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quinta-feira, 24 de julho de 2014

INCOERENTE...

★★★★
Título: Divergente (Divergent)
Ano: 2014
Gênero: Ação
Classificação: 12 anos
Direção: Neil Burger
Elenco: Shailene Woodley, Theo James, Ashley Judd, Kate Winslet
País: Estados Unidos
Duração: 139 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Chegou a hora de Beatrice (Shailene Woodley) escolher a qual facção pertence, mesmo ela não tendo idéia de qual deva escolher, já que ela na verdade pode ser de qualquer uma, o que a caracteriza como uma divergente.

O QUE TENHO A DIZER...
O filme é dirigido por Neil Burger, mais conhecido por filmes como o elogiado O Ilusionista (The Illusionist, 2006), o competente Gente de Sorte (The Lucky Ones, 2008) e o pouco relembrado sucesso Sem Limite (Limitless, 2011). Ou seja, Burger não é um diretor ruim, e ele consegue usar bem suas experiências adquiridas nos diferentes gêneros de seus filmes anteriores pra tentar construir alguma coisa em uma narrativa cheia de altos e baixos de um roteiro perdido em um filme que podia muito mais chamar Incoerente do que qualquer outra coisa.

Seguindo as portas que a Saga Crepúsculo abriu, o filme é mais uma adaptação de uma trilogia de livros para adolescentes/adultos jovens escrita por Veronica Roth (a atualmente milionária autora tem apenas 26 anos) e o primeiro livro foi originalmente lançado em 2011. Essas adaptações vem apresentando sinais de cansaço, já que depois da consagração de Jogos Vorazes (The Hunger Games, 2012), tudo o que os estúdios querem agora são produtos similares. Foi assim com o fracasso de Ender's Game (2013), que não haverá continuações, e com a grande expectativa em cima de Correr ou Morrer (The Maze Runner, 2014), também parte de uma trilogia, a ser lançado em Setembro. Isso tem levado o público a inevitavelmente fazer comparações com a adaptação de Suzanne Collins e seus Jogos, já que todas adaptações em produção agora estão vindo dentro de um mesmo pacote de jovens sobrevivendo em um mundo futurista ou distópico que remeta a paralelos sociais e políticos atuais só para não soarem tão superficiais, levando o público a ter a iminente sensação de deja vu. Por conta disso, Divergente suou a camisa para arrecadar mundialmente os US$275 milhões que (in)felizmente garantiram suas continuações (o primeiro Jogos Vorazes arrecadou mais que isso em apenas uma semana).

A história, cheia de demasiados e irrelevantes detalhes, vai se passar em uma Chicago futurista, destruída por uma terrível guerra que a isolou do resto do mundo por uma grandiosa muralha. A sociedade agora é determinada por cinco facções: Abnegação, Amizade, Audácia, Franqueza e Erudição. Cada uma delas possui uma função específica na sociedade e é obrigatório que os jovens, em uma determinada idade, realizem um teste (algo como um teste vocacional) que mostra qual sua tendência faccional, ao mesmo tempo que ele terá, por uma única vez, a liberdade de escolher qual facção deseja fazer parte para o resto de sua vida, independente do resultado. Caso ele desista ou não se encaixe na facção escolhida, ele não terá outra oportunidade e será jogado na rua como um desertor, vivendo como um mendigo (ahn???). As facções e todas essas exigências existem para manter o equilíbrio e a ordem na sociedade. Ao mesmo tempo, nenhum membro de uma facção deve ter contato com os membros de outra, nem mesmo com familiares (ahn??? de novo). O problema surge quando um jovem tem tendência para qualquer uma das facções (ou a nenhuma delas), sendo então essas "raras" pessoas denominadas divergentes. Por serem divergentes, acredita-se na potencialidade de serem rebeldes e desequilibrarem a estrutura social com suas "naturezas humanas", gerando o caos, a violência, a guerra, dentre outras coisas. Beatrice (Shailene Woodley) é uma divergente tal qual seu mentor, Quatro (Theo James). Ela descobriu isso no dia do teste, mas só vai perceber a gravidade disso quando Jeanine (Kate Winslet), a chefe dos eruditos, resolve realizar uma caça às bruxas aos divergentes, já que eles podem atrapalhar seus planos de dominação. Ou seja, uma referência sobre fascimo político bem, mas bem pobre.

