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quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

BESSON É ASSIM MESMO...

★★★★★
Título: A Família (The Family)
Ano: 2013
Gênero: Comédia
Classificação: 14 anos
Direção: Luc Besson
Elenco: Robert De Niro, Michelle Pfeiffer, Tommy Lee Jones
País: Estados Unidos, França
Duração: 111 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
O clã mafioso dos Manzoni agora foi relocado na Normandia sob o programa de proteção a testemunhas. Agora tentam levar uma vida normal, mesmo que seja difícil tirar do sangue italiano a brutalidade pela vingança.

O QUE TENHO A DIZER...
A Família foi dirigido, escrito e produzido pelo francês Luc Besson. Não vou me estender aqui sobre quem é esse diretor, ao invés disso vou apenas citar que ele criou o exemplo máximo da femme fatale em Nikita (1990), depois foi o responsável por dar o primeiro papel a Natalie Portman em O Profissional (Léon, 1994), conseguiu também transformar a modelo Milla Jovovich naquilo chamado de "atriz" no que também virou uma referência da ficça-ação científica em O Quinto Elemento (The 5th Element, 1997), e conseguiu repaginar a carreira de Liam Neeson como um senhor de ação em Busca Implacável (Taken, 2008/2012), franquia que já foi anunciada terceira parte (embora Besson não tenha dirigido nenhuma, apenas criou os personagens e escreveu o roteiro).

O seu sucesso como diretor o transformou mais em um grande produtor do que um grande cineasta (são 15 longas como diretor, contra mais de 100 como produtor). A fama não faz tanto jus ao talento. A maior força de Besson sempre esteve nos poucos e memoráveis personagens que ele criou, mais do que na sua capacidade como diretor ou roteirista.

Neste filme de humor negro e pesado na violência, que mais funciona como uma sátira sobre histórias de máfia e gângsters contados no cinema ao longo dos anos, não seria diferente. Os personagens são muito mais interessantes do que a história em si, e que infelizmente também perdem sua força conforme o filme chega ao fim.

O elenco, formado por atores que, em sua maioria, já passaram dos 50 anos de idade, também tenta pegar carona nas produções de ação que agora resgatam atores desta faixa etária para agradar o público da mesma idade e conquistar os mais jovens ao mostrar que, sim, eles ainda são capazes de carregarem um filme deste gênero com muito empenho. Exemplos destes filmes são: o sucesso da terceira idade chamado Red - Apostentados e Perigosos (Red, 2010), cuja continuação de 2013 foi um fracasso; Os Mercenários (The Expendables, 2010), que também terá uma terceira parte este ano; Liam Neeson novamente em Desconhecido (Unknown, 2011); Liam Neeson novamente outra vez em A Perseguição (The Grey, 2011); e por aí vai...

Conta a história da família Manzoni, que resolveu delatar seus comparsas para tentarem largar a vida do crime e viver uma vida normal, comum e correta através do programa de proteção a testemunhas que existe nos Estados Unidos, onde um grande criminoso pode ter sua pena reduzida ou perdoada caso ele colabore com a justiça na ajuda pela busca e/ou identificação de outros criminosos dentro de um grupo correlato ou afim. O programa agora enviou a família para a Normandia, na França, onde terão que se adaptar com os costumes locais e viver através do disfarce de uma familia americana tradicional, que gosta de churrascos e filmes. O problema é que o sangue italiano e o temperamento explosivo de todos os impedem de se adaptar nesta vida pacata e pacífica, e qualquer motivo se transforma em uma grande razão para retaliações severas como explodir um supermercado porque ouviu os donos falando mal da manteiga de amendoim, espancar o colega de escola com uma raquete porque ele tentou roubar um beijo, ou quebrar todos os ossos do encanador com um taco de baseball porque ele quis cobrar caro pelos serviços.

Essa violência por pouca coisa, absurda e um tanto surreal, deixa de ser chocante pra ser engraçada porque desde o princípio sabemos que o filme não é pra ser levado a sério. É até divertido em sua esquisitice, e que mais chama atenção por situações engraçadas criadas pelos atores, principalmente por Robert De Niro, que criou uma sátira dos personagens feitos por ele mesmo depois de tantos filmes seríssimos com Scorcese sobre o mesmo tema. Há até um momento para uma pequena referência a um de seus clássicos (Scorcese também assina a produção deste filme). Portanto, vendo o ator americano atuar como um chefe da máfia italiana, que fala inglês fluente e com sotaque meio italiano e meio novaiorquino (do Brooklyn) naquele mau humor e rustidez típica, chega a ser hilário e mais uma prova de como ele é bom. Michelle Pfeiffer é sempre graciosa demais para ser ignorada, mas está dentro da zona de conforto e só consegue arrancar algumas risadas também no falso sotaque que às vezes ela solta esguelado, como um miado de um gato velho.

Mas o roteiro não ajuda a segurar as qualidades. Toda a história poderia ter sido melhor aproveitada se a ordem dos acontecimentos tivessem sido diferentes no roteiro. Muita coisa que está no fim, deveria ter acontecido no começo, muita coisa que está no começo devia estar no fim e várias das coisas que está no meio poderiam ter sido divididas entre o começo e o fim. Demora muito para entendermos o que está acontecendo, quem é quem na história, ou sobre o que é tudo. Toda a explicação é dada em uma conversa entre De Niro e Tommy Lee Jones (seu personagem é totalmente dispensável na história) de uma forma pouco clara e direta, quando o roteiro caminhou em tanto buraco que ninguém mais está interessado em saber.

Como dito, conforme o filme chega a seu fim, os personagens vão perdendo sua força, bem como a narrativa empobrece mais ainda e transforma tudo em um filme descartável. Uma pena, há muito talento para pouca coisa na tela. Muito potencial para pouca visão. Tinha tudo para ser bom, só não teve ordem de idéias.

CONCLUSÃO...
De qualquer forma, para quem estiver mais interessado em De Niro, nos personagens, ou na violência cômica criada, vale a pena assistir, porque apesar de seus defeitos, não é um filme irritante e seus bons e esparsos momentos valem a pena. Mas assista sem muitas expectativas, porque Besson é assim mesmo.

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