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segunda-feira, 8 de outubro de 2012

TODO RELACIONAMENTO É IGUAL...

★★★★★★★
Título: Entre O Amor E A Paixão (Take This Waltz)
Ano: 2011
Gênero: Comédia, Romance, Drama
Classificação: 14 anos
Direção: Sarah Polley
Elenco: Michelle Williams, Seth Rogen, Luke Kirby, Sarah Silverman
País: Canadá, Espanha, Japão
Duração: 116 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Sobre uma mulher conturbada entre satisfazer suas vontades dentro de um casamento estagnado e até feliz, mas que sobrevive apenas pelo companheirismo e amizade. Tudo muda quando ela conhece e se apaixona pelo seu vizinho, mas por respeito ao seu marido e ao casamento de 5 anos, ela opta por limitar e adiar essa relação até as últimas conseqüencias.

O QUE TENHO A DIZER...
É o segundo filme dirigido, escrito e produzido pela também atriz canadense Sarah Polley. Seu filme anterior, Longe Dela (Away From Her, 2006), foi uma história delicada e extremamente esclarecedora a respeito de um homem que todo dia tenta manter viva as lembranças de sua mulher com Alzheimer e se encontra na difícil situação de reconquistá-la novamente quando a doença avança ao ponto dela não reconhecer mais quem é ele. O filme merecidamente recebeu duas indicações ao Oscar, de Melhor Roteiro Adaptado para Sarah Polley, e Melhor Atriz para Julie Christie. De lá pra cá Sarah trabalhou mais como atriz em filmes pequenos e seriados de televisão. Sarah é um tipo de artista que prefere esses tipos de trabalhos mais modestos e parece não se importar muito com fama e sucesso, talvez essa seja a razão dela ser tão respeitada e ter conquistado uma grande legião de fãs.

Entre O Amor e a Paixão é uma comédia romântica e dramática bastante sincera e honesta que discute com leveza as dificuldades da rotina de um casamento, além das transformações e consequências que essa relação sofre ao longo do tempo. Sarah coloca o sexo como a situação limítrofe dessa discussão e a perda da atração física e sexual que é substituída pelo companheirismo e amizade ao longo do tempo, onde pouco a pouco a relação intensa, de extrema intimidade e conexão, passa a ser ocupada por uma conveniência do dia a dia, como um costume e dependência.

Assim como seu filme anterior, a narrativa novamente é linear e lenta, nos dando uma noção bastante real de passagem de tempo e da condição rotineira dos personagens Margot (Michelle Williams) e Lou (Seth Rogen). Tudo muda quando Daniel (Luke Kirby) a conhece em um avião e ambos ficam encantados com a habilidade de satisfazer um ao outro com tão pouco. A vida de Margot estava tão comum que ela nunca percebeu que Daniel, por coincidência, também é seu novo vizinho que mora do outro lado da rua.

Os encontros entre ela e o vizinho, que a princípio ocorrem por coincidências da rotina de ambos, passa a ser algo proposital e regular. Sem querer os dois se veem apaixonados um pelo outro, numa relação amorosa baseada apenas em desejos e expectativas criadas pelas conversas, passeios e contatos sexuais imaginários, já que, para Margot, a traição só existiria a partir do momento que esse limite fosse ultrapassado. Até então, para ela, a situação platônica de ambos era apenas uma coisa nova em sua vida e que lhe desse novos estímulos em seu casamento. Para Daniel o sofrimento é maior, pois ele respeita a vontade de Margot, e a impossibilidade de tê-la da maneira como ele quer e imagina o deixa cada vez mais frustrado e deprimido.

Margot não consegue tirar o seu casamento da zona de conforto que se estagnou e quer desesperadamente novas sensações que reacendam a empolgação de uma paixão que nela se apagou há muito tempo. Em uma situação extrema e desesperada ela finalmente vê em Daniel a oportunidade de se satisfazer por completo com novas experiências amorosas e sexuais, cheia de amizade e companheirismo, e tudo aquilo q ela não tem mais com seu marido, mas não consegue se entregar por estar presa a uma conveniência chamada casamento, o que a bloqueia e a deixa em um meio termo que a apavora. Daniel, cansado da obsessão de querer algo que nunca poderá ter, faz uma escolha necessária para que ele consiga tocar sua vida pra frente. Margot se desespera com a perda de Daniel e Lou descobre os desejos ocultos de sua mulher e compreende tudo aquilo como uma verdadeira traição e o fim da relação é inevitável para os dois.

A maneira como a diretora e roteirista mostra a diferente situação de Margot com cada um deles talvez seja o ponto mais alto do roteiro, pois ela questiona o tempo todo o que é de fato a infidelidade. É o contato ou a presença? O sexo ou o pensamento? A realização ou a vontade? Portanto esse conflito real é discutido o tempo todo através das atitudes da personagem principal, e o roteiro pontua com bastante exatidão esse paradoxo da sexualidade e do sentimento, da emoção e da racionalidade. Para Sarah Polley a infidelidade se caracteriza muito mais pelo sentimento do que por uma simples satisfação sexual e isso fica evidente quando Lou finalmente descobre o desejo alimentado por sua mulher, os sonhos, as vontades e o pensamento constante de Margot em Daniel, significando uma situação muito mais frustrante para ele do que se tivesse sido uma mera realização sexual, o contrário do que Margot pensava.

É um filme que poderia ser denso se não tivesse alguns fatores que aliviassem isso, como os núcleos cômicos, o figurino e fotografia que exageram nas estampas, nas cores quentes e alegres, e na leveza com que a temática é conduzida. Michelle Williams tem se especializado em personagens que sofrem de depressões amorosas crônicas desde o seriado Dawson's Creek, e para quem também já está familiarizado com esses tipos em seus filmes anteriores, como em O Segredo de Brokeback Mountain (Brokeback Mountain, 2005) e Namorados Para Sempre (Blue Valentine, 2010), não vai encontrar nesse filme uma interpretação muito diferente. Existe aqui uma tentativa da personagem ser um pouco mais cômica, mas a atriz não consegue variar muito bem entre esses dois estilos conforme o roteiro exige, o que muitas vezes passa a ligeira impressão de uma mera reprise dos papéis anteriores que ela já interpretou, já que aquele semblante depressivo, inchado e corado de quem vai cair no choro a qualquer momento é o mesmo. Michelle é uma atriz carismática, mas está longe de conseguir ser engraçada, mas nada disso diminui sua competência, só aparenta estar deslocada. Seth Rogen, que é muito mais um comediante do que um ator dramático (e muitas vezes irritante em alguns papéis por exagerar no pastelão) consegue dar variações muito melhores e mais eficientes do que ela dentro do contexto do filme.

Algumas sequencias banais e desnecessárias, como o exagero de cenas de nudez, de intimidade das personagens e algumas de sexo, acabam não tendo muito valor além da tentativa da diretora de soar realista e rotineira de uma forma que não se encaixa. As cenas chocam sem motivo, e também assustam porque aparece em momentos inesperados. Por ser mais um filme de desenvolvimento lento, muita gente pode não gostar ou não entender, mas por outro lado deveria estar na lista de filmes obrigatórios para casais que não sabem por onde começar uma discussão sobre o tema que ele propõe, e também para os casais seguros que já sabem que o amor, o companheirismo e a amizade são muito mais importantes do que qualquer nova aventura que não leva a lugar algum além da satisfação de vontades e prazeres que acabam com o tempo. O fato é que a acomodação e a rotina são inevitáveis, e todo relacionamento tende a esfriar com o tempo e se manter num platô seguro. A sequencia final do filme mostra exatamente isso, e por sinal é uma das sequências mais belas, poéticas e certeiras do filme, que mostra como o amor é bonito, mas confuso.

CONCLUSÃO...
Um filme tipicamente feminino, que lida muito mais com as emoções do que os prazeres imediatos, questionando muito o significado da infidelidade. Ele se perde um pouco com algumas sequencias desnecessárias, e o desenvolvimento lento pode deixar a desejar para alguns, mas a importância do tema se encaixa para qualquer pessoa que goste de filmes que se embasam em discussões simples e contraditórias. De qualquer forma, querendo ou não é um filme fácil de se identificar porque são situações que se repetem com todos porque todo relacionamento é igual, a diferença está na maneira como as pessoas conduzem.

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