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quinta-feira, 11 de outubro de 2012

É VERDADE... É MENTIRA...

★★★★★
Título: Sound Of My Voice
Ano: 2011
Gênero: Drama, Suspense, Ficção
Classificação: 14 anos
Direção: Zal Batmanglij
Elenco: Christopher Denham, Nicole Vicius, Brit Marling
País: Estados Unidos
Duração: 85 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Um casal de jornalistas resolve se infiltrar em um culto onde a líder afirma ter vindo do futuro, e coletar material suficiente para a produção de um documentário.
O QUE TENHO A DIZER...
É o primeiro filme dirigido por Zal Batmanglij, e também um dos dois primeiros escritos pela atriz/roteirista/produtora e amiga pessoal, Brit Marling. O filme ainda permanece inédito no Brasil (tanto em cinema quanto em home video), mas como sempre, isso hoje em dia não é mais um fator limitante pra quem se interessa por títulos que fogem do convencional, mas não encontram distribuidoras no país.
A biografia de Brit Marling é interessante. Ela é formada em economia e chegou a receber uma proposta de emprego na Goldman Sachs, uma grande firma de investimentos e seguros norteamericana, mas resolveu se dedicar a arte. Mudou-se para Los Angeles para investir na carreira de atriz e enquanto explorava e estudava a indústria cinematográfica acabou recebendo inúmeras propostas para ser estrela de filmes de terror adolescente. Cansada disso, resolveu fazer tudo a sua própria maneira e segurar as rédeas com as próprias mãos, escrevendo seus próprios filmes para que ela tivesse oportunidade de interpretar papéis melhores. Isso resultou em dois filmes: Sound Of My Voice e A Outra Terra (Another Earth, 2011), ambos filmados ao mesmo tempo. Durante o dia ela filmava A Outra Terra, e  a noite filmava Sound Of My Voice. Hoje, aos 29 anos, Brit Marling é um nome promissor, e o terceiro filme em que assina o roteiro, produz e atua (novamente em parceria com Zal Bamanglij na direção), chamado The East, está em fase de pósprodução, com um elenco que inclui nomes de peso como Alexander Sakrsgard (o Eric, de True Blood), Ellen Page (de Juno, 2007) e Julia Ormond (de Sete Dias Com Marilyn, 2011).
Seus dois primeiros filmes foram lançados simultaneamente no Festival de Sundance de 2011, o que gerou bastante comentário e ajudou Sound Of My Voice ser um hit no festival. Como de praxe, todo ano o público de Sundance elege sem muitos parâmetros um filme para ser cult, gerando comentários sobre algum título que nem precisa ser bom, mas que acaba despertando o interesse de muita gente. Igual acidente de carro: nunca é bom, mas o barulho faz todo mundo parar pra ver. E é exatamente o que acontece com este filme, que vem colhendo um sucesso de crítica discreto por conta dessa poeira erguida por este festival do ano passado e por outros como South by Southwest e Festival Internacional de Palm Springs.
Conta a história de um casal de jornalistas Lorna (Nicole Vicius) e Peter (Christopher Denham) que se infiltram em um culto para desmistificá-lo e usar isso como material para um documentário. O grupo se encontra secretamente em um porão para seguir uma líder, Maggie (Brit Marling), que afirma ter vindo do futuro para alertar os homens de seus próprios perigos e fracassos. Essa líder, que aparentemente sofre de algum tipo de doença, vive em um porão porque deve evitar o contato direto com o mundo externo e atual, diferente da época em que veio, o que a deixa mais vulnerável a contágios e infecções. Isso é o que ela diz. Por isso, a cada encontro, os membros do culto devem se higienizar por completo e usar roupas que um ajudante pessoal da líder dispõe. Para não ser encontrada facilmente e questionada pelas suas ações, esses membros também são levados até ela de mãos atadas e olhos vendados num processo que os impeçam saber o caminho. Maggie utiliza seus dons de persuasão para adquirir a confiança de todos e fazê-los acreditar que tudo que ela diz é verdadeiro e deve ser aceito sem questionamento. No decorrer dos dias Lorna desconfia que a líder seja perigosa, já que ela obriga Peter a levar uma criança até ela, afirmando que essa criança seja sua mãe. Lorna, então, é abordada por uma mulher que se apresenta como uma agente da CIA que investiga o paradeiro da "falsa" guru procurada por encabeçar um grupo criminoso, e que o que ela está fazendo é recrutando um novo grupo para um futuro golpe.

Tudo começa de maneira interessante e naquele estilo de filmagem já comum nos filmes independentes da construção de uma experiência próxima e pessoal, revelando aos poucos fatos e situações para que essa dúvida seja transformada em mistério e mantida até o final. Apesar de deixar a história suspensa por todo o tempo, é difícil classificá-lo em um gênero. Pode ser um drama, já que lida com relações pessoais, questionando o tempo todo o poder de persuasão, a confiança e a esperança que as pessoas alimentam e desenvolvem, além da necessidade que algumas sentem em serem lideradas e guiadas para amenizarem suas confusões e falta de perspectivas. Brit Marling e Zal Batmanglij também disseram que o filme é uma ficção científica, já que ele lida com a possibilidade da viagem no tempo e o confronto entre fé e ciência, mas ao mesmo tempo ele também é um suspense, já que tudo que é mostrado também é duvidoso.
É dividido em partes sem lógica alguma. Parece que, a princípio, ele foi rodado para ser veiculado na internet em pequenos episódios, mas a Fox Searchlight resolveu juntar tudo em uma coisa só ao comprar os direitos. É bem atuado e algumas vezes consegue ser convincente. O grande trunfo do filme é dar a possibilidade da livre interpretação, seja vendo pelo lado de que tudo é uma fraude, seja vendo pelo lado de que tudo seja real. Mas para quem prestar bastante atenção perceberá que tudo tende a converger para uma farsa, e que a guru realmente é uma criminosa que meticulosamente pretende recrutar pessoas através da confiança e da persuação para um provavel golpe criminoso. Por isso que algumas cenas que podem parecer não fazer sentido no começo, mas farão no final.

O grande problema que acaba atrapalhando bastante é a quantidade de informações que levam a lugar nenhum, deixando muitas perguntas sem respostas por conta de pistas falsas e situações sem contexto. Poderia ter sido um excelente episódio piloto de um seriado se ele não fosse um filme, e poderia ter sido um excelente filme se não fosse tão redundante. De qualquer forma é um trabalho independente e interessante para ser assistido dessa forma e pelos esforços dos roteiristas de manter tudo numa linha segura entre a dúvida e a certeza, mas não é algo digno de ter recebido tanta atenção em um festival como o de Sundance, e não é um filme que sobreviverá sozinho por muito tempo até mesmo entre o público mais alternativo.
CONCLUSÃO...
É um filme independente, estranho e interessante, mas nada que surpreenda. Apenas ergue alguns questionamentos e inúmeras dúvidas que dão liberdade de interpretação, mas que no fim não concluem nada e nem ajudam a concluir coisa alguma. Por ser um filme relativamente curto, não cansa, terminando na hora certa.

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