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sábado, 1 de dezembro de 2012

A FÓRMULA BOURNE...

★★★★★★★
Título: O Legado Bourne (The Bourne Legacy)
Ano: 2012
Gênero: Ação
Classificação: 14 anos
Direção: Tony Gilroy
Elenco: Jeremy Renner, Rachel Weisz, Edward Norton, Donna Murphy, Stacy Keach
País: Estados Unidos
Duração: 135 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Jason Bourne ainda vive, mas enquanto isso o agente Aaron Cross descobre que é mais uma peça de uma trama conspiratória e ele também está na mira da queima de arquivo.

O QUE TENHO A DIZER...
Baseado nos livros do escritor norte-americando Robert Ludlun, a Trilogia Bourne foi um grande sucesso tanto de crítica quando de público. Após a morte de Ludlun, em 2001, o escritor Eric Van Lustbader conseguiu permissão para dar continuidade à vida do personagem, publicando mais sete livros entre 2004 e 2012.

O primeiro filme da série, A Identidade Bourne (The Bourne Identity, 2002) foi dirigido por Doug Liman e roteiro de Tony Gilroy. O filme estrelava Matt Damon no papel do agente secreto em busca da sua identidade e Franka Potente como sua companheira Mary. Foi uma das maiores surpresas daquele ano, arrecadando mais de US$210 milhões no mundo, o que foi o suficiente para o estúdio dar sinal verde para a segunda parte.

A Supremacia Bourne (The Bourne Supremacy, 2004) deu continuidade na tragetória do ex-agente. Doug Liman saiu da direção para a produção executiva, dando lugar para o competente Paul Greengrass, o qual foi responsável por intensificar a linguagem dinâmica do filme, dando uma identidade mais forte e expressiva que no filme anterior. Tony Gilroy assinou novamente o roteiro, e o filme arrecadou mais de US$280 milhões no mundo.

A terceira e última parte, O Ultimato Bourne (The Bourne Ultimatum, 2007) fechou a trilogia com chave de ouro. Paul Greengrass continuou na direção, Doug Liman se manteve como produtor executivo e Tony Gilroy foi auxiliado por Scott Z. Burns e George Nolfi no roteiro. A última parte é considerada por muitos como o melhor filme da série. Embora os dois primeiros tenham feito muito sucesso nos cinemas, eles posteriormente viraram febre nas video locadoras, o que levou a última parte a arrecadar mais de US$440 milhões no mundo.

Negar que a Trilogia Bourne é excepcional chega a ser leviano. Foi uma das raras ocasiões no cinema comercial Hollywoodiano em que a qualidade da produção é inquestionável, bem como uma série coesa, sólida e coerente que, ao contrário de muitas outras franquias, não foi apenas ação pela ação.

Os personagens e a trama se desenvolveram em fatos e sequências que superavam seus próprios limites numa sucessão crescente e em um dinamismo de tirar o fôlego graças a edição em total sintonia com o estilo de filme que se propunha. Sem dúvida alguma o trio Greengrass, Liman e Gilroy conseguiram fazer da trilogia um dos melhores filmes de ação do cinema atual. Dizer isso não é exagero, já que houve uma mudança radical na forma como os filmes de ação posteriores a eles passaram a ser produzidos. Ou seja, a trilogia se tornou uma referência sólida numa época em que o cinema comercial perece de qualidade e boas idéias.

Na tentativa de retomar a série graças a onda de reboots que dominaram a indústria nos últimos anos, Tony Gilroy resolveu continuar o legado. O questionamento a princípio foi: como dar continuidade a uma trilogia que superou seus próprios limites?

A idéia parecia tão absurda que, ao ser questionado sobre isso, o diretor Paul Greengrass até brincou dizendo que o título do quarto filme deveria ser "A REDUNDÂNCIA BOURNE".

A princípio Gilroy queria manter Matt Damon, já que o autor Eric Van Lustbader deu continuidade à saga do personagem após a morte de Ludlun, rendendo até agora mais 7 livros. Damon achou melhor não voltar para a franquia, e por sua atuação ter sido bastante elogiada e a resistência dos fãs a sua substituição, o roteirista resolveu expandir o universo Bourne e, embora o titulo se refira ao primeiro livro de Eric Van Lustbader, o filme nada tem a ver com ele. Ao contrário disso, ele conta uma história paralela aos eventos do último filme.

