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terça-feira, 23 de outubro de 2012

"JOGOS VORAZES" É UMA FARSA REVOLTANTE!

★★★★★★★
Título: Batalha Real (Batoru Rowaiaru)
Ano: 2000
Gênero: Ação, Aventura, Drama, Horror
Classificação: 16 anos.
Direção: Kinji Fukasaku
Elenco: Tatsuya Fujiwara, Aki Maeda, Taro Yamamoto, Takeshi Kitano, Chiaki Kuriyama
País: Japão
Duração: 114 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Um grupo de alunos de uma sala são escolhidos para enfrentarem uma batalha em uma ilha deserta onde apenas um deverá sobreviver, numa guerra onde os amigos se tornam inimigos e os inimigos não são perdoados.

O QUE TENHO A DIZER...
É muito engraçado comentar sobre esse filme depois de já ter comentado sobre Jogos Vorazes (The Hunger Games, 2012), porque no comentário que fiz sobre o filme americano, lembro que ainda achei interessante certa originalidade em trazer para a modernidade essa batalha similar à de gladiadores na Roma antiga.

Se eu tivesse assistido este filme japonês primeiro, hoje em dia meu comentário sobre Jogos Vorazes seria diferente, e eu diria simplesmente que o livro de Suzanne Collins (cujo roteiro adaptado também é dela) nada mais é que uma cópia descarada e mal feita de Batalha Real, uma encomenda arranjada.

É nessas horas que nós, pobres mortais ignorantes, nos damos conta do quanto somos sucetíveis a qualquer coisa, principalmente no que é produzido por norteamericanos. Pelo nosso contato com a cultura oriental ser praticamente nula, isso facilita sermos enganados por qualquer um que literalmente importe alguma idéia do outro lado do mundo, o que prova que podemos ser enganados por qualquer tolice. Já se diz há algum tempo que não existe mais originalidade, bem como nada se cria, tudo se copia. O grande valor se dá em quão capaz você é de fazer um cópia suficientemente boa para se dizer "parecida", porém diferente o bastante para não ter que pagar direitos da obra ou não ser processado por plágio.

Assim como Jogos Vorazes, Batalha Real também é baseado em um livro homônimo escrito pelo japonês Kaushun Takami. O livro ficou pronto em 1996, mas ele só foi originalmente publicado em 1999, diferente da "obra" de Collins, que foi publicada oito anos depois, ou seja, tempo suficiente que ela teve para estudar a obra de Takami e repaginá-la para dizer que é sua. Até o ano de 2000 o livro de Takami já havia vendido mais de 1 milhão de cópias apenas no Japão, sendo posteriormente traduzido em outras línguas, inclusive o inglês. No mesmo ano de seu lançamento, ele também recebeu uma adaptação em mangá e posteriormente para o cinema, se tornando também uma das maiores bilheterias do país, ficando entre os 10 filmes de maior arrecadação. O filme ganhou uma continuação, Batalha Real: Requiem (Battle Royale II: Requiem, 2003), porém o diretor Kinji Fukasaku morreu pouco tempo depois de iniciar as filmages, e o filme foi terminado por seu filho, Kenta Fukasaku.

Recebido com críticas mistas e muita controversa pelo público justamente por conta do seu tema e da violência explícita com menores de idade, por muito tempo correu o boato de que o filme havia sido banido dos Estados Unidos, o que é mentira. Sua distribuição foi constantemente adiada nos EUA por questões burocráticas da produtora japonesa detentora dos direitos e também por conta do mercado. Há também o boato de que houve um adiamento por conta do massacre de Columbine, já que o tema do filme relembrava bastante este episódio. A distribuição só foi ocorrer porque o filme esporadicamente aparecia nos circuitos de festivais norteamericanos, o que impulsionou a produtora Toei a vender os direitos de distribuição à Anchor Bay, a qual lançou oficialmente o filme em DVD e Blu-Ray em Março deste ano.

Para quem já assistiu  ou leu Jogos Vorazes infelizmente (ou muito felizmente) irá encontrar inúmeras similaridades que irão deixar os novos fãs dessa série de livros de Suzanne Collins um tanto decepcionados. E com razão, pois irão desmascarar que não há uma gota de originalidade em uma obra já tão pobre. A impressão que se tem é que Suzanne apenas traduziu para o ocidente a obra de Kaushun Takami, adicionando elementos mais popopulares e atuais da indústria midiática ocidental numa linguagem acessível e reduzida o suficiente para melhor assimilação do seu público alvo, os adolescentes e adultos jovens.

