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| ★★★★★★★★★★ |
Ano: 2012
Gênero: Ação, Suspense
Classificação: 14 anos
Direção: Sam Mendes
Elenco: Daniel Craig, Javier Bardem, Judi Dench, Ralph Fiennes, Naomi Harris, Berenice Marlohe, Albert Finney
País: Reino Unido, Estados Unidos
Duração: 124 min.
SOBRE O QUE É O FILME?
James Bond morreu e um importante arquivo listando o nome de todos os agentes secretos da MI6 está livre em algum lugar. A MI6 agora é o alvo, assim como M, e os agentes estão sendo mortos um a um até que alguém apareça para impedir.
O QUE TENHO A DIZER...
Este é o 23º filme da franquia, sendo o terceiro estrelando Daniel Craig no papel do agente secreto. 2012 foi também ano de aniversário, ano em que o personagem de Ian Fleming completa 50 anos de existência, e este filme não poderia ser melhor para comemorar isso.
Após o lançamento de Um Novo Dia Para Morrer (Die Another Day, 2002), os produtores Barbara Broccoli e Michael G. Wilson, donos da EON Productions, detentora dos direitos autorais e da marca, estavam descontentes com os rumos que as adaptações estavam tomando e com as constantes críticas negativas. Isso resultou numa mudança brusca envolvendo a quebra de contrato com o ator Pierce Brosnan (ele estava contratado para quatro filmes, mas realizou apenas três) e uma total reformulação de todo o mundo envolvendo James Bond.
Almejando um caráter mais humano e realista do personagem e um filme de ação mais tático e menos tecnológico, a série sofreu um reboot completo. O até então pouco conhecido ator Daniel Craig foi contratado, e para inaugurar essa nova geração de filmes resolveram pegar uma das primeiras adaptações como ponto de partida, e assim Casino Royale (2006) ressurgiu. A idéia de reformular a série deu tanto certo que o filme foi um estrondoso sucesso de crítica e público e Daniel Craig, que a princípio não parecia uma boa escolha por não ter nenhum traço de galã romântico como seus antecessores tinham, automaticamente se tornou um dos favoritos justamente por dar essa imagem mais sisuda e psicologicamente complexa do personagem, trocando os aparatos tecnológicos e armas pela força bruta, aparentando ser um espião menos experiente e mais vulnerável, que deixou de lado o smoking para suar a camisa. Não somente isso, Casino Royale também foi responsável por mostrar como James Bond se tornou o que é após a perda de Vesper Lynd, seu primeiro grande amor depois da insuperável morte de sua segunda e última esposa, Tereza Tracy. Vesper morre durante uma viagem a Veneza, por conta da organização Quantum, o que no filme também acaba sendo uma referência direta ao passado original de Bond, já que Tracy fora assassinada durante a lua de mel numa emboscada.
Empolgados com o sucesso, Quantum Of Solace (2008) foi lançado dois anos depois, sendo uma sequencia direta de Casino Royale, o que nunca aconteceu nos filmes de Bond, além de também não ser baseado em nenhuma das obras de Ian Fleming, mostrando um lado mais perturbado e sedento por vingança do personagem, se tornando um assassino frio e corruptível, tanto que ele perde sua licença para matar. O público não aceitou muito bem, pois não soube compreender e ligar um filme ao outro e todo o processo natural pelo qual James Bond passou para adotar uma postura mais sombria. Mesmo sendo bem sucedido, não fez tanto sucesso como o anterior e as críticas foram mistas, e mais uma vez os produtores resolveram repensar nos rumos que o espião teria nos filmes seguintes. Isso colocou novamente em dúvida se Daniel Craig seria substituído ou não, mas posteriormente isso mostrou ser apenas boato da mídia e em 2010 a pré-produção de Skyfall teve início. O lançamento então foi agendado para 2012 para coincidir com o 50º aniversário do personagem.
Os produtores afirmaram categoricamente que, embora ele tenha diversas referências de filmes anteriores para homenagear o meio século de vida de Bond, Skyfall é uma história independente e não é uma sequência das histórias desenvolvidas em Casino Royale e Quantum Of Solace. Eles afirmaram também que os filmes de Bond não serão mais sequenciais como na tentativa desenvolvida nos dois filmes anteriores, embora a possibilidade de Skyfall ser a primeira parte de uma trilogia não esteja descartada.
A história dessa vez envolve diretamente os erros humanos dentro da MI6, quando um hard drive da organização é roubado contendo uma lista com o nome e perfil de todos os agentes secretos infiltrados em organizações terroristas, colocando não apenas a vida de todos em risco, mas de todo o serviço secreto britânico naquilo considerado como o maior vazamento de segurança nacional já ocorrido. Durante a busca pela lista, a companheira de campo de Bond, Eve (e que posteriormente vem a ser uma grande surpresa), por pressões de M, erra o alvo e acerta Bond com um tiro letal. Com o tiro, o agente cai em um rio e desaparece, sendo tido como morto. Junto a isso, M sofre pressões políticas para se aposentar forçadamente, e os atentados contra a MI6 e seus agentes começa. Percebendo que todos se tornaram alvos, Bond ressurge para caçar e interromper uma sequencia de eventos desastrosos.
É claro que indiretamente podemos dizer que Skyfall é novamente um "novo reinício", e esse novo reboot de certa forma acaba coincidindo alguns fatos com demais outras franquias que passaram por isso, como o ocorrido em Batman, quando o Cavaleiro das Trevas ressurge após um longo período desaparecido, fora de forma e destreinado, ou Missão Impossível, quando Ethan Hunt agora trabalha com uma grande e nova equipe, além de ter que lidar com os problemas da idade.
Um dos grandes fatores positivos da série é essa articulação de se transformar e se adaptar aos novos tempos e audiências, e essa característica mais realista dada ao personagem foi fundamental para isso. Desde o primeiro filme com Daniel Craig, o espião agora não é mais um galã invencível, ele é um homem de carne e osso que se machuca, sangra e sofre com o avançar da idade. Dessa vez Bond está destreinado, fora de forma (nem tanto assim) e sem resistência, que agora erra alvos e precisa de ajuda para cumprir missões. Bond se aproximou bastante de Ethan Hunt em Missão Impossível: Protocolo Fantasma (MI: Ghost Protocol, 2011), um herói que agora, mais velho, perdeu certas habilidades e comete erros. Essa proximidade entre esses dois personagens e aquilo que suas franquias se transformaram é exatamente o que os filmes de ação estavam precisando para quebrar um pouco os clichês e suas ordens, além de brincar um pouco com a realidade, assim como quando mostraram que Bruce Wayne sofre de artrose nos joelhos.
Por conta disso, essa questão idade X capacidade vem sendo recorrente nos últimos filmes, como uma forma de ironizar os diferentes tempos. Mas nesse filme isso se tornou mais enfático e é citado o tempo todo, seja de forma direta, ou indireta em piadinhas internas que confrontam o antigo com o novo, já que agora James Bond finalmente envelheceu e não tem mais as habilidades e reflexos de outrora, além de também estar tendo que lidar com as mudanças do mundo moderno e as substituições de sua equipe por outros mais novos, já que todos envelheceram junto com ele. Isso tudo é sentido desde a trilha sonora de Thomans Newman, que introduz o eletrônico em um trabalho que sempre foi mais clássico e tradicional, até nas próprias atuações de Daniel Craig e Judi Dench, que vira e mexe lancetam aquele olhar já cansado, de que o corpo não mais aguenta tanta demanda.
A direção de Sam Mendes também é algo à parte, e digamos que perfeccionista. Sem dúvida um acréscimo tão importante quanto o de Martin Campbell e Marc Forster nos dois filmes anteriores. Quem conhece os demais filmes do diretor já está familiarizado com a maneira sucinta como ele gosta de trabalhar. Os diálogos sem muitos cortes, a ausência de cenas e situações desnecessárias, sendo direto e focado dentro de tomadas longas e planos sempre amplos, nada muito fechado ou limitado, mas também nada muito ousado ou moderno demais, tudo dentro do meio termo esperado e que é fluido e coerente com todo o resto em duas horas de filme que passa sem ser notado.
Outro grande diferencial na série e também uma excelente novidade é que o filme não se desenvolve inteiramente em cenas de ação ou perseguições elaboradas como nos anteriores, dessa vez tudo parece ser mais simples, mas muito mais tenso, que cresce em um suspense um tanto inédito numa franquia baseada inteiramente na ação. Isso também é graças ao desenvolvimento bem construído de todas as tramas paralelas que se desenvolvem, além de obviamente incluir Javier Barden como o vilão. Ele faz Silva, um ex-agente 00 que alimenta profundos rancores de M e suas determinações que quase custaram sua vida.
O cinema voltou a produzir grandes vilões. Depois do Coronel Hans Landa, de Christopher Waltz em Bastardos Inglórios (Inglourious Basterds, 2009), os vilões passaram a ter uma maior profundidade psicológica e perversa dividida em diversas camadas numa sexualidade discutível. Silva é um híbrido de gentileza e monstruosidade tal qual o personagem de Christopher Waltz, ou de Guy Pearce em Os Infratores (Lawless, 2012), mas mesmo sendo parecidos esses personagens se diferem pelos tons e maneirismos desenvolvidos com naturalidade pelos atores, sendo assustadores por serem convincentes. Não é à toa que Javier Barden está fortemente cogitado ao Oscar de Coadjuvante, pois o vilão que ele desenvolveu é tão assustador quanto o que ele criou em Onde Os Fracos Não Tem Vez (No Country For Old Man, 2007).
CONCLUSÃO...
Em termos de ação, ainda considero Casino Royale um grande filme, mas Skyfall se provou o melhor de toda a franquia por ser uma junção de excelentes fatores positivos e que crescem incansavelmente durante todo o filme. Definitivamente a nova safra de filmes do espião tem melhorado a cada novo episódio e embora seja um gênero de ação fictício, esses elementos mais realistas tem humanizado o personagem cada vez mais, o que tem deixado Bond não apenas mais carismático, mas algo mais próximo do verdadeiro.

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