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quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

SEXO ENTRE AMIGOS NUNCA FOI TÃO REPRODUTIVO...

★★★★★★★★★☆
Título: Gayby
Ano: 2012
Gênero: Comédia
Classificação: 14 anos
Direção: Jonathan Lisecki
Elenco: Jenn Harris, Matthew Wilkas
País: Estados Unidos
Duração: 90 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Uma mulher hetero e seu melhor amigo gay resolvem ter um filho, porém ela quer que o filho seja feito à moda antiga, num filme onde o sexo entre amigos nunca foi tão reprodutivo.

O QUE TENHO A DIZER...
Gayby é escrito, dirigido e também atuado por Jonathan Lisecki (ele faz o melhor amigo do protagonista). É seu primeiro longa metragem, mas sua relação com o filme é antiga.

Tudo começou quando sua melhor amiga de infância quis ter um filho com ele (ele é gay na vida real e casado com o crítico de música Alex Ross). O resultado disso foi que ela resolveu ter o filho com outra pessoa, enquanto ele resolveu utilizar essa bagagem para, depois de alguns anos de testes em busca dos atores para o papel, conheceu Jenn Harris e Mathew Wilkas, amigos na vida real, e então produziu um curta metragem de mesmo nome contando essa história de maneira cômica. O curta teve um sucesso inesperado, sendo exibido em mais de 100 lugares entre amostras culturais e cinemas de circuito independente.

Já com experiência no teatro independente, ele não tinha a pretensão de transformar o curta em um longa, mas sempre soube que havia mais na história para ser contada, e em 2011 resolveu trabalhar no roteiro, inspirando-se nas comédias dos anos 30/40 e na sua própria vida, e então logo em seguida as filmagens começaram, mantendo a mesma dupla de atores.

Em 2012, antes mesmo de seu lançamento no famoso festival South by Southwest (SXSW) em 2012, o filme começou a ter um boca a boca interessante, se tornando um dos mais comentados e vistos no festival, além de muito bem aceito pela crítica e público, o que foi uma grande alavanca promocional para a pequena produção. Por conta disso, merecidamente, o filme já se tornou um cult inesperado na comunidade GLS, fóruns e sites de compartilhamento de vídeos, já que é um filme de baixíssimo orçamento, mas que foi feito com bom gosto e vontade de dar certo.


Jenn (Jenn Harris) e Matt (Matthew Wilkas) são amigos de longa data, ela é professora de Yoga e heterossexual, e ele, gay, trabalha em uma loja de revistas e histórias em quadrinhos, além de ser desenhista nas horas vagas. Jenn começa a sentir a necessidade de ser mãe, e propõe a Matt que façam um filho juntos, mas nada de inseminação artificial ou usando seringas de "rechear peru", como eles mesmos dizem. Ela quer que o filho seja feito à moda antiga. Matt aceita toda a situação tranquilamente, mas as constantes tentativas se tornam desgastantes e ao mesmo tempo passa a interferir na vida particular um do outro.


O título se refere aos casais gays que resolvem ter um filho, e ao invés de ser chamado de "baby", é chamado de "gayby", sendo esta a inspiração e o nome do personagem em quadrinhos que Matt cria.

A história pode não ser original, pois já vimos isso antes em algum lugar, mas o grande atrativo do filme são os diálogos rápidos e inteligentes de todos os personagens, dos principais aos que aparecem apenas para fazer uma pontinha. As situações são naturalmente cômicas, como a cena antes da primeira tentativa de Jenn e Matt, que poderia facilmente cair no ridículo e cliché, mas ambos desenvolvem uma situção tão naturalmente desconcertada que ela deixa de ser constrangedora para se tornar delicada e hilária, ou quando eles desistem das constantes tentativas ao cairem na real de que a situação desnecessária é ridícula para ambos, e só eles que ainda não tinham percebido isso.

Apesar de aparentar um filme para a televisão por conta das limitações e da qualidade de imagem e som bastante inferiores, os personagens nunca se diminuem ou se idiotizam para forçar situações engraçadas como é de praxe em produções do gênero, sendo este o grande tom de bom gosto e refinamento do roteiro e que elevam a qualidade da produção como um todo, em um tempo de comédia certeiro.

É um filme tipicamente temático, que novamente usa e abusa dos difrentes estereótipos para reforçar a imagem e idéia de que os gays são legais, inteligentes e culturalmente bem estabelecidos, e é por isso que todo mundo os adoram. Mas ao mesmo tempo equilibra esse exagero ao colocar os personagens em atitudes e decisões que fogem um pouco do óbvio, como o personagem principal ser um nerd romântico que trabalha numa loja de revistas ao invés de ser um maquiador ou cabeleireiro, ou Jenn ser uma mulher independente que apenas quer ter um filho ao invés de ter um amor platônico pelo amigo gay, e ambos terem uma vida normal de trabalho e desilusões comuns do cotidiano. Também tem muitas referências que o público hetero poderá não entender ou relevar sem algum amigo gay traduzir, pois não faz parte da sua cultura, mas isso não os impede da oportunidade de apreciar as inúmeras outras qualidades e a linguagem universal ainda sim mantida.

Os atores são desconhecidos e com poucos trabalhos no currículo, mas com certeza grandes revelações, principalmente Jenn Harris, que oferece uma caricatura bem incomum, além da química entre ambos ser bastante sólida e realista graças a amizade real entre eles, tanto que o filme começa com exibição de fotos que, segundo o diretor, são autênticas e retirada dos álbuns no facebook dos próprios atores. Uma comédia inusitada sobre amizade, sexo, solidão e sobre a família que escolhemos ter.

CONCLUSÃO...
Sem dúvida é um daqueles filmes pequenos e independentes, mas relevantes, que não tem pretenções ou intuitos de bater de frente com produções maiores, uma das grandes surpresas de 2012, feito para um público que desesperadamente necessita de diferenciais no gênero e que Jonathan Lisecki consegue oferecer de uma forma autêntica mesmo quando utilizando as caricaturas e estereótipos mencionados.

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