O personagem principal agora é Aaron Cross, um agente da Operação Outcome, programa secreto científico de defesa que está fazendo testes bioquímicos em seus agentes para aumentar suas capacidades físicas e mentais. Porém, durante seu treinamento no Alaska, vem a tona os escândalos envolvendo os programas Blackbriar e Treadstone, revelados por Jason Bourne na última parte da Trilogia. Juntamente a isso, um vídeo comprometedor envolvendo uma relação próxima entre os chefes de pesquisa do programa Treadstone e Outcome vaza na internet. Com medo das pesquisas do programa Outcome serem descobertas durante as investigações sobre a Tredstone, o coronel da CIA Eric Byer (Edward Norton) decide apagar todas as evidências, começando pela eliminação de todos os agentes em treinamento. Aaron sobrevive a várias tentativas de assassinato, e no interesse de sobreviver, ele descobre que entrou de gaiato nos fatos conspiratórios envolvendo Jason Bourne.

A nova trama apresentada no roteiro de Gilroy (que agora também assina a direção) foi uma guinada interessante, já que os três primeiros filmes naturalmente deram gancho para que isso pudesse acontecer, já que Jason Bourne não era o único agente que participou de um programa secreto, bem como a Treadstone também não era o único programa existente. Bourne não aparece em nenhum momento, mas o personagem é citado diversas vezes.

A história se amarra bem com os filmes anteriores. Ao mesmo tempo que é uma continuação, consegue realmente ser um filme novo, mas não diferente. Jeremy Renner é competente ao dar essa continuidade ao legado de Bourne, mas a posição do seu personagem na história não tem uma conexão muito bem fundamentada entre sua situação e os acontecimentos revelados por Jason, o que faz sua fuga constante parecer meio superficial. Como o roteiro apresenta uma nova história, o desenvolvimento é mais lento tal qual o primeiro filme, dando mais atenção aos fatos do que em sequencias de ação bem arquitetadas, pra dar profundidade nos fatos e justificar as razões de tudo.

Claro que algumas cenas típicas de Jason Bourne são repetidas aqui, como as perseguições e o jeitão truculento de fugir pulando muro, arrebentando portas e pulando de janelas, exigindo ao máximo dos atores num dinamismo constante e bem editado feito por Greengrass no segundo e terceiro filme, mas não de maneira igualmente mirabolante. O interessante é que Aaron também tem uma forma diferente de lutar. Enquanto Jason tem um semblante mais fechado e era mais adestrado na hora de improvisar armas de luta (como usar livros, revistas e o que tivesse por perto, numa técnica de luta que realmente existe, o que deixava algumas cenas até mais empolgantes e engraçadas), Aaron é de um semblante mais sereno, mas que bate no oponente pra cair, sem muitos rodeios.

Jeremy Renner pode não ser um galã como Matt Damon, mas é um bom ator, e mais, competente quando se trata de um personagem que utiliza todas suas capacidades físicas tanto quanto Damon fez.

Quem já assistiu seus outros filmes de ação, como sua pequena porém relevante participação em Os Vingadores (The Avengers, 2012), ou até mesmo em Missão Impossível: Protocolo Fantasma (Mission: Impossible - Ghost Protocol, 2011), sabe que ele está muito bem preparado pra encabeçar a franquia. Sem contar que já está prometido que sua participação em Os Vingadores 2 será maior, além de Tom Cruise estar bastante motivado em passar a franquia de Missão Impossível para o ator, que também terá uma participação muito maior no quinto filme da série, ainda em planejamento.

Rachel Weisz também é igualmente boa e todo mundo já sabe disso, mas assim como no primeiro filme, temos uma personagem feminina apenas para o personagem ter com quem dividir suas cenas e criar inevitáveis clichés heroicos e sentimentais porque no fim das contas ela não é lá tão importante na história, entrando meio de sopetão e ajudando em coisas que o personagem tinha condições de encontrar outras maneiras pra se dar bem.

Sem dúvida Gilroy retoma uma fórmula que funciona e consegue fazer do filme um novo início mais discreto e menos esbanjador que os anteriores, mas que tem condições de evoluir pra algo bem interessante e tão grandioso quanto porque as possibilidades que foram abertas agora são infinitas, basta saber aproveitá-las.

Há uma grande expectativa de que as histórias de Aaron e Jason se cruzem no futuro ao ponto de os dois personagens trabalharem juntos, mas isso é incerto. Tão incerto quanto saber se a franquia realmente continuará nas mãos de Tony Gilroy.

CONCLUSÃO...
É uma expansão bem introduzida do universo Bourne, um filme menor e mais discreto que os anteriores, a princípio mais focado na história e no desenvolvimento, como que dar tempo pro expectador conhecer o novo herói e se acostumar com ele, o que funciona, mas deixar a desejar para os que assistirem esperando a metralhadora de cenas de ação que foram os dois últimos filmes dirigidos por Paul Greengrass. Para quem chegou até o Ultimato, não custa nada dar uma olhada no Legado. Uma história e personagens que tem possibilidades de crescer, como também poder se interagir com os acontecimentos dos filmes anteriores. Basta saber se a franquia vai realmente continuar.

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