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terça-feira, 23 de outubro de 2012

OLÁ, AMOR PLATÔNICO...

★★★★★★★
Título: Ruby Sparks: A Namorada Perfeita (Ruby Sparks)
Ano: 2012
Gênero: Comédia, Romance, Drama
Classificação: Livre
Direção: Jonathan Dayton, Valerie Faris
Elenco: Paul Dano, Zoe Kazan, Chris Messina, Elliott Gould, Annete Bening, Antonio Banderas
País: Estados Unidos
Duração: 104 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Um escritor em um bloqueio criativo, depois de ter sonhos com uma personagem, passa a escrever sobre ela com tanto entusiasmo que, apaixonado por sua própria criação, acreditando que ela pudesse amá-lo como ele imagina, se torna real.

O QUE TENHO A DIZER...
Ruby Sparks é dirigido por Jonathan Dayton e Valerie Faris, os mesmos diretores de Pequena Miss Sunshine (Little Miss Sunshine, 2006), e o roteiro é da própria atriz principal, Zoe Kazan, a qual vem de uma família importante na história do cinema de Hollywood. Seu avô era ninguém mais que Elia Kazan, diretor de títulos importantíssimos como A Luz É Para Todos (Gentleman's Agreement, 1947), Um Bonde Chamado Desejo (A Streetcar Named Desire, 1951), Viva Zapata! (1952) e Sindicato de Ladrões (On The Waterfront, 1954), para citar apenas alguns. Seus pais, Nicholas Kazan e Robin Swicord são roteiristas. Por acaso Zoe também é casada na vida real com o ator principal, Paul Dano, com o qual também tem um filho.

O filme começa com um jovem escritor renomado e genial, Calvin (Paul Dano), em um bloqueio criativo. Entre sessões com seu terapeuta, conversas com seu irmão e sonhos com uma estranha garota, sua criatividade volta à tona, criando o seu exemplo de mulher ideal e um amor platônico pela própria personagem. Aos poucos essa imaginação do escritor começa a materializar seus desejos e vontades, e Ruby (Zoe Kazan) se torna real. Porém, Ruby ainda é escrava daquilo que Calvin cria, e Calvin é escravo de seus próprios desejos, e ambos se encontram em uma confusão de vontades onde Ruby não saberá mais quem é, e Calvin não saberá mais qual será o fim da história.

O roteiro embora não seja adaptado e nem biográfico, carrega um pouco do mito de Pigmaleão, criado por Ovídio, em que Pigmaleão era um escultor que se apaixonou por uma de suas estátuas, e o amor se torna real porque a deusa Afrodite, sensibilizada, acaba dando vida a ela. Mas o filme fala mesmo de maneira bastante delicada a respeito de como não estamos prontos para lidar com os outros e, principalmente com o amor, sendo bastante sincero a respeito das pretensões que as pessoas acabam tendo com os sentimentos e as relações. Há um momento no filme em que Ruby diz que um casal deve ter suas vidas individuais, senão viram uma pessoa só. E é o que muitas vezes esquecemos, que o outro não nos pertence, e que o outro não deve existir apenas para nos satisfazer e realizar nossos desejos e fantasias, mas ser um complemento daquilo que não somos sem deixarmos de ser o que somos.

Essa mistura de ficção e realidade e do bloqueio criativo não é um assunto novo. Woody Allen já fez essa mistura de ficção e realidade no filme A Rosa Púrpura do Cairo (The Purple Rose Of Cairo, 1985), em que uma mulher se apaixona pelo personagem de um filme que se torna real. Woody voltou a misturar a ficção com realidade em Meia Noite Em Paris (Midgnight In Paris, 2011), quando um escritor em crise acaba reencontrando personagens reais e fictícios da história. Em 2006 o diretor Marc Forster e o roteirista Zach Helm também trabalharam com o mesmo tema na excelente comédia Mais Estranho Que A Ficção (Stranger Than Fiction, 2006), sobre um homem que descobre ser o personagem de um livro de uma escritora que tem como estilo matar seus personagens principais no fim.

Este filme se enquadra na pequena lista de ótimos filmes que trabalham nessa linha tênue entre a realidade e a fantasia, claro que de uma forma mais despretenciosa e em uma linguagem mais acessível, mas mesmo assim os méritos existem. Zoe Kazan consegue dar equilíbrio entre a comédia, o romance e o drama não apenas no roteiro como também na interpretação, e o mesmo pode ser dito sobre Paul Dano. A direção segue fiel aos elementos que fizeram de Miss Sunshine uma delicadeza de filme, o que novamente se encaixa perfeitamente nesta história simples, mas reflexiva sobre aquilo que queremos e esperamos das pessoas.

CONCLUSÃO...
Não é um filme genial e nem tão original, mas mesmo assim é bem feito e delicado, ponderado na sensibilidade ao refletir sobre nossas espectativas frente às outras pessoas, nossos egoísmos e pretensões.

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