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domingo, 27 de julho de 2014

O VELHO E NEM TÃO DURÃO OESTE...

★★★★★★★
Gênero: Comédia
Título: Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola (A Million Ways To Die In The West)
Ano: 2014
Classificação: 14 anos
Direção: Seth MacFarlane
Elenco: Seth MacFarlane, Charlize Theron, Liam Neeson, Amanda Seyfried, Giovani Ribisi, Sarah Silverman, Neil Patrick Harris
País: Estados Unidos
Duração: 116 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Sobre um covarde pastor que perde sua namorada e acredita que sua vida não faz mais sentido no Oeste, até uma forasteira chegar e transformar sua vida e, principalmente, ensiná-lo a atirar.

O QUE TENHO A DIZER...
Dirigido, escrito, produzido e atuado por Seth MacFarlane, o humorista, comediante, animador, dublador e também cantor que ficou famoso e se tornou umas das referências do atual cenário cômico norteamericano depois de criar as animações de grande sucesso Uma Família da Pesada (Family Guy), American Dad! e O Show de Cleveland (The Cleveland Show), além de também ter dirigido e escrito Ted (2012), filme que também se tornou grande referência do humor politicamente incorreto desta década (não que não existam outros, mas esse foi o mais reconhecido por conta do inesperado sucesso).

MacFarlane pode errar algumas vezes, como na sua apresentação do Oscar em 2013, cheia de piadas grosseiras e de péssimo gosto em cima de uma prepotência que fracassou na batida idéia de ironizar e satirizar a premiação e transformá-la em uma grande piada de mau gosto que deixou muita gente desconfortável e com sorriso amarelo, principalmente a audiência. Mas não podemos negar que, como criador, seu currículo é bastante curioso, principalmente por resgatar o humor corrosivo e ambíguo de cartoons, como os de Hanna e Barbera, mas intensificando os elementos absurdos, o politicamente incorreto, a ironia e a sátira de maneira mais direta e escancarada para o público mais adulto e que se transformaram em uma forte marca registrada dele. E assim como suas outras criações animadas, este filme é sobre nada, mas que sobrevive ferindo diretamente a falsa moral e os "bons costumes" do modo de vida americano, já que esse seu humor é bastante inconveniente para os mais conservadores, pois expõe em demasia essa hipocrisia social tão forte por lá e que é um prato cheio para humoristas como ele.

E o filme é exatamente tudo isso, nesse grande misto exagerado de situações cômicas e piadas prontas para satirizar uma cultura tão forte e exportada mundialmente como é o Velho Oeste norteamericano. Assim como a figura do Super-Homem, a imagem do Velho Oeste ainda é o principal material publicitário para divulgar de forma simbólica a potência da nação americana, em como ela é durona fazendo as leis com suas próprias mãos armadas, e como ela deve ser temida pelos forasteiros. MacFarlane faz disso o cenário pronto para o ridículo ao brincar incansavelmente com esses cliches e os estereótipos do machismo e da brutalidade masculina, da submissão e fragilidade feminina e da "terra sem lei" que historicamente caracterizam essa época e região do país. Mas de certa forma não dá pra deixar de notar que, querendo ou não, o filme também deixa na superfície que toda essa grande e violenta ignorância latente e atual no país é claramente fruto e conseqüência dessa herança cultural constantemente consumida e ruminada por eles e por todo o mundo.

A idéia surgiu de uma piada interna, quando McFarlane, junto com seus co-roteiristas (que também são roteiristas de Uma Família da Pesada), começaram a analisar como deve ter sido estúpido, triste e perigoso viver no Velho Oeste já que você poderia morrer de diversas formas (tanto que essa é uma das razões do título em português não fazer o menor sentido). O nível de sátira presente é o mesmo de Sua Alteza (Your Higness, 2011), de Danny McBride e que também levam muito do que as sátiras de Mel Brooks chegaram a representar no passado. Mas enquanto McBride fez da seriedade do cenário medieval um grande palco para o absurdo e para uma surreal grosseria, MacFarlane faz dos cowboys fora da lei personagens jocosos e cartunizados. Por isso temos na lista o personagem Clinch (Liam Neeson), que tem um sotaque irlandês (o ator é irlandes); Edward (o sempre esquisito Giovani Ribisi), que não se importa com o fato de sua noiva, Ruth (Sarah Silverman), ser a prostituta mais requisitada da cidade e que se recusa a fazer sexo com ele antes do casamento por ser uma devota cristã; e o próprio personagem de MacFarlane, um simples e covarde pastor com crise existencial porque odeia o lugar onde mora e acha um absurdo existir tanta conivência das pessoas com tanta coisa errada.

Como roteirista, ele não se impede de ousar, usando referências anacrônicas que realmente fazem determinadas sequencias serem mais engraçadas do que poderia supor, como a breve (e inesperada) referência ao clássico De Volta Para O Futuro III (Back To The Future - Part III, 1990), ou quando consegue enfiar no filme o trecho mais famoso da também clássica música Tarzan Boy, da banda Baltimora. Também vale dizer que, acreditem ou não, a sequencia musical sobre os bigodes não é tão surreal assim, já que a música existe, chamada If You've Only Got A Moustache, feita por Stephen Foster em 1864. Claro que o filme recebeu críticas mistas e foi recepcionado pelo público de maneira controversa tal qual Sua Alteza, mas com certeza porque grande parte do público também pode não ter captado a idéia da maneira fácil como esperavam. Ele é grosseiro e explícito tanto quanto o filme de McBride, mas igualmente engraçado dentro de suas características absurdas por ridicularizar o principal ícone de uma cultura que se auto ridiculariza o tempo todo. E é sempre engraçado ver alguém tirando sarro disso.

CONCLUSÃO...
Um filme sobre nada, mas que sobrevive por satirizar e ferir o orgulho norteamericanos sobre um ícone cultural tão forte construído por eles mesmo como é o Velho Oeste, em um mundo que MacFarlane criou onde piadas voam tão rápido como balas, como bem disse Dave White em sua resenha sobre o filme.

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