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quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

PARA CADA FRASCO DE REMÉDIO HÁ UMA TAMPA...

★★★★★★★★
Título: O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook)
Ano: 2012
Gênero: Drama, Romance, Comédia
Classificação: 14 anos
Direção: David O. Russel
Elenco: Bradley Cooper, Jennifer Lawrence, Robert De Niro, Jacki Weaver, Julia Stiles
País: Estados Unidos
Duração: 122 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Um homem que sofre de bipolaridade acaba de sair de uma clínica psicoterápica depois de 8 meses em reclusão judicial. Ele acredita estar apto para se reintegrar à sociedade e provar à sua ex-mulher de que eles ainda podem retomar o casamento de onde parou. Mas ele conhece uma jovem depressiva que passa a mostrar as coisas sobre outros pontos de vista e por um lado bom da vida que ele não imaginava existir.

O QUE TENHO A DIZER...
Filme dirigido e escrito por David O. Russel, o mesmo de Três Reis (Three Kings, 1999), A Vida É Uma Comédia (I Hurt Huckabees, 2004) e O Vencedor (The Fighter, 2010). É uma adaptação do livro homônimo de Matthew Quick. Além disso, também é o segundo filme produzido pelo ator Bradley Cooper, que mais uma vez acerta a mão nessa comédia romântica inusitada tanto quanto ele acertou com o thriller Sem Limites (Limitless, 2011).

Raramente somos agraciados com um diferencial em um gênero tão batido. A história começa com a saída do personagem Pat Soletano (Bradley Cooper) de uma clínica psicoterápica após 8 meses de tratamento por conta de um repente violento que ele teve após encontrar sua mulher com o amante, tudo levado por conta da condição bipolar que ele até então desconhecia. Ele acredita estar reabilitado e pronto tanto para a reintegração social quanto para perdoar sua mulher e retomar o casamento, caso não houvesse uma restrição judicial que o impeça de se aproximar dela por menos de 150m. É quando ele conhece Tiffany (Jennifer Lawrence), uma garota que ficou viúva há pouco tempo e que sofre de depressão crônica. Ela é a única que pode se aproximar da ex-mulher de Pat, e ele se aproxima de Tiffany com o interesse de fazê-la entregar uma carta, porém a jovem só aceitará fazer este favor se ele também retornar alguns favores em troca, já que ela está apaixonada por ele e, de uma forma manipuladora, vai tentar conquistá-lo durante o processo.

Então conheçam Pat Soletano e Tiffany, dois personagens que não tem absolutamente nada em comum além de sofrerem de disturbios psiquiátricos. Um tem repentes violentos e de raiva, enquanto a outra tem repentes de tristeza, angústia e incompreensão. Juntos eles poderiam formar o casal que menos daria certo, mas são exatamente seus problemas e dificuldades que os aproximam, criando uma linguagem entre eles que funciona.

É um filme que mistura diversos gêneros e consegue até fazer algumas referências bem interessantes às comédias românticas antigas. Tem sido bastante elogiado e com razão, pois realmente consegue dar um certo ar de novidade e até ser genuído em determinados momentos. O filme começa como um drama, lembrando um pouco O Casamento de Rachel (Rachel Getting Married, 2008) por conta da situação perturbada do personagem e do clima de dúvida de um passado que desconhecemos, bem como o uso constante da câmera na mão na tentativa de aumentar a sensação de proximidade e intimidade entre o espectador e o filme. Vagarosamente ele se apresentar mais leve e sutilmente engraçado, construindo um tom de comédia em cima das situações constrangedoras que os personagens se colocam e nos absurdos que desarrolam naturalmente. O ato final do filme é a comédia romântica propriamente dita, com direito a todos os clichés que foram evitados durante mais de uma hora.

Mas nada disso se destoa ou incomoda, pelo contrário, o roteiro não deixa o filme cair em deslizes ou degraus muito altos entre um estilo e outro, e tudo funciona como se deve. Até mesmo a câmera suspensa manualmente também não chega a ser inconveniente, pois o diretor parece ter tomado cuidado nos exageros comuns de diretores que optam por esse estilo de filmagem que já se tornou antiquado nos últimos anos pelo excesso de produções que utilizaram esta técnica.

O filme foi indicado a 8 Oscars: Direção, Filme, Ator, Atriz, Ator Coadjuvante, Atriz Coadjuvante, Roteiro Adaptado e Edição (eu tenho lá minhas dúvidas sobre o valor dessa categoria no filme). As sete primeiras categorias são as principais e raramente um filme consegue esse feito, embora seja difícil que ele vença em um ano bem concorrido. As atuações também são os grandes pontos positivos de todo o elenco. Todos tem seu momento de importância e sempre são muito bem colocados em cena e nas situações, dando oportunidade a todos sem ninguém ofuscar o outro com o brilho. Bradley Cooper não apenas tem desmonstrado seus talentos como empreendedor (ele tem recebido dezenas de propostas e sabido escolher a dedo seus filmes) como também um ator versátil que sabe se adequar em filmes menores e mais complexos e também enfatizar sua panca de galã em filmes maiores e mais populares. Jennifer Lawrence brilha e rouba a maioria das cenas em uma personagem também psicologicamente difícil, mantendo um platô entre não aparentar ser depressiva demais e transformar o filme em um drama, e não ridicularizar demais para não forçar situações engraçadas que facilmente cairiam no ridículo. Robert De Niro obviamente está em uma performance que há tempos não se via, com direito até a lágrimas sinceras de um lado dramático que raramente se viu nos papéis do ator. Jacki Weaver, no papel da mãe que está a todo o tempo segurando as pontas por todos os lados, sempre com o semblante carregado de que a qualquer momento qualquer deslize pode por tudo água a baixo, está fenomenal.

Para o filme, cada frasco de remédio tem sua tampa, já que é uma história que a todo momento faz alusão ao ditado de que para todo caldeirão há uma tampa. É o ser humano precisando de pouco, tanto para se desmanchar em pedaços que se perdem e deixam buracos, quanto para se restabelecer substituindo as peças perdidas por outras que, podem não combinar, mas se encaixam.
Mas no meio de tantas qualidades é uma pena que o continuísta desse longa seja tão ruim, tanto que cada vez que Jennifer Lawrence é focalizada numa mesma sequência, ela está com o cabelo diferente, talvez os momentos de maior piada de todo filme.

CONCLUSÃO...
Faz jus a todos os comentários positivos que vem recebendo e definitivamente é um diferencial no gênero nos últimos anos. Não é uma comédia romântica na sua excelência, mas consegue se fazer genuíno na dramédia romântica construída, já que o filme também possui pitadas dramáticas bem grandes. Para aqueles que esperam algo mais engraçado em um estilo Judd Apatow de se fazer comédia, estará redondamente enganado, mas com certeza, depois de um certo tempo, se deixará levar por um dos casais mais estranhos que o cinema não apenas conseguiu juntar, mas também colocar nos eixos.

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