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sexta-feira, 7 de março de 2014

MELHOR QUE O LIVRO DE NOVO...

★★★★★★★
Título: Jogos Vorazes: Em Chamas (The Hunger Games: Catching Fire)
Ano: 2013
Gênero: Ação
Classificação: 12 anos
Direção: Francis Lawrence
Elenco: Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Woody Harrelson, Elizabeth Banks, Jena Malone, Donald Sutherland, Stanley Tucci, Philip Symor Hoffman
País: Estados Unidos
Duração: 146 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Katniss pode ter vencido o Jogos Vorazes, porém se transformou em uma ameaça ao Presidente Snow e ao seu poder totalitário.

O QUE TENHO A DIZER...
Em Chamas foi dirigido por Francis Lawrence, mais conhecido por ter dirigido Eu Sou A Lenda (I'm A Legend, 2007). É a segunda parte da tetralogia de filmes (a trilogia é apenas na série de livros, já que o último episódio, A Esperança, será dividido em duas partes nos cinemas, a serem lançados em 2014 e 2015).

Também é a firmação de Jennifer Lawrence como a grande e atual "Namoradinha da América", já que os dois primeiros filmes já arrecadaram mais de US$1,5 bilhão no mundo até o momento, além do Oscar que já recebeu em 2013 por O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook, 2012) e outras duas indicações, sendo a segunda este ano por Trapaça (American Hustle, 2013).

É engraçado como o cinema às vezes nos surpreende, pois a maioria dos filmes baseados em livros bons costumam ser de medíocres a constrangedores, como, por exemplo, grande parte das adaptações das obras de Stephen King. Algumas outras conseguem fazer jus às obras que são baseadas, como a série Harry Potter ou O Senhor dos Anéis. Raras são as vezes em que livros tão pobres em narrativa ou descrição conseguem resultar produtos válidos de entretenimento, como acontece com esta série.

É nítido observar nos livros que a escritora Suzanne Collins utiliza uma narrativa em primeira pessoa para se abster de uma ação mais descritiva, talvez porque ela não tivesse idéia do que estava fazendo, ou também porque ela realmente não tenha talento o suficiente para descrever Panem e seus conflitos de forma tão detalhada como seria de costume em uma série épica, tanto que o roteiro que ela co-escreveu para o primeiro filme amplia o mundo distópico e compensa todas as faltas de criatividade literária que ela apresenta nos livros (com excessão da violência, que nos filmes é muito mais suave).

Claro, não podemos negar o fato de falarmos de uma série infanto-juvenil que conseguiu consquistar até jovens adultos nos Estados Unidos, país onde ele foi mais popular até o lançamento do primeiro filme, mas isso não justifica narrativa tão pobre e fácil, esquecível e que muitas vezes deveria ser dada a pré adolescentes para iniciação à leitura.

Com o fim das séries Harry Potter e Crepúsculo, adolescentes ficaram sedentos a procura por alguma nova série popular que pudesse compensar o buraco e a falta de assunto nas escolas. Eles encontraram em Jogos Vorazes algo que chamasse a atenção. De fato, o livro, embora pobre, possui uma idéia interessante, mas sabemos que de originalidade ele pouco (ou quase nada) tem.

Aparenta-se que a verdade é que Suzanne Collins se apropriou de uma obra japonesa escrita por Koushun Takami, chamada Batalha Real (Batoru Rowaiaru), lançada em 1999, sete anos antes de Collins lançar o primeiro livro de sua saga. Muito do que Collins utiliza em seus livros é bastante similar ao utilizado por Takami, há apenas algumas diferenciações de narrativa, culturas e ações, tudo de forma muito mais acessível para o ocidente. Mas a premissa, o tema e o conceito principal são os mesmos. Claro que hoje em dia há uma rivalidade entre os dois livros, mas não podemos ignorar o fato de que a obra de Takami é original por ter sido lançada antes, além de muito mais densa, melhor elaborada e descrita do que a de que a pobreza literária de Collins.

Seguindo a história do primeiro filme, agora Katniss Everdeen, a heroína que conseguiu sobreviver ao Jogos Vorazes juntamente com seu "suposto" amado, agora se transformou em uma ameaça ao governo de Panem, que abusa de seus cidadãos que vivem sobre uma repressão política e ditatorial presidida pelo temido Snow. Katniss virou um símbolo de liberdade e mudança de paradigmas para toda a população, e agora, tanto ela, quanto o povo, serão mais oprimidos do que nunca. Para mostrar que quem manda é o Governo, a nova edição dos Jogos Vorazes contará com a presença de todos os vencedores de todas as edições ainda vivos, e toda e qualquer ameaça de manisfetação por parte do povo será retaliada severamente.