O grande problema é sem dúvida os mil detalhes irrelevantes apenas pra dar volume e uma complexidade tão vazia que chega a doer, porque a base dela é um paralelo bem fajuto ao fascismo político. Nem a autora (nem os roteiristas) tiveram ao menos o cuidado de transformar essa situação em uma referência simbólica para justificar a alienação dos personagens sobre isso. As facções são denominadas facções de fato, e isso, por si só, já classifica o fascismo latente que os personagens vivem. Só que o engraçado é que os personagens foram construídos de tal forma que ignoram isso completamente desde o princípio e pra eles todo esse autoritarismo e toda essa segregação é muito normal e uma festa, até que, finalmente, um raio cai na cabeça da personagem principal e ela se toca de que alguma coisa errada acontece. Uau... acho que não precisava ser nenhum membro da Erudição para perceber isso, não é? Se bem que nem eles mesmos percebem...

Então a incoerência e absurdez começa aí, e pra levar o filme a sério só se for adolescente que não gosta de História ou que nem chegou nas aulas sobre Mussolini ainda, porque o enredo realmente é uma bobagem sem tamanho. Tudo bem que dar um tom de seriedade é o que Jogos Vorazes também tenta fazer, mas ao menos a história não esconde em momento algum que tudo que é feito, narrado ou mostrado é um grande pão com ovo mesmo. Divergente deveria ter feito o mesmo, pelo menos se desde o princípio algum personagem já tivesse expressado alguma grande insatisfação sobre todo esse regime que vivem, ao menos a história seria um pouco mais convincente.

Mas aí você também tem os grandes buracos na história que não explicam nada ou que conflitam com outras, como razão da cidade ter um muro. A única explicação dada no próprio filme é que o muro existe porque tem que existir. Ok, obrigado! Talvez seja explicado nos filmes posteriores, mas agora não me interessa mais. Ou o governo querer ser tão equilibrado que quem não se encaixa em uma facção, ou não quer mais fazer parte dela, automaticamente vira um mendigo. Parabéns, isso realmente é a solução! Ou a pior de todas, na minha opinião, é Beatrice ser considerada "divergente", pelo menos segundo explicação do filme, por se enquadrar em qualquer facção. Isso pra mim não é ser divergente, mas convergente e coerente. Portanto toda essa criação que a autora fez para esse mundo distópico aparenta ser bem distópico mesmo, mas no sentido de ser completamente sem pé nem cabeça só pra dar razão pra um bando de adolescente tatuato se rebelar com alguma coisa. Pode ser que o livro seja diferente nessas abordagens, mas desconheço e realmente é difícil acreditar nisso.

Segue todo o erro na também forçação de barra de transformar Shailene Woodley em uma nova Jennifer Lawrence. Isso foi tão nítido que logo após o filme ter sido lançado ela estava com o mesmo corte de cabelo de Laurence e com um visual totalmente repaginado pra também tentar virar um ícone da moda em Hollywood. Ela não é uma atriz ruim, mas também não possui o mesmo carisma e versatilidade. Shailene não consegue ser sutil. Ou ela chora escancaradamente, ou grita histericamente, ou está sempre com aquela cara de quem sofre o tempo todo, algo que funcionou muito bem em O Espetacular Agora (The Spectacular Now, 2013) e pode ter convencido em A Culpa é das Estrelas (The Fault In Our Stars, 2014), mas ela definitivamente não é uma atriz de ação. E ação é o que o filme tem bem pouco, pelo menos nessa primeira parte (as demais continuações já foram anunciadas).

O filme só toma um pouco de forma depois de uma hora, quando realmente não dá pra ignorar como a história quer a todo custo realizar um comparativo com a nossa realidade de como as pessoas são facilmente manipuladas, e como a sociedade realmente critica e oprime aqueles que pensam um pouco diferente da maioria. Talvez, a única moral efetivamente interessante, mas que vai ser bem ignorada no meio de tanta alienação. Mas como um todo, nem o elenco salva, com Kate Winslet na pior personagem de sua carreira e Ashley Judd se rendendo a papéis tão coadjuvantes que quando ela finalmente tem alguma oportunidade, ela morre.

CONCLUSÃO...
É um filme tipicamente adolescente, percentual da população que é a mais influenciavel pela mídia na atualidade e por isso já espero um monte deles com essas tatuagens por aí. Assim como aconteceu com Jogos Vorazes, que sofreu uma brusca mudança de narrativa no filme para compensar as falhas do livro, em Divergente isso também deveria ter acontecido para lapidar uma história que não é de toda ruim, mas muito exagerada e com dezenas de detalhes irrelevantes apenas para, no meu ver, aumentar as páginas do livro e ultrapassar as duas horas de duração. Irrelevante também poderia ser um bom nome.

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