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domingo, 28 de junho de 2020

CATIVANTE E HONESTO...

★★★★★★★☆
Título: Eurovision: A Saga de Sigrit e Lars (Eurovision: The Story Of Fire Saga)
Ano: 2020
Gênero: Comédia
Classificação: 10 anos
Direção: David Dobkin
Elenco: Will Farrel, Rachel McAdams, Dan Stevens, Pierce Brosnan
País: Estados Unidos
Duração: 123 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
A saga de Sigrit e Lars para chegarem ao maior festival de música da Europa, o famoso e excêntrico Eurovision.

O QUE TENHO A DIZER...
Eurovision é o maior e mais famoso festival de música europeu que existe. É uma competição musical que anualmente reúne todas as nações européias para os países participantes escolherem uma nacionalidade para representar o continente.

É um evento popular que obviamente mescla talento com exageros performáticos que agregam culturas e caracteristicas nacionalistas que já revelaram inúmeros artistas talentosos e bastante excêntricos quando comparados com os padrões da indústria pop do extremo ocidental. É um evento ultrapop por excelência que, aos olhos estrangeiros, pode parecer antiquado e cômico, porém levado a sério por lá ao trazer consigo a importância de pequenas nações terem seu momento de reconhecimento e destaque por meios que tradicionalmente não teriam com facilidade.

A Eurovision é um evento agregador que promove culturas nacionais, incentiva reconhecimento de nações, promove o turismo, a irmandade, a paz, e festeja a cultura de maneira democrática e emocionante.

E é válido dizer que esse é um projeto pessoal de Will Farrel. O ator e comediante foi apresentado a este festival de música em 2009 pela sua mulher, que é finlandesa, por isso a história parte daquele país. Desde então é apaixonado pelo evento, não perdendo uma edição.

O roteiro, escrito por ele e Andrew Steele, começou a ser desenvolvido em 2017. Foi nesse ano que Farrel conseguiu ter acesso irrestrito aos bastidores para o laboratório que o levaria a colocar no filme, de maneira satírica, muito das experiências que absorveu.

O interessante é que Farrel conseguiu criar uma biografia fictícia que, a princípio, até parece não ser, tamanha a autenticidade com que ele, bem como Rachel McAdams, interpretam o casal de heróis da história. Uma autenticidade que carrega todos os elementos necessários para serem verdadeiros concorrentes do concurso musical.

Essa dúvida cai por terra exatamente pelos exageros das situações, anacronismos e confusões temporais, mas que passam batidos frente a todo o espetáculo constrangedor que Lars faz questão de colocar a dupla a todo momento.

Farrel é um ator, roteirista e produtor que adora lidar com a comédia de absurdos, e aqui ele se sente bastante confortável numa química até surpreendente com a versatilidade de McAdams, que constrói a personagem Sigrit de maneira tão convincente quanto ele.

É uma sátira, com pitadas de paródia, mas respeitosa o suficiente para ser considerada uma homenagem tal qual o ator e roteirista assim desejou. Um musical que tem uma essência interessante, que inclusive até quebra determinados padrões do gênero ao fazer essa jornada da dupla Fire Saga, em buscar um sonho e nada mais, usar esquetes musicais como elementos empolgantes mais do que dispersivos ou entediantes, agradando até mesmo aqueles que não gostam do estilo.

Uma pena que as piadas ou situações cômicas sejam frequentemente esticadas além do necessário fazendo do filme algo mais longo do que poderia, e o egocentrismo megalomaníaco de Lars acaba testando também a paciência do espectador, fazendo o personagem cair no perigo maior da comédia constrangedora, a de a todo momento se tornar vítima de suas próprias ações sem muita necessidade, se desconectando fácil e constantemente da empatia que ora consegue desenvolver, num puxa-e-empurra exaustivo.

E são nesses momentos que o roteiro tropeça, e quanto mais o personagem se esforça para querer provar seu mérito, mais ele sai ofuscado, e no fim é McAdams e sua personagem quem roubam as cenas, a empatia, e a torcida pelo sucesso, e o filme como um todo. Talvez tenha sido uma construção proposital, e a hilária - e ao mesmo tempo assustadora - cena do echarpe ser a metáfora resumida disso tudo, de Sigrit ser constantemente arremessada para trás toda vez que tenta se distanciar da obsessão inconsequente de seu parceiro. É uma pitada dramática que poderia ter sido bem explorada, mas que só vai ficar clara perto do fim, dando a sensação de uma reviravolta repentina pela mera obrigação de se ter o conflito dramático que se oponha à comédia.

Apesar dos tropeços dessa imprecisão de momentos que se opõem, a Saga de Sigrit e Lars é bastante familiar, leve e até comovente pela humanidade que ambos conseguem dar aos seus respectivos papéis, e que funciona na sua despretenção. Um filme estranho, com personagens esquisitos e cativantes, que no fundo traz uma mensagem que até pareça cafona e clichê, mas honesta e reconfortante.

E assim deve ser assistido, sem muitas expectativas, e sem muita exigência. E dessa forma a dupla conquista.

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