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sexta-feira, 7 de junho de 2013

ZUMBIS TAMBÉM AMAM...

★★★★★★★
Título: Meu Namorado É Um Zumbi (Warm Bodies)
Ano: 2013
Gênero: Comédia
Classificação: 14 anos
Direção: Jonathan Levine
Elenco: Nicolas Hoult, Tereza Palmer, Analeigh Tipton, Rob Corddy
País: Estados Unidos
Duração: 98 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
R. é um zumbi diferente dos outros, que pensa, coleciona objetos alheios, ouve clássicos do rock e tenta descobrir qual é o seu lugar em um mundo de mortos e vivos, até o dia que ele come o cérebro de um humano e se apaixona pelas memórias do rapaz que remetem a uma jovem chamada Julie. A partir daí R. se apaixona pela humana e, na sua dificuldade zumbi de ser humano, tenta conquistá-la e mostrar que o seu coração morto pode voltar a bater.

O QUE TENHO A DIZER...
O filme é escrito e dirigido por Jonathan Levine, diretor que já tem alguns filmes no currículo, sendo o mais conhecido deles o comediodramático e forçado 50/50 (50%, 2011), que até fez sucesso, mas não o suficiente para ser relevante. Neste título fantasioso e satírico ele consegue se dar melhor do que no seu filme anterior, e isso de deve principalmente ao fato da total despretenção de colocá-lo forçadamente em algum lugar, como ele tentou com 50/50. Meu Namorado É Um Zumbi foi lançado discretamente e caiu no gosto do público, arrecadando mais de US$60 milhões só nos EUA.

É um daqueles poucos títulos que surgem uma vez ou outra, pegando um tema que está na moda e correndo contra a maré ao fazer disso a base de uma história inusitada e que tenta ser tão absurda quanto o mundo em que ela se passa, e que, por isso, acaba sendo coerente. Assim como aconteceu com o inesperado Distrito 9 (District 9, 2009), quando o diretor e roteirista Neill Blomkamp metaforizou o Aparteid ao transformar alienígenas em seres excluídos e demonizados pela sociedade, Meu Namorado também pega o mote de contar a história de personagens sistematicamente tidos como vilões e mostrar um ponto de vista mais humano e nunca imaginado. E assim ele constrói um mundo de mortos-vivos que podem pensar, amar e se recuperar dessa doença desde que eles sejam constantemente alimentados por uma fonte de vida chamada "amor". Parece banal e bobo, inusitado e também tão absurdo quanto, mas é por isso que funciona.

Levine usa o absurdo a seu favor para satirizar e brincar com um estilo que se tornou batido, e consegue dar um ar fresco para aquilo que parecia não ter mais conserto depois do exagero de filmes B que resolveram ressucitar os mortos-vivos nos últimos anos, além do seriado The Walking Dead, que pegou tudo que foi feito até hoje sobre o assunto e jogou em um liquidificador, chegando a fazer o diretor Danny Boyle a manter segredo absoluto sobre sua provavel idéia de dirigir/produzir uma terceira continução da excelente franquia Extermínio (28 Days Later/28 Weeks Later, 2002/2007) dizendo: "se eu disser qual é a idéia, eles irão usar em The Walking Dead".

Levine também pega uma leve carona e tenta criar uma atmosfera engraçada em cima de situações banais de produções acéfalas atuais e de gosto duvidoso, que colocam como plano principal casais adolescentes que sofrem por serem e viverem em naturezas distintas, como acontece com o casal Bella e Edward na Saga Crepúsculo. A referência a estes tipos insossos é tão forte que os atores principais são até parecidos com o da série citada, a grande diferença é que nada aqui é feito para ser levado a sério, e mesmo nada sendo levado a sério, os atores atuam melhor do que naquelas produções que tentam levar um absurdo a sério, como a saga mencionada.

Guiado por uma narrativa um tanto Braz Cubas de ser por conta de suas memórias póstumas e seus pensamentos sobre como seria a vida se ele ainda estivesse vivo, o zumbi R. não chega a ser cativante, mas o seu isolamento no mundo, a incompreensão de ser o que é e a tentativa de ser uma criatura melhor, conseguem ser. Talvez eu tenha achado tudo muito bonito depois de meia garrafa de vinho. Vai saber?!

Claro e óbvio que o filme não poderia deixar de abusar do desnecessário, inventando conflitos na regra de que para todo protagonista deve-se existir um antagonista, assim como para todo herói deve existir um anti-herói, pois os filmes comerciais obrigatoriamente necessitam dessas características para ser compreendido pelo público mediano. O que é uma pena, pois poderia facilmente ter abolido o desnecessário e mantido apenas o nível interessante, e que por muitas vezes ele tem.

De qualquer forma, nos momentos em que o diretor e roteirista esquece de se manter dentro de fórmuletas prontas, a história simples até consegue ser sensível sem ser piegas, e absurda sem ser forçada.

CONCLUSÃO...
Sem dúvida o filme é uma grande surpresa nessa leva de produções do gênero, conseguindo ser um diferencial exatamente por ir contra a corrente. Mesmo contra a corrente ele ainda se mantém fiel a determinadas regras e manuais de como se fazer um filme, mas os prós são diferenciais suficientes para, aquilo que parecia ser uma idéia naufragada, emergir com algo que sacia aqueles que buscam por algo diferente, nem que seja pouco.
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