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sexta-feira, 19 de julho de 2013

A MAIOR HISTÓRIA DE AMOR DE TODAS...

★★★★★★★★★☆
Título: Antes da Meia Noite (Before Midnight)
Ano: 2013
Gênero: Drama, Comédia, Romance
Classificação: 14 anos
Direção: Richard Linklater
Elenco: Ethan Hawke, Julie Delpy
País: Estados Unidos
Duração: 109 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Nove anos novamente se passaram. Celine e Jesse agora não são mais jovens como há 18 anos atrás, e nem estão na crise dos 30 anos como nove anos antes. Eles agora passaram dos 40, e junto com a idade chegaram outras responsabilidades e outra forma de enxergar um futuro não diferente, mas mais concreto e definido do que aquele que viam quando se conheceram.

O QUE TENHO A DIZER...
Em 1995 Richard Linklater teve uma idéia simples e que sem querer mudou a linguagem do que significa uma comédia romântica e nos maravilhou ao apresentar a francesa Celine (Julie Delpy) e norte-americano Jesse (Ethan Hawke), duas pessoas que se conheceram no vagão de um trem para Viena, ambos no auge da juventude e de sonhos a serem realizados e concretizados numa mistura entre a linguagem francesa e americana de se contar uma história de amor genuína.

A narrativa intimista de um filme simplesmente baseado no diálogo entre apenas dois personagens teria soado entediante, mas a forma como Linklater conduziu tudo, juntamente com a naturalidade e a química entre os dois atores e os diálogos inteligentes que vagavam aleatoriamente entre assuntos políticos, ironias, divagações e um certo cinismo romântico foram a porta de entrada para uma intimidade que nascia naturalmente aos olhos de quem os via, e o melhor, nos fez acreditar que aquilo era verdade.

Poderia soar como um conto de fadas moderno, onde duas pessoas se encontram por um puro acidente de percurso e sem querer descobrem o grande sentido da vida e do amor em sua forma mais plena, natural e espontânea. Tudo era perfeito, com excessão do tempo, que a cada minuto que passava encurtava as esperanças e aumentava as expectativas. E ao amanhecer o filme acabou com um ponto de interrogação que marcou o gênero naquela década. Jesse voltou para os Estados Unidos, e Celine voltou para Paris, e quem os conheceu ficou na dúvida se eles realmente se encontraram um ano depois como eles combinaram e descombinaram até finalmente entrarem em um acordo de se reencontrarem no mesmo lugar exatamente um ano depois a partir daquele dia.

O final não foi feliz, mas também não significou o contrário. Linklater deixou a situação aberta para todos terem a liberdade de construírem a própria continuação para ambos. Mas Antes do Amanhecer (Before Sunrise, 1995) foi uma surpresa tão grande para os amantes de cinema que a dúvida se transformou em um grande eco e deixou um gosto de querer mais tão forte que, em 2004, ele, bem como os atores, voltaram a se reunir para filmar uma inesperada continuação. E assim Antes do Pôr do Sol (Before Sunset) marcou o segundo capítulo de uma história que teve um brilhante início, e que foi digno de uma continuação tão boa quanto.

No segundo filme o diretor e roteirista agora contava com o apoio dos atores no roteiro, que improvisaram nos diálogos a maior parte do tempo, rendendo mais um episódio baseado em diálogos que agora voltavam ao passado para justificarem o presente. Agora Jesse era um escritor famoso, que transpôs para as páginas um romance vivido por ele mesmo nove anos antes e que agora se tornara um Best Seller, e durante o período de promoção em Paris, Celine o encontra por acaso em uma tarde de autógrafos. O filme novamente foi uma surpresa agradável no gênero, por ter sido uma continuação e por ter mantido (e muitas vezes elevado) as características e qualidades do primeiro, matando uma sede deixada com gosto. O estilo narrativo foi o mesmo, mas os pontos de vista começaram a apresentar mudanças até culminarem em um final novamente dúbio e livre para qualquer adaptação pessoal.