Nos livros toda essa discussão política e social nunca é citada diretamente, já que, como dito, a narrativa é em primeira pessoa e bastante pobre em ações descritivas por parte da personagem principal. O grande atrativo, tanto do primeiro filme, quanto desta continuação, é que muito foi feito com tão pouco. No filme tudo faz mais sentido e há menos melodramas, clichés ou discurso inútil como nos livros, e a relação entre o Governo e o povo toma proporções revolucionárias que chegam até a ser bastante familiares com acontecimentos atuais pelo mundo.

Com certeza o desenvolvimento desta segunda parte é muito melhor realizado, talvez pelo roteiro, que não é mais assinado de forma bastante amadora pela escritora como foi o primeiro filme, mas, sim, por dois roteiristas já gabaritados como Simon Beaufoy e Michael Arndt. Esta segunda parte também ameniza o surto tecnológico do primeiro filme, com o uso exacerbado de efeitos especiais inúteis para cobrir buracos na história e no roteiro (muito embora este filme tenha sido mais caro, talvez pelos cachês). A sensação de sobrevivência dos personagens e de perigo eminente também são muito mais efetivos, e a história tem um crescente de fatos realizados de forma tão interessante, linear e coesa que, se nada fosse amenizado para o bem do público adolescente, o filme sem dúvida seria uma grande obra de ação adulta e até uma crítica política relevante. Tudo está muito bem colocado dentro das possibilidades. A história se desenvolve quando deve e as cenas de ação ocorrem quando precisam, muito embora os conflitos e dramas sejam desenvolvidos de forma muito ruim como a relação entre Katniss, Gale e Peeta, além da ainda dificuldade dos roteiristas em saber lidar com tantos personagens ao mesmo tempo. Mas no fim tudo culmina a uma sequencia final que realmente pega o espectador de surpresa e o deixa frustrado pela falta de resolução, deixando-o também ansioso para que a terceira parte chegue logo.

É impossível negar que grande parte da efetividade do filme é por conta de Jennifer Lawrence, sendo a atriz o enorme diferencial entre Jogos Vorazes e demais franquias para adolescentes lançado nos últimos anos.

Mas nada é muito perfeito. O segundo filme tenta dar uma introdução no início da revolução popular contra o Governo, além da história girar em torno de um enorme reality show assistido por toda a população para que eles sejam constantemente lembrados de que é o Governo de Snow quem manda, oprime, decide e obriga, só que pouco disso é mostrado ou explorado pelo ponto de vista do povo. Todo o foco fica apenas sobre a personagem principal e alguns outros poucos que a circundam, como se os roteiristas tivessem definitivamente esquecido o que está acontecendo fora da enorme redoma e de que o filme, na verdade, é uma ficção sobre uma releitura do romano pão e circo. Não temos a noção de como é para o povo assistir ao evento transmitido enquanto o medo se alastra pelas ruas, e tampouco vemos essa "tal" revolução popular evoluir, ou como todos estejam lidando com esta situação. Tudo ocorre de maneira muito subliminar e oculta no filme, o que é um dos grandes erros da produção e que dá a sensação de que as mais de duas horas de duração poderiam ter sido melhor aproveitadas.

Não dá pra dizer que Em Chamas é um filme excepcionalmente para o público jovem. O público mais maduro e que busca entretenimento e pipoca pode se satisfazer muito bem com este filme (mais do que com o primeiro), até mesmo porque, como dito, a atriz principal eleva o nível da produção, bem como demais coadjuvantes como Woody Harrelson, Elizabeth Banks (em uma participação merecidamente maior) e a inclusão de Jena Malone, que aqui repete um pouco do que foi feito em Sucker Punch (2011), mas dá um empurrão interessante no filme.

É sentar e aproveitar.

CONCLUSÃO...
Fora os pequenos defeitos do subaproveitamento das tramas paralelas e alguns excessos direcionados ao público juvenil, o longa consegue entreter e cumprir o que propõe, e mais ainda em dar densidade a uma série de livros que excede o reciclável e esquecível. Ou seja, o cinema Hollywoodiano ainda consegue e tem poderes suficientes para fazer uma grande arte com o lixo, mas nem sempre há desempenho suficiente para isso.

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