no conflito do casal, criando uma outra dimensão não apenas a eles como também ao espectador, erguendo questões fundamentais e uma forma diferente de se discutir a constante busca pela plena felicidade e os rumos que naturalmente levam a esse insucesso, bem como os excessos, ausências e a constante busca pelo novo e excitante, nos levando a decisões precipitadas para a satisfação momentânea, mas que nunca evitará, por fim, o mesmo fim. Nesse aspecto o filme também se assemelha à moral de Entre o Amor e a Paixão (Take This Waltz, 2011), mas ele não chega a ser tão dramático quanto o filme de Sarah Polley graças ao humor contido na surreal situação em que Ethan e Sophie se encontram.

Infelizmente o clima é quebrado quando o roteiro tenta, de alguma forma, dar explicação ao inexplicável que acontece, e no fim das contas essa redundância deixa tudo mais confuso do que a princípio já era, e aqueles que tentarem encontrar uma justificativa para tudo vai perder tempo e o foco principal da história.

CONCLUSÃO...
Uma história comum, com discussões comuns, dentro de acontecimentos surreais em um filme que, a princípio, é esquisito, mas quando abstrai-se o absurdo e compreende-se que ele foi apenas uma ferramenta para que os personagens possam conflitar saudavelmente entre si, a essência do filme é bastante relevante e atual, e o final acaba surpreendendo.

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