Translate

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

"O SOL NASCE EM MOONRISE KINGDOM"...

★★★★★★★★
Título: Moonrise Kingdom
Ano: 2012
Gênero: Comédia, Romance, Drama
Classificação: 12 anos
Direção: Wes Anderson
Elenco: Jared Gilman, Kara Hayward, Bruce Willis, Edward Norton, Bill Murray, Frances McDormand, Tilda Swinton, Bob Balaban
País: Estados Unidos
Duração: 94 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Um casal de adolescentes apaixonados fogem da pequena cidade de New Penzance para refazer o mesmo caminho de migração de colheita de uma antiga tribo, colocando a pequena população da cidade em polvorosa, ao mesmo tempo que se transforma em um grande acontecimento em um lugar onde nada interessante acontece.

O QUE TENHO A DIZER...
O filme é dirigido e produzido por Wes Anderson, e o roteiro original é escrito por ele em parceria com Roman Coppola, filho de Francis Ford Coppola, com quem ele já havia trabalhado anteriormente em Viagem A Darjeeling (The Darjeeling Limited, 2007).

Juntamente com Os Excêntricos Tenembauns (The Royal Tenenbaums, 2001), é o filme mais lucrativo e de sucesso nos cinemas de Wes Anderson. Custou US$15 milhões e arrecadou mundialmente mais de US$65 milhões. O que é um fato bastante estranho para um diretor de 44 anos e com sete longas metragens no currículo, incluindo a elogiada animação O Fantástico Senhor Raposo (The Fantastic Mr. Fox, 2009), que foi praticamente ignorada pelo público naquele ano e pelo Oscar, perdendo a estatueta pelo bom, mas não melhor, Up - Altas Aventuras (Up, 2009).

Ele também é conhecido por suas parcerias, como a com o ator Owen Wilson, que já atuou e também colaborou com o roteiro de vários outros títulos, incluindo o próprio Tenembauns, com o qual concorreram ao Oscar de Melhor Roteiro Original em 2002, perdendo para o filme de Robert Altman, Assassinato em Gosford Park (Gosford Park, 2001). Ou também a parceria com os atores Bill Murray e Angelica Houston. É um diretor muito bem quisto no meio, sendo por vezes comparado a diretores, seja pelo visual ou pela condução das histórias, como Tim Burton, Michel Gondry, Spike Jonze, Tarsem Singh e até mesmo os irmãos Cohen.

Moonrise tem uma história um pouco diferente de seus filmes anteriores, já que é uma dramédia romantica que trata do amor entre dois jovens que estão entrando na adolescência e são apaixonados um pelo outro por conta de suas particularidades e excentricidades em comum, além da constante curiosidade por coisas que ninguém tem interesse e a vontade de explorarem juntos um mundo fora do que existe na pequena cidade onde moram. E assim eles fogem com o intuito de refazer um caminho que era realizado por uma tribo antiga durante o período de colheita. O desaparecimento dos dois coloca a cidade de pernas para o ar, e ao mesmo tempo se transforma em um inusitado acontecimento que também se transformará em um grande espetáculo por conta de uma forte tempestade que se aproxima da ilha onde vivem.


Anderson é conhecido por suas cenas visualmente interessantes e pela coerência de uma estranha mistura cenográfica que foge do perfeccionismo, colocando seus personagens em situações estranhas e cômicas numa alienação do comportamento convencional. Ele faz isso para intensificar o incomum e trazer do idílico para a realidade (e vice-versa) de que o imperfeito faz parte daquilo que é mostrado e também do nosso próprio cotidiano. E esse filme é novamente o diretor brincando com o diferente e o esquisito. Há sempre elementos nas cenas que se destacam e que quebram a perfeição e homogeneidade, como uma marca, ou um defeito, que simboliza essa metáfora de que o diferente não deve partir dos olhos de quem vê, mas de que está lá o tempo todo e é comum.


Assim como todos seus filmes anteriores, tudo se passa em um mundo fantástico onde há sempre uma contradição não apenas nos cenários, mas também nos personagens. Aqui os personagens infantojuvenis agem como uma metáfora do comportamento adulto, mas por um ponto de vista ingênuo do amor, do medo e do companheirismo. Ao mesmo tempo vemos adultos que já perderam a ingenuidade agindo como crianças por pura ignorância. Também temos personagens de bela aparência com comportamentos transviados e personagens com aparências estranhas tendo atitudes comuns. É como colocar o menino com o tapa-olho no meio dos desmais escoteiros em seus perfeitos uniformes; ou em um outro momento, em que os personagens principais vão para um lugar isolado para conversar e de repente um menino começa a pular em uma cama elástica; ou a estranha casa na árvore; ou a relação romântica, porém crua e nada melosa dos personagens. É a forma de Anderson quebrar com os padrões, e ao mesmo tempo fazer o espectador ser obrigado a mudar o foco de atenção sem se dispersar, apenas para prestar atenção nos detalhes. É exatamente o que o personagem principal faz quando começa a explicar todos os instrumentos utilizados em uma música orquestrada. Ou seja, expandir a visão limitada para que ela dê atenção ao belo que é pouco visto, e o belo não significa ser perfeito.


O filme foi indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original, mas novamente não será o favorito, assim como é mais um filme do diretor esquecido em outras categorias. Talvez seja seu melhor filme até o momento por ser a junção de todas as excelentes qualidades que ele colecionou e fez disso um estilo único ao longo da carreira. Também há uma certa e interessante semelhança entre a relação construída dos personagens com os da comédia romântica O Lado Bom Da Vida (Silver Linings Playbook, 2012). Nem por todas suas grandes qualidades é um filme que se abstém de defeitos, mas não são defeitos técnicos, muito menos da direção perfeccionista e de um roteiro sem tropeços ou buracos, mas defeitos nossos por não estarmos acostumados a assistir filmes como esse.

CONCLUSÃO...
É uma história de amor inconvencional, em um filme inconvencional, de um diretor inconvencional, para um público que esteja aberto ao inconvencional.

Nenhum comentário:

Add to Flipboard Magazine.