Translate

quarta-feira, 5 de março de 2014

OSCAR NA MEDIDA CERTA...

Nas previsões que realizei nas categorias principais, só errei nas de Atriz Coajuvante e Roteiro Original, pois realmente foram duas grandes surpresas, já que Jennifer Lawrence era, de fato, a predileta por ser, como Ellen DeGeneres mesmo a chamou durante a premiação, a nova "Namoradinha da América". David O. Russel também parecia ser favorito ao menos no roteiro, mesmo que não seja segredo a ninguém que dentro do roteiro este diretor pouco fica, já que adora dar atenção e liberdade a improvisos.

Lupita Nyong'O e Spike Jonze terem recebido o prêmio foi de uma imensa satisfação. A primeira por ser uma atriz não-americana e o segundo por ser um diretor de filmes excêntricos, porém sempre carregados de um sentimento sincero e incomum, ou seja, um diretor delicado e sensível que, em seu primeiro roteiro solo comprovou que não apenas é um grande diretor, mas também sabe escrever e contar uma história.

Também não era surpresa que o Oscar este ano seria agradável, mesmo sendo uma festa chata, interminável e entediante. Tivemos o imenso prazer de ter Ellen DeGeneres como anfitriã da premiação pela segunda vez. Aparentemente os organizadores da festa finalmente concordaram que sua primeira apresentação em 2007 foi a melhor da última década, pois foi dinâmica, com um teor de humor leve e familiar e que fugiu de constrangimentos políticos como o de Jon Stewart em 2006 ou tentou enfiar guela abaixo um humor chato e irritante como foi o de Chris Rock em 2005. Ellen é realmente uma mulher fina e elegante, com um senso de humor diferenciado, leve, agradável e simpático. Isso tudo talvez por estar há anos na televisão comandando programas no horário nobre, o que lhe deu experiência suficiente para saber como tratar um público etário variado e eclético, diferente do que foi com o humor constrangedor de MacFarlane em 2013, ou o sarcasmo ranzinza de Billy Christal em 2012, ou a bobagem de James Franco e Anne Hathaway em 2011, e por aí vai. Ellen também não perdeu tempo para criar piadas que zombassem da própria festa, de Hollywood, ou de seus convidados, o que aconteceu em demasia nos últimos anos e me fazia questionar qual a razão da premiação existir se quando seus apresentadores abrem a boca é para fazerem piadas irônicas ou sarcásticas sobre ela mesma. Ou seja, se os próprios membros da Academia, seus organizadores e apresentadores não a levam a sério, quem é que levará? Pois o público já deixou de levar há muito tempo desde quando filmes foram premiados mais por um favoritismo comercial do que pela qualidade, ou desde quando o lobby e o conchavo sempre foram mais valiosos do que as cédulas de votação, ou desde quando, ano após ano, repetidamente, a Academia comete erros irreparáveis que tentam ser consertados no futuro sem êxito, como as estatuetas dadas a Titanic em 1998, ou o Oscar dado a Gwyneth Paltrow em 1999, ou Anne Hathaway ganhar um prêmio em 2013, só para lembrar algumas das enormes mancadas da premiação.

2013 houve grandes filmes, mas poucos. Filmes de grande qualidade, mas a maioria ainda dentro da zona hollywoodiana de conforto. Vale dizer que 2013 foi um ano muito mais interessante na televisão do que no cinema, só para mostrar que falta ousadia nos longas metragens, pois há público para tudo.

A apresentação correu como devia e Ellen conseguiu, mais uma vez, diminuir a distância do palco com a platéia, e do show com seus espectadores. É sempre muito agradável, naturalmente engraçado e prazeroso vê-la vagando entre a platéia para interagir com os atores, como no momento em que perguntou quem gostaria de comer pizza em um bloco para, no outro, ela realmente sair distribuindo pizzas. Ver atores de gabarito como Meryl Streep mostrarem-se como pessoas comuns, que pegam até dois pedaços de uma vez, é realmente o que faltava para mostrar de forma indireta ao público que a festa pode ser glamurosa, mas todas as pessoas lá presentes são comuns e fazem coisas comuns como qualquer outra e não há nada de excepcional nisso.

Novamente foi um ano previsível em sua maioria, mas não foi injusto. Todos os filmes mereceram seu reconhecimento de uma forma ou outra, e até mesmo aqueles que sairam de mãos abanando tiveram seu reconhecimento pelo público, que lotou as sessões para ver títulos que não era esperado o sucesso que tiveram, o que mostra que o público vagarosamente está mudando, ávido por novidades.

Premiar Lupita e Cuarón não apenas foi uma atitude sensata como de extrema coerência. Darem preferência a Blanchett do que a Bullock foi triste para muitos, mas de nenhuma forma injusto e premiar 12 Anos de Escravidão já estava escrito, mas foi bonito mesmo assim.

Claro que a festa ainda continua longa, com números musicais cansativos quando poderiam ter as canções encurtadas apenas para demonstração, tal qual são as audições em The Voice, além da Academia insistir em não abrir uma categoria técnica para a premiação de dublês, o que realmente é uma vergonha e é apoiado de forma quase unânime tanto pelo público quanto por atores e diretores, cuja discussão voltou à tona em 2013 com a campanha erguida por Jason Stathan para que isso acontecesse.

Mas como um todo não há muito do que se reclamar do Oscar 2014 que, para título de curiosidade, foi o mais assistido nos últimos 14 anos, além de ter quebrado recordes históricos no Twitter... uma prova de que Ellen realmente é uma mulher popular e carismática, e mais poderosa do que imagina.

Nenhum comentário:

Add to Flipboard Magazine.