Em 2012 a notícia de que a possibilidade de uma terceira parte estava no plano deste triângulo vazou nas páginas de notícias de cinema de todo o mundo, e os fãs aguardaram avidamente, discutindo e imaginando que rumos os personagens principais tomariam, e que rumos o filme teria em uma idéia que já parecia limitada.

Eis que, finalmente, Antes da Meia Noite (Before Midnight, 2013) foi lançado no Festival de Sundance 2013 sob forte expectativa. E ele não fez feio. Para aqueles que acompanharam a tragetória daquilo que se transformou na maior história do verdadeiro amor no cinema, não houve um momento sequer no qual não pudéssemos nos identificar com ambos em alguma mínima parte da história.

A narrativa mudou drasticamente, e a situação intimista deu espaço para uma narrativa mais objetiva e distante, e de apenas um simples observador oculto, o espectador se transformou em um personagem indeterminado e presente num constante clima de intensa intimidade e tensão, como uma parte viva do dia a dia dos personagens, como velhos amigos, já que agora eles já estão com suas vidas contruídas e definidas da mesma forma como a nossa vida também continuou. Essa mudança drástica a princípio desaponta, mas pouco a pouco ela se justifica e se sustenta.

Nos dois primeiros filmes víamos Celine e Jesse juntos a todo o tempo, como duas pessoas realmente feitas uma para a outra em uma constante esperança de viverem felizes para sempre. Agora que o "felizes para sempre" se tornou uma realidade, o cenário mudou e vemos ambos como um casal que se ama, mas pouco a pouco se distanciou pela constante rotina inevitável de qualquer relação. Jesse no seu constante mundo fantástico de escritor que abadonou toda sua vida americana, e Celine no seu mundo real que pouco a pouco a transformou em uma mulher dedicada a seus filhos e a sua própria família, e ambos chegaram a um ponto de terem deixado de lado seus próprios desejos e vontades que conflitam constantemente com a decisão de terem resolvido ficar juntos tal qual o destino havia previsto.

Os momentos desconfortáveis e que refletem essas crises e a natural acomodação de uma relação são vários, mas há também os momentos onde a nostalgia ressurge, dando espaço para ambos terem momentos que os levam a reviver um passado que nunca é esquecido, mas se tornou arbitrário ora para um, ora para outro, e aquela progressão narrativa e retilínea que existiu entre ambos no passado agora se transformou em uma variação de altos e baixos inevitável do convívio e do casamento.

Por vários momentos o filme toma o rumo semelhante e cômico - mas sem deixar de ser realista - ao criado por July Delpy no seu projeto paralelo e independente de 2007, 2 Dias Em Paris (2 Days In Paris), mas obviamente que o tom de seriedade criado por Linklater não apenas são expostos na construção narrativa como também na forma como ele constrói as cenas e os obstáculos que se interpõem entre os dois personagens, que se aproximam e se repelem conforme a mudança de seus polos. Nos dois primeiros filmes, enquanto a câmera era um objeto que os unia, agora a câmera é um objeto que os separa, incomoda e constrange.

Como dito, a nostalgia é presente e uma constante logo após os primeiros 10 minutos de filme, e para quem acompanhou toda a trajetória de Jesse e Celine, chega a brotar lágrimas de satisfação quando os créditos iniciais aparecem, e vemos Jesse caminhando em direção a Celine pela primeira vez. Ou no momento em que, em uma cena bastante simbólica, ambos assistem o pôr do sol no horizonte da península grega do Peloponeso.

CONCLUSÃO...
Nostálgico, por vezes desconfortável e uma grande guinada narrativa em comparação aos anteriores, Antes da Meia Noite é uma terceira parte coerente e cheia de simbolismos em uma grande história construída em 18 anos. E como li em algum lugar, passaria a vida inteira assistindo a história de ambos a cada 9 anos até Linklater, Hawke e Delpy resolverem fazer a sua própria versão de Amor (Amour, 2012).

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