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quinta-feira, 8 de agosto de 2013

MINHA MÃE NÃO É UM FILME...

★★★★★
Título: Minha Mãe É Uma Peça - O Filme
Ano: 2013
Gênero: Comédia
Classificação: 14 anos
Direção: Andre Pallenz
Elenco: Paulo Gustavo, Ingrid Guimarães, Herson Capri
País: Brasil
Duração: 80 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Hermínia é uma dona de casa desquitada, mau humorada, boca suja e esculachada, porém dedicada a vida doméstica e a seus filhos que não aguentam mais tanta histeria. Tudo muda quando ela resolve dar um tempo de tudo e de todos, e pensar mais em si, coisa que não fez desde quando seu primeiro filho nasceu.

O QUE TENHO A DIZER...
Minha Mãe É Uma Peça - O Filme (2013), como o título logo deixa claro até mesmo por conta de seu duplo sentido, é um filme baseado em uma peça teatral de enorme sucesso. Tanto a peça, quanto o filme, são atuados e escritos pelo próprio ator Paulo Gustavo, que baseou a personagem Hermínia em sua própria mãe de forma potencializada (se é que isso seria possível).

Infelizmente é necessário e um tanto obrigatório começar dizendo que o filme é produzido e distribuído pela Globo Filmes justamente para justificar todo e qualquer defeito, já que levar esse selo nunca é um mérito quando a produtora não é um braço, mas uma irmã gêma da própria Rede Globo de televisão, mantendo no cinema os mesmos moldes idênticos aos televisivos na fadigada intenção de, a todo custo, querer atingir apenas uma determinada classe populesca, o que nunca tira aquela impressão de se ver um episódio folhetinesco extendido ao invés de um filme para o cinema. Tanto é assim que novamente vemos a mesma meia-dúzia de atores de novelas sendo contratados como coadjuvantes para os mesmos tipos e participações especiais, além do desenvolvimento óbvio das histórias que segue com crises dramáticas desnecessária ou o exemplo do que existe de mais televisivo e desnecessário em um longa: os inserts de fachadas, aquelas cenas breves que aparecem mostrando o prédio ou a casa onde os personagens farão a cena seguinte. Chega a ser cansativo o exagero com que tudo isso é utilizado.

Toda essa grande bola defeituosa não é auxiliada pela direção bem pobre e igualmente televisiva e limitada de Andre Pellenz, que parece não se esforçar pra dirigir além de simplesmente movimentar a câmera de um lado para o outro (quando movimenta). Ele nem ao menos sequer se atentou em aliviar os ping-pongs nos diálogos ou as marcações teatrais automáticas de Paulo Gustavo, o que por um lado é até compreensível, já que o ator interpreta a mesma personagem há 8 anos em cima de um palco, mas é função de um diretor de cinema quebrar esse vícios, já que a linguagem é outra. Também temos o problema constante no cinema nacional dos atores interpretarem as falas que decoram, o que resulta em cenas artificiais, com zero de espontaneidade. Raras excessões quando partem dos atores mais gabaritados, como o próprio Paulo ou Ingrid Guimarães.

A história do filme não é muito diferente da do teatro. Se for pensar bem, não é nada diferente do teatro. A diferença é que agora Hermínia deixou de ser uma mistura de monólogo com stand up comedy para se transformar em uma personagem central de uma família perturbarda por suas histerias e manias, e os demais personagens, que no teatro eram ocultos e indeterminados, tomaram forma, ganharam falas e ações que não acrescentaram muita coisa além de ilustrar e desenhar ao público fácil algo que anteriormente era apenas criado, imaginado e fantasiado pelo próprio espectador.

Assisti a peça pela primeira vez em meados de 2009, antes mesmo de Paulo Gustavo se tornar o fenômeno que se tornou, e voltei a assistir no final de 2012, depois de se transformar no fenômeno que se transformou. Com o passar dos anos o ator Paulo não mudou absolutamente nada e se manteve o mesmo ator acessível e sem estrelismos de quando assisti a primeira vez, mas na peça notei algumas mínimas mudanças que não me fizeram achar tão hilária quanto achei ao assistir pela primeira vez, e ao assistir o filme, senti que ele me frustrou mais do que quando assisti a peça pela segunda vez. Ou seja, para quem já conhece, parece que tudo vai perdendo o fôlego e o anseio com o passar do tempo.

Mesmo com tantos defeitos habituais do cinema nacional, do sistema Rede Globo de produção e da direção quase amadora, o filme vale a pena ser assistido pois o show é sempre de Paulo Gustavo, e a impressão será completamente diferente e mais satisfatória principalmente para aqueles que não conheciam a personagem ou pouco sabiam sobre ela.

Paulo Gustavo brinca com os exageros o tempo todo e sem vergonha alguma ao hiperbolizar situações do cotidiano. Ele também consegue fazer situações que soariam constrangedoras e ofensivas serem hilárias até mesmo para os mais púdicos ou conservadores justamente por conta dessa aparência e linguagem desconexa com a realidade que é construída. Embora exagerado, tudo é crível quando o ator abre a boca por conta da espontaneidade, do improviso e do tom de esculacho utilizado ao ponto de nunca ser considerado que por baixo daquela peruca cheia de bobes e daquele vestido de estampa padronizada, existe um homem corpulento e completamente careca.

A conclusão do filme é bastante fora de todo o contexto, e se transformou em uma extensão de piada que podia ter sido evitada, mas que, se for bem usada e aproveitada, pode render uma segunda parte muito mais interessante para uma personagem que merece ser explorada além do habitat domiciliar e de piadas prontas e de risada fácil. O mérito do ator é válido em conseguir o mesmo sucesso da personagem no cinema tanto quanto no teatro e a grande satisfação que o filme passa é de sentir claramente o gosto que ele tem por interpretar Hermínia. Ponto positivo para os créditos finais que mostram a verdadeira mãe do ator de forma muito breve, mas o necessário para provar para qualquer espectador que duvidou que a personagem em si não é um exagero.

CONCLUSÃO...
O filme não evita cair em clichês e cafonices que, volto a dizer, não são problemas do ator, da história ou da personagem, mas do cinema nacional em geral, que insiste em AINDA se manter nos padrões e nas experiências televisivas, o que é outro sistema de linguagem tal qual é o teatro. Portanto, levar uma peça teatral para o cinema já é algo extremamente perigoso, e se torna uma bomba quando é adaptado para o cinema com os moldes de televisão. Quer dizer... é simplesmente pegar defeitos e enfiar embaixo de uma lupa. A salvação é o ator, que carrega o filme nas costas da mesma forma como faz na peça. Então, já que isso acontece da mesma forma, se houver a opção de escolha, fique com a peça.

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