Mas ao contrário da fraca adaptação cinematográfica da pobre obra de Suzanne Collins, a adaptação de Batalha Real é muito mais madura e crua, como só os japoneses conseguem ser. Além de ser uma forte crítica ao estado totalitário, também critica as demais mudanças do comportamento social que vem acontecendo no Japão nas últimas décadas, um país o qual sua origem cultural é bastante rígida, baseada em preceitos milenares que colocam no topo da hierarquia social os mais velhos, grandes mentores da educação, da moral, dos costumes e da perpetuação da história. Há uma grande preocupação de que a cultura japonesa esteja sendo esquecida e cada vez mais banalizada por conta da facilidade de consumo da cultura descartável ocidental, além da inversão da pirâmide etária, na qual a população idosa está em uma queda inédita na história do país, dando lugar a uma população jovem mais atualizada e menos presa às correntes históricas.

O filme se passa em 1997, e começa com uma turma de estudantes do último ano do segundo grau sendo levados a uma ilha. Eles foram escolhidos dentre 50 turmas iguais de várias escolas, e todo ano uma dessas turmas é escolhida aleatoriamente. Nessa ilha isolada esses jovens são postos em um campo de batalha com uma mochila cada um, contendo suprimentos e uma arma qualquer para a sobrevivência básica. Dentre várias regras e penalidades eles são obrigados a duelarem entre si até apenas um sobreviver. Este "Programa", como é chamado, vem acontecendo desde 1947, sendo um projeto militar para aterrorizar a população e criar uma paranóia coletiva efetiva o bastante para que a população tenha suas atitudes e pensamentos contrários ao governo e a sociedade contidos de todas as formas, sendo uma maneira de também puní-la publicamente sobre seus atos. Este acontecimento anual se torna um evento explorado incansavelmente pela mídia, transformando o sobrevivente de cada ano em uma celebridade instantânea.

O filme é de uma brutalidade chocante, que consegue ser amenizado algumas vezes por conta do exagero clássico dos filmes japoneses nessa engraçada insanidade que eles desenvolvem. Algumas sequências são construídas numa linguagem de mangá, com personagens soltando frases de efeito em situações estáticas. O sangue jorra como água em mangueiras de jardim, tal qual Tarantino reproduziu e homenageou com exaustão em Kill Bill (2003/2004). Mas o clima tenso e desesperador é constante, e mesmo sem ler o livro é possível observar o nível de fidedignidade que o roteirista Kenta Fukasaku tenta manter na adaptação. Talvez o mais chocante do filme seja os dramas reais de cada personagem e como isso influencia suas escolhas, além de perder bastante tempo em mostrar o caos entre cada um deles. O filme peca um pouco na fotografia e numa trilha sonoroa que evidentemente aparece para tornar cenas mais apelativas, o que deixa mais constrangedor do que qualquer outra coisa, mas nem por isso os créditos são diminuídos, principalmente porque agora é possível saber que Jogos Vorazes é uma farsa.

Claro que sempre vai ter alguém que tentará provar o contrário, e mostrar até cinco grandes razões para haver diferença entre as duas obras, mas a realidade é que a essência é a mesma, e as similaridades superam as diferenças que deveriam existir. Além de que, eu também sou da seguinte opinião de que quanto mais você tenta provar o contrário para alguém, mais ela vai querer recusar o que você diz.

CONCLUSÃO...
Para quem ler a sinopse do filme, pode achar que copiei a sinopse do livro de Suzanne Collins por tanta similaridade com Jogos Vorazes. As similaridades são tantas que até o fim surpreende por ser tão parecido, e o engraçado é que grande parte das pessoas (assim como eu) ignoravam o fato de que, ao contrário do que pode parecia, Jogos Vorazes é uma obra com zero originalidade, o que transforma Batalha Real em uma grande obra cruel e adulta, tudo aquilo que Suzanne Collins fez questão de dimiuir pelo bem da cultura ocidental ditada pela mentalidade norteamericana.

Um comentário:

Anônimo disse...

Você escreveu muito bem eu assisti Batalha Real na madrugada e gostei muito como sempre os japoneses fazem filmes sem frescura e mostram a que vieram bem diferente dos filmes americanos (qua aliás gosto), mas muitas vezes pecam por ser tornarem didáticos e previsíveis.

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