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terça-feira, 16 de outubro de 2012

NINGUÉM SABE O QUE FAZER COM ELA, NEM O ROTEIRISTA...

★★★★
Título: Excision
Ano: 2012
Gênero: Drama, Comédia, Horror
Classificação: 16 anos
Direção: Richard Bates Jr.
Elenco: AnnaLynne McCord, Traci Lords, Roger Bart
País: Estados Unidos
Duração: 81 minutos

SOBRE O QUE É O FILME?
Sobre uma adolescente problemática que sofre de delírios e alucinações, e tem a obsessão de se tornar médica.

O QUE TENHO A DIZER...
Excision é o primeiro filme escrito e dirigido por Richard Bates Jr., estrelado por AnnaLynne McCord (a patricinha Naomi Clark, na nova versão do seriado 90210), Tracy Lords e Robert Bart (o George, de Desperate Housewives). Claro que o filme fez parte da seleção especial do Festival de Sundance desse ano, já que é aquele típico filme contraditório que o público desse festival adora, tal qual o filme Sound Of My Voice no ano passado, do qual comentei dois posts atrás. Então quem já conhece esse público que adora cultuar um filme vago sem muitas razões, já poderá imaginar como é este filme.

Ainda é inédito no país e está um pouco popular pela internet. Ao contrário de como o filme vem sendo promovido ou mostrado em websites de compartilhamento de vídeos ou que falam de cinema, o filme não é de terror. Ele é um horror psicodramático com pitadas de humor negro. Complexo, não? Pois você ainda não viu como é a personagem principal...

Pauline é uma adolescente problemática que sofre de delírios e alucinações bizarras e necrófilas, com uma inteligência acima da média. Ela tem comportamentos antissociais e fortes desvios de conduta, o que a faz agir com ofensa, descaso, agressividade e desobediência com outras pessoas, incluindo familiares, exceto sua irmã mais nova e seu pai, já que eles não apresentam nenhuma ameaça. O contrário do que acontece com a mãe, com a qual tem um relacionamento difícil, já que a todo momento tenta podar ou punir Pauline por conta de seus comportamentos subversivos. Por ter sonhos bizarros e frequentes, Pauline desenvolve um quadro perverso e psicótico do qual ela não tem mais controle, além de sua crescente obsessão em se tornar médica para transformar esses sonhos em realidade. A garota não se enquadra em nenhum grupo social, sendo excluída e taxada de "estranha" e "esquisita", mas ela não liga por ser egocêntrica e considerar todas as demais pessoas inferiores. Sua mãe sabe que ela sofre de problemas que podem ser uma ameaça, mas não sabe lidar com a situação, tentando trazer Pauline mais próxima à família e a sociedade de acordo com aquilo que ela vivencia no dia a dia da sociedade, matriculando-a em um curso de etiqueta e levando-a regularmente a um padre conselheiro. Todas essas obrigações e regras faz Pauline detestar sua mãe cada vez mais, e a distância entre elas aumenta.

É um filme tenso, desconfortável, lento e com um final que choca, mas que não deixa esclarecido os motivos da personagem sofrer de tantos problemas psiquiátricos. AnnaLynne McCord desempenha um bom pape e é convincente, embora muitas vezes caricata. Mas quando essa caricatura é deixada de lado, chega a representar uma figura até assustadora, completamente diferente da patricinha manipuladora que ela interpreta em 90210.

O grande problema mesmo é o roteiro, que peca no excesso de embasamento clínico e na falta de objetividade. O roteirista e diretor utiliza inúmeras características de diversas condições psiquiátricas apenas para dar uma exagerada complexidade na personagem e fazer o espectador mais leigo se impressionar fácil, fugindo bastante de uma realidade clínica para aqueles que tem uma visão mais conscientizada dos diversos disturbios existentes. É fato que um doente psiquiátrico normalmente tem um distúrbio principal e que pode desencadear outros, mas no caso dela tudo acontece ao mesmo tempo, num exagero absurdo apenas para justificar o comportamento e a atitude final da personagem, e concluir que ela é uma vítima dela mesma. Tudo acontece de forma gratuita porque não há um aprofundamento a uma condição específica ou a fatores sociais que justificassem a personagem ser tão perturbada em níveis tão graves, ou seja, dá a sensação de que ela nasceu assim, cresceu assim e é assim por que é o que tem que ser.

Durante o filme a personagem diz que sofre de personalidade limítrofe (ou borderline), mas das duas uma: ou ela tirou um sarro (porque perto de tudo que ela sofre um transtorno borderline se torna simples), ou o próprio roteirista não sabia o que estava falando (o que eu acho mais provável).

De qualquer forma, algumas das características de um socipata, um psicótico, um perverso e até mesmo um esquizofrênico estão no filme, fora outras condições. As cenas que representam seus delírios chegam até a ter a intenção de uma beleza surreal, mas não acrescentam muita coisa na história. Coitada da personagem que sofre de tudo o que sofre. Não é à toa que ela é toda errada na história e ninguém sabe o que fazer com ela, nem o roteirista.

CONCLUSÃO...
Podia ter sido um filme bom se tivesse se limitado a uma condição psiquiátrica específica, mas ao invés disso o roteirista e diretor preferiu encher a personagem de problemas e dar pouco fundamento para a existência deles. Embora as cenas de delírio da personagem sejam carregadas em sangue, não é um filme de horror como aparenta, embora o final acabe sendo chocante. Pontos para a atriz, que no meio de uma personagem carregada de problemas e contradições, conseguiu dar conta do recado. Um filme feito mais pra impressionar do que qualquer outra coisa. Esquecível, e até mesmo dispensável.

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