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segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

CARMINHA EXPLODINDO POBRE NO ESPAÇO...

★★★★
Título: Elysium
Ano: 2013
Gênero: Ficção, Ação
Classificação: 14 anos
Direção: Neill Blomkamp
Elenco: Matt Damon, Jodie Foster, Wagner Moura, Alice Braga
País: Estados Unidos
Duração: 109 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
A Terra está destruída e os ricos resolveram ir morar no espaço, enquanto os pobres trabalham a seu favor. Aí um homem recebe uma carga de radiação que o matará em 5 dias, e aí ele resolve ir para Elysium, onde há uma máquina super poderosa capaz de recuperar até um rosto destruído por uma bomba, e junto a isso, tentar salvar a classe pobre e proletária sem saber.

O QUE TENHO A DIZER...
O sulafricano Neill Blomkamp acertou quando estreiou na direção e escreveu a aclamada ficça-ação Distrito 9 (Disctrict 9, 2009), transformando extraterrestres em seres escravizados, excluídos e segregados na Terra pelos humanos em uma metáfora e referência direta ao Apartheid que ocorreu no sul da África por quase meio século. O interessante deste inesperado filme foi que isso não era uma crítica social apenas à exclusão racial, mas a qualquer tipo de exclusão social que existe, podendo-se substituir os extraterrestres por qualquer grupo excluído ou segregado sem perder o contexto da história. Isso levou o diretor a concorrer ao Oscar pelo filme nas categorias de Roteiro Adaptado e Melhor Filme, e catapultou o estreante diretor ao topo dos mais promissores.

Muito barulho correu sobre Elysium quando sua produção foi anunciada e muita gente se perguntou se ele manteria essa discussão política e social relevantes dentro de um filme de ação pipoca, mas o papo perdeu a força com trailers fracos e uma estréia modesta, que não agradou a primeira leva de público. Compreensível, pois a verdade é que sua nova investida decepciona por extamente tentar seguir os mesmos passos do anterior, mas nada de tão relevante ao ponto de acharmos as analogias interessantes demais para que ele possa ser considerado alguma coisa. O resultado foi um fracasso. O filme que custou mais de US$120 milhões, arrecadou custosamente um pouco mais de US$90 milhões só nos EUA.

O pano de fundo que Blomkamp utiliza nada mais é do que a segregação entre ricos e pobres, a concentração da assistência a saúde apenas aos poderosos e uma leve referência a Revolução Industrial. Temas batidos no cinema e que dificilmente convencem se não bem fundamentados e estruturados. Dessa vez ele faz da Terra um lugar destruído pela poluição e pelo esgotamento das reservas naturais, superpopulado por latinoamericanos que vivem em favelas, explorados incansavelmente por um governo elitista, como se latinoamericanos fossem, em sua essência, o exemplo da pobreza, da miséria e submissão. Pode até ser, mas ficou feio e mal arranjado na tela com um monte de gente falando espanhol.

Não é à toa que o filme tem dois atores brasileiros entre os principais, como Alice Braga (sobrinha de Sônia Braga) e o chatíssimo Wagner Moura, que pode ter sido bom em outra época, mas hoje virou mais um ator Rede Globo. Claro que o herói não podia ser outra pessoa além do norteamericano Matt Damon, que está perdido no filme e só vai descobrir de fato o que tem que fazer só lá pro final, quando ele finalmente recebe o resto do roteiro e o briefing do desfecho de seu personagem.

Já é decepcionante logo no começo, quando Damon solta piadinhas manjadas de rapariga gente boa que acorda todos os dias para enfrentar a fila do busão para realizar o trabalho explorador e ter uns tostões no fim do mês. Um tipo canastrão, de criminoso arrependido e que combina em nada com a persona do ator e personagens que ele interpretou no passado, principalmente em filmes de ação. Aí ele apanha de policiais ciborgues e sofre assédio no trabalho por um patrão casca grossa que ameaça substituí-lo por qualquer desempregado que está na fila em dois momentos cruciais da história: 1) quando chega com o braço quebrado no setor; 2) quando se recusa a entrar com o braço quebrado em uma cabine radioativa para desenroscar a porta de fechamento automático. Óbvio que, com o braço quebrado, ele entra na cabine, desenrosca a porta que se fecha automaticamente e ele recebe um banho delicioso de pura radioatividade que, como diz um dos personagens, não foi capaz de descolar a pele do corpo, mas vai deixá-lo vivo e em agonia por mais cinco dias. Tem umas pilulas mágicas que ele pode tomar e que farão os órgãos funcionarem normalmente até se deteriorarem por completo por conta da radioatividade (oi???), mas isso não é importante, porque ele vai se esquecer deste detalhe durante o filme, e quando lembra toma todas de uma vez.

O mais interessante de tudo é que era pra ele estar até verde (ou azul, como o Dr. Manhattan, de Watchmen) de tanta radiação, mas ele anda normalmente entre as pessoas sem qualquer problema e todo mundo fica de boa. Só vomita no começo, mas depois passa.

Aí a coisa piora quando resolvem acoplar um dispositivo biotecnológico em seu corpo, porque ele está fraco, mas precisa de forças de alguma forma para ir até Elysium porque ele não quer morrer, mas só vai conseguir chegar lá clandestinamente caso, em troca, consiga completar uma missão para o Wagner... digo... para o Spider, interpretado pelo Wagner (lembrando que ele tem apenas cinco dias para isso). Todo o processo cirúrgico e agressivo é feito em um buraco imundo qualquer, por pessoas suadas que usam ferramentas enferrujadas. A pressa era tanta que nem tiraram a roupa dele: serraram, martelaram, parafusaram e colaram tudo por cima daquela roupa encardida mesmo. Também acredito que ele não tenha passado nem uma noite sequer no ambulatório. Acordou algumas horas depois, sem dor alguma, olhou para todo aquele desconforto e perguntou (sic): "O QUE VOCÊS FIZERAM COMIGO?"

Uai... nada! Só uns ajustes.

E assim o filme se desenvolve, entre absurdos enfadonhos e outros, entre diálogos terríveis e outros, como no momento em que Matt vira para o Wagner e fala (sic): "PRECISO IR PARA ELYSIUM AGORA!", e o Wagner responde (sic): "SÓ VOU CONSEGUIR EM 5 DIAS". Mas peraí... no começo do filme o Matt não tinha dito que morreria em cinco dias? Weird!!!

Agora pulando toda a baboseira, vamos para o espaço: Elysium é lindo e parece um pedaço gigante de Miami. Tem coqueiros por todos os lados, mansões, piscinas, sol o dia todo e um bando de gente folgada de biquini e bebendo Martini. Tudo está a céu aberto porque todo este planeta artificial tem uma atmosfera qualquer e que ninguém se importa em explicar como funciona, mas ninguém também tem interesse em saber. É assim porque é assim.

Quem manda naquilo tudo é a Jodie Foster, toda metida a Carminha, de Avenida Brasil, sempre vestida de branco e mandando explodir pobre no espaço. Tem também um vilão meio afeminado, um personagem super esquecível e que não agrega nada na história, vivido pelo igulamente esquecido William Fichtner, que abre a boca apenas umas três vezes. Sua única função é carregar um dado no cérebro que será responsável por todas as reviravoltas na trama, se é que tem alguma de fato. Mas ele vai morrer, só pra dizer.

Lá no espaço o Matt trava uma batalha bem nervosa com o Krueger, outro vilão, vivido pelo ator Sharlto Copley. O ator é até interessante, mas aquele sotaque que ele usa, que não se sabe se é russo, francês, chinês ou o quê, é chato pra caramba, e toda vez que ele abre a boca pra falar é um grande desconforto primeiro porque, como já disse, o sotaque é chato, e segundo porque ele adora ser um vilão engraçadinho cheio de sadismo, que virou um tipo cliché nos últimos anos.

Enfim, o filme tem um visual muito interessante e uma história que poderia ter sido excelente se tivesse sido bem desenvolvida, mas no fundo ele é chato, arrastado, forçado e não convence. As atuações são caricatas e perdidas. A inclusão dos brasileiros no filme não tem razão. Alice Braga é sempre aquela coisa: franze a testa pra mostrar que está com raiva e faz cara de choro sem lágrima. Ver a atuação de Wagner Moura chega a ser constrangedor porque, aqui no Brasil, pra ser considerado bom ator, você tem que fazer careta e falar gritado, principalmente na Rede Globo, e esse exagero expressivo que não cabe numa tela de cinema não combina em nada com a competência comedida e quase européia de Matt Damon, que atua bem até quando atua mal. Então imagina...

Obs: detalhe para um ciborque enfermeiro que aparece bem rápido no fim do filme, lendo informações em um tablet. Pra que ler informações em um tablet se ele poderia ter as informações no próprio sistema, hein?! Que burro.

CONCLUSÃO...
Filme triste, arrastado, uma história sem pé nem cabeça. Percebe-se que sua produção foi corrida em roteiro. Vai agradar leigos e troianos, mas não convence nem na ficção. Blomkamp errou a mão e nas idéias, mas ainda é seu segundo filme, dá tempo de recuperar a carreira.

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