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sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

L'AMOUR TOUJOURS L'AMOUR

★★★★★★★★★☆
Título: Amor (Amour)
Ano: 2012
Gênero: Drama
Classificação: 16 anos
Direção: Michael Haneke
Elenco: Emmanuelle Riva, Jean-Louis Trintignant, Isabelle Huppert
País: Áustria, França, Alemanha
Duração: 127 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Anne e Georges é um casal idoso feliz, que vivem do amor, companheirismo e cumplicidade, mas que agora terão de lidar com dificuldades que colocarão esta relação de longa data a prova.
O QUE TENHO A DIZER...
O filme é dirigido e escrito por Michael Haneke. Embora seja um diretor alemão bastante ativo, é ultimamente mais lembrado por seu penúltimo filme, A Fita Branca (The White Ribbon, 2009), filme pelo qual concorreu ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2010, além de ter vencido diversos outros importantes prêmios por todo o mundo.
Até agora o filme não apenas tem sido bem recepcionado pela crítica como também pelo público, e foi um dos destaques no festival de Cannes, ganhando a Palma de Ouro.
Conta a história de Georges (Jean-Louis Trintignant) e Anne (Emmanuelle Riva), um casal francês de idosos que foram importantes professores de música nos anos 80. Eles vivem uma vida comum e feliz, baseada no amor construído pelas afinidades e no companheirismo de longa data. Porém, numa manhã, Anne sofre um acidente vascular cerebral devido ao entupimento de uma artéria. Por conta disso ela perde os movimentos do lado direito do corpo e ambos vêem suas vidas e decisões mudarem radicalmente. Tentando ultrapassar e romper os obstáculos das novas dificuldades, Georges está disposto a ir até suas últimas consequências dos limites físicos e psicológicos para manter Anne não apenas o mais próximo possível, mas viva, assim como a necessidade e o amor de um pelo outro.
Amor é um filme que, dentro de sua simplicidade, é ao mesmo tempo belo e triste, como o próprio título que carrega. Ele já começa num clima de leve angústia, e dessa forma ele se mantém até o fim reproduzindo as tristes naturezas da vida. O plural é adequado, já que ele é um conto sobre o envelhecer e a morte na forma mais verdadeira possível, cheio de simbolismos discretos e verdadeiros sobre a natural necessidade do ser humano pelo amor e companheirismo e da dependência que desenvolvemos uns aos outros até a triste hora da morte.
De alguma forma o filme me lembra de Baleias de Agosto (The Whales Of August, 1989), com Bette Davis e Lillian Gish, que trata do envelhecer e da vida metódica de duas irmãs que chegaram ao fim de sua tragetória, e nada mais resta para elas do que aguardar o triste momento da partida no companheirismo uma da outra, por maiores que fossem as diferenças entre ambas.
Haneke desenvolve o filme de maneira bastante lenta e pausada, preso dentro de um espaço e tempo, conseguindo transpor efetivamente a realidade de personagens dentro de suas limitações da idade, da força de vontade de viver e manter os laços da cumplicidade. Eles tentam correr contra (ou a favor) de um relógio biológico que não espera, e que inevitavelmente irá parar em um inesperado momento.
Numa ironia da vida, os próprios atores são aquilo que vivem e suas atuações extrapolam o limite entre a pessoa e o personagem. Emmanuelle Riva tem sido ovacionada pela crítica por sua interpretação, tanto que sua vaga para as finalistas ao Oscar é praticamente garantida, e não por menos. Sua atuação ultrapassa o convincente, sendo um retrato fidedigno de pessoas que vivem situações semelhantes numa doença cujas sequelas são extremamente limitantes, tanto para quem sofre, como para quem cuida. Sem dúvida sua atuação viceral é emocionante e sensível em todos os momentos e aspectos, dando um nó na garganta de como o ser humano, sim, é frágil e vulnerável. O mesmo a ser dito sobre Jean-Louis Trintignant, que volta a atuar depois de um hiato de sete anos. Seu personagem é exatamente o que Anne diz em um determinado momento do filme, às vezes um monstro, porém gentil, e ele vaga nessa personalidade contraditória magistralmente. As dificuldades físicas do ator não é uma atuação, mas ele as utiliza como um complemento e uma extensão dos sofrimentos que seu personagem passa, o que torna a experiência muito mais triste e sincera (atenção para a cena entre Georges e o pombo, que demorou dois dias e foi filmada 12 vezes).
O filme é construído de forma até bastante teatral, em um cenário que nunca sai dos limites do apartamento onde os protagonistas vivem, mostrando o dia a dia e a lenta degradação pela qual a situação de ambos os leva, dando pouco enfoque a momentos nostálgicos, já que eles causariam mais sofrimento além do sofrimento pelo qual já estão vivendo. Isso também alivia o espectador de cargas dramáticas desnecessárias e do melodrama cliché, sendo delicado nas abordagens e verdadeiro sem ser apelativo.
Enfim, um retrato triste, porém real, de um destino inevitável que todos nós estamos fadados, em menor ou maior grau.
CONCLUSÃO...
Um dos poucos filmes que mostram de forma bastante explícita e fidedigna a vida como de fato é no fim de sua tragetória, além da necessidade que temos do companheirismo e da dificuldade de aceitar o fim inesperado e inevitável. Por um momento o filme tenta surpreender em uma situação um tanto desnecessária ao chegar no seu ápice, podendo quebrar um pouco toda a delicadeza construída, transformando uma situação comum em um ato desesperado, mas mesmo assim ainda mantendo seu lado simbólico relevante. Lento e sem pressa, para que toda a situação seja sentida e absorvida, para que a vida tenha tempo de ser revista e repensada